CANNES 2007: OS PRESIDENTES
DIA 1
Durante a viagem de avião até Nice, — que curiosamente vinha cheio de portugueses, entre distribuidores, jornalistas e directores de festivais —, tentei planear o meu primeiro dia de Festival de Cannes. Haveria ou não hoje a possibilidade de poder visionar The Blueberry Nights, de Wong Kar-way numa sessão especial para a imprensa e assim fazer já um comentário para a Rádio Europa 90.4 fm e uma nota aqui no site? Normalmente o Festival porporciona-nos uma sessão ao fim da tarde do dia anterior à abertura, como aconteceu o ano passado com O Código da Vinci, e que ajuda a adiantar trabalho. Afinal a projecção de imprensa fica para amanhã às 10h, como estava previsto e um pouco mais tarde que o habitual, num programa intenso que começa todos os dias às 8h30 da manhã. De qualquer modo foi um dia cansativo com as tarefas normais de instalação (ir buscar a acreditação, fazer algumas compras no supermercado, comprar as revistas e jornais do dia, desfazer a mala, etc.) para esta longa jornada de 12 dias. Por enquanto e sem filmes para ver, ainda está tudo com um ar de inicio de Festa, tanto ao longo da Croisette, como nos espaços onde se realizam as projecções. A grande notícia é para já a passagem de testemunho do ‘velho’ e elegante presidente Jacques Chirac, — que se assemelha às vezes um pouco com Alain Delon — para um estilo mais rude, à Al Pacino, do novo presidente Nicolas Sarkozy. Por coincidência ou não esta passagem de poder em França, coincide com a mediática abertura do 60º Festival de Cannes, este ano muito chic e glamourosa, com um filme protagonizado por Nora Jones, a grande diva do jazz, por Jude Law e Natalie Portman. Apesar dos estilos cinematográficos dos 'presidentes', o acontecimento político aparentemente não tem grande ligação com o cinema. Mas se pensarmos no percurso político que levou Sarkozy ao poder desde que se fez notado como delfim de Chirac, passando a seu adversário politico, até a este momento crucial da passagem de poder no Eliseu e as suas fortes ligações com os grandes patrões dos media, isso sim já tem algo de cinematografico. O argumento em si, embora seja um clássico é digno de uma tragédia shakespeariana, onde simbólicamente um filho mata o pai para lhe conquistar o poder. No meio de tantos enredos e histórias, vai começar amanhã o Festival dos Festivais. Pelo menos por aqui, nem nos jornais, nem na televisão não nos massacram, e nisso os franceses são exemplares, com o sensacionalismo das notícias à volta das investigações sobre o desaparecimento da pequena Madelene no Algarve, que tem estado na ordem do dia aí em Portugal. O cinema vem aí vamos ter finalmente, esperemos, lugar para a evasão.
1 Comments:
Aguardamos então por todas essas considerações que começam já amanhã. E que o blog possibilite tanto quanto possivel a transmissão dessa magia que deve ser viver um Festival como o do Cannes. Para já, a primeira impressão sobre 'My Blueberry Nights' está certamente na ordem do dia.
Será que o filme tem mesmo pernas para andar?
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