Thank You For Smoking
O anúncio foi já feito há alguns dias, e impõe-se que seja devidamente discutido pela comunidade cinéfila que visita este blog. O tema será, quiçá, ainda mais delicado do que o dos intervalos. No tópico sobre a pausa a meio do filme, o resultado saldou-se por uma esmagadora recusa em aceitar essa prática. Aqui, receio que seja mais difícil reunir uma opinião tão consensual.
Isto porque o assunto tem a ver com a prevista alteração do sistema de avaliação dos filmes, levado a cabo pela MPAA. No fim da passada semana, um comunicado desta instituição anunciava que um painel responsável pela apreciação dos filmes saídos de Hollywood irá ter a tarefa de ajuizar uma obra, tendo em conta os momentos em que o acto de fumar está presente. Com efeito, serão avaliadas “ilustrações que embelezem o acto de fumar, ou filmes que manifestem estas práticas de forma ostensiva, fora de um contexto histórico ou outro justificativo”.
Até agora, os únicos elementos que entravam nas contas destas classificações eram a violência, a linguagem, a nudez, e as drogas. Noutro comunicado, Dan Glickman, presidente da MPAA, defendeu esta medida, oferecendo a perspectiva parental de que nenhum pai ou mãe gostaria de ver o hábito de fumar, um assumido problema de saúde pública, ser despoletado por qualquer filme. Em última instância, este novo sistema de avaliação pode ser encarado como um outro modo de comunicar os títulos que devem estar fora do alcance das crianças e adolescentes.
Ora, isto talvez possa ser um pouco polémico. Até que ponto será possível operacionalizar o conceito de fumar fora de contexto? Muito teria a dizer sobre isto Humphrey Bogart. Talvez metade dos filmes em que participou recebesse hoje outra classificação. Mas, como medida preventiva, não fará sentido esta decisão? A resposta não é fácil. Agora, o mais importante mesmo é saber se, apenas para escapar a classificações mais intransigentes, deixaremos de ver posters como este?
Quem deve estar a esfregar as mãos de contente é Jeoffrey Wigand, o homem que viveu os acontecimentos levados ao grande ecrã por Michael Mann, no belíssimo O Informador (1999). Para além da convicção latente no filme, se bem se recordam, Wigand exigiu que não existisse qualquer fumador durante a película. Hoje, esse desejo parece mais suspeito. Estará, também ele, por detrás desta decisão? Por outro lado, talvez isso já seja entrar no domínio da conspiração.
Alvy Singer
2 Comments:
Isto já é puritanismo autêntico. O que seria de Citizen Kane, The Maltese Falcon ou Double Indemnity sem a imagem do cigarro??... Bogart daria voltas no túmulo se soubesse disto!
Daqui a pouco aparecem fundamentalistas a querer remasterizar os clássicos, retirando-lhes a imagem dos cigarros.. e daí passam prá bebida, pró jogo de casino e não tarda nada dizem que o sexo faz mal..
Eles que se deixem de tretas. Não fumo, nunca fumei, mas fumar é um prazer da vida. E nos filmes, dá classe. Não é um cigarro nos filmes que incentiva os jovens a fumar, nem porventura a ausência deles que o evita.
Não é nada assim tão dramático, e aceita-se facilmente esta decisão. Agora, não devem existir fundamentalismos. A partir de que idade é que fará então sentido ver o Boa Noite e Boa Sorte, uma história cujos valores se levantam bem mais alto do que o fumo de qualquer cigarro? Compreendem-se estas alterações, desde que feitas com moderação.
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