A cantar é que a gente se entende.
Antigamente, a categoria de Melhor Canção Original costumava prender-nos à cadeira. Em tempos idos, chegávamos inclusivamente a conhecer as canções nomeadas antes da cerimónia. Marcas de uma Era em que a indústria da música ainda não se tinha deparado com esse fenómeno que dá pelo nome de iTunes, e em que o single de uma banda sonora podia ser um hit nas tabelas. Actualmente, as coisas não são bem assim. A última música a vencer um Oscar e a chegar ao topo da Billboard foi Lose Yourself (8 Mile), de Eminem. Esteve doze semanas como número um. Em 1984, por exemplo, todas as canções nomeadas – I Just Called to Say I Love You (Stevie Wonder), Ghostbusters (Ray Parker Jr.), Against All Odds (Phil Collins), Footloose (Kenny Loggins e Dean Pitchford), e Let’s Hear it For the Boy (Tom Snow e Dean Pitchford) – estiveram pelo menos duas semanas no topo da Billboard. Hoje, a realidade é outra. Poucas são as músicas originais presentes num filme que chegam à rádio. A esmagadora maioria dos consumidores opta por fazer o download, e a coisa fica por aí. Robert Kraft, presidente da Fox Music afirma, I spend my whole life looking for the next 'Moon River. Audiences associate that it's the song from Breakfast at Tiffany's; it's organic to the film because Audrey Hepburn sings it on the balcony. It's not just a song anymore, it's the film's melody. If I crowbar a song in a movie, then the audience will smell a rat.
Este ano não é excepção, e o casamento entre Academia e audiência promete não ser amistoso. Logo à partida, algo não pode estar bem quando 11 das 49 canções elegíveis pertencem a High School Musical 3. 11 em 49? Parece-nos excessivo. Nem que seja por uma questão de bom senso. No entanto, o que mais ressalta à vista é a tentativa vã da Academia seguir a corrente mainstream, procurando nomear canções mais por quem lhes dá voz, do que pela melodia em si. O velho fugir para a frente. Daí que se fale tanto em Once in a Lifetime (Beyoncé Knowles, em Cadillac Records), I Tought I Lost You (Miley Cyrus e John Travolta, em Bolt) e Another Way to Die (Alicia Keys, em Quantum of Solace). A verdade é que para já, esta categoria é uma confusão. E, ou muito nos enganamos, ou muito cinéfilo que seguirá a cerimónia em casa pela televisão, planeará aproveitar a entrega deste galardão para ir à casa de banho. E, a culpa é toda da sétima arte, que ainda não aprendeu a conviver com os novos parâmetros que, hoje em dia, regem a indústria da música. Para já, ficamos a aguardar a lista definitiva dos nomeados. Para além dos citados, Gran Torino (Clint Eastwood, em Gran Torino), Down to Earth (Peter Gabriel e Thomas Newman, em Wall-E), e The Wrestler (Bruce Springsteen, em The Wrestler) são aquelas que parecem ter mais hipóteses. As nossas favoritas: Jai Ho (Slumdog Millionaire), Little Person (Synecdoche, New York) e Dracula’s Lament (Forgetting Sarah Marshall).
Bruno Ramos
2 Comments:
Deixei de olhar para esta categoria da mesma maneira, quando "Miss Misery" (Good Will Hunting), de Elliot Smith, perdeu para a balada banal de Celine Dion.
Para quem quiser, aqui fica o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=OYxl4HT2pIo&feature=related.
Concordo... "Miss Misery" era uma canção muito mais consistente e com grande qualidade (do já desaparecido Elliot Smith), mas, era óbvio que tendo em conta que Titanic ia ser o grande vencedor da noite e que "My Heart Will Go On" não parava de passar em tudo o que era rádio e canal musical, que este tema ia ser o vencedor da estatueta... Este ano, apostaria pela canção de Bruce Springsteen... não esquecer que aquilo que criou até agora para bandas sonoras não está nada mal... não esquecendo o grande "Streets Of Philadelphia" pelo qual ganhou o Oscar.
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