Deuxieme


sábado, janeiro 24, 2009

Olhar de lado para o sucesso de Slumdog Millionaire.

Nisto de gostar de um filme, a unanimidade continua a ser uma utopia. E, no espectro das emoções provocadas, a mesma obra pode ser causa de uma exaltação sem precedentes, ou de uma aversão abismal. É este marchar para o desconhecido que desperta paixões. No que diz respeito a Slumdog Millionaire, a grande maioria tem ficado com um brilhozinho nos olhos, como diria Sérgio Godinho, quando a obra chega ao fim. O Rotten Tomatoes dá-lhe 95%. O Meta Critic diz-nos que em 100 pessoas, apenas 14 são capazes de sair desiludidas. Esta probabilidade é interessante. Agora, como qualquer estatística que se preze, isto tem a validade de um bikini. O que mostra é apelativo, sim senhor, mas o que esconde é essencial. E, apesar dos enormes aplausos, há quem possa não gostar nem um bocado do mais recente trabalho de Danny Boyle. Como, por exemplo, Vasco Câmara, que dá-lhe forte e feio.

Os aplausos, os prémios (Globo de Ouro para o filme, para o realizador, para o argumentista Simon Beaufoy e para o compositor AR Rahman, agora as 10 nomeações) são ocidentais. As vozes indianas que mais se têm feito ouvir protestam contra aquilo a que chamam "Indian exotica" ou "pornografia da pobreza" - essa coisa da violência, crime e dos bairros da lata com exotismo musical em fundo. Esses protestos eram esperados, escreveu-se já neste site. Esta semana, por exemplo, o filme estreou em Bombaim, e Danny Boyle teve de responder a essas acusações. Disse que quis mostrar a incrível "capacidade de regeneração" dos 17 milhões de habitantes da cidade”.

Depois de contextualizar.

A questão, no entanto, não essa oposição entre fantasia/realidade. O filme de Boyle não é mais "real" do que um musical de Bollywood - aliás, o filme de Boyle acaba como um musical de Bollywood, tentativa de passar a mão pelo pêlo do espectador indiano. A questão é esta: não há razão para começar a gostar agora do cinema de Danny Boyle. Que continua incorrigivelmente superficial, capaz de sacrificar a própria mãe (qualquer possibilidade de atribuir nobreza às personagens; qualquer hipótese de deixar a realidade mostrar-se) por um efeito. Ele quer gritar "pop" e fazer-se ao ar do tempo, multiculturalismo, mistura, "sujidade". Mas... isso é o quê? Mergulhar uma personagem num poço de excrementos e conseguir com isso provocar gargalhadas? É ter M.I.A. na banda sonora?

A relação que "Slumdog Millionaire" tem com a realidade - e não falamos apenas dos bairros da lata de Mumbai - é a mesma de um concurso televisivo. Ou seja: ideias feitas que se pintam com ligeireza, facilidades redentoras que se simulam, vidas que se espremem no tempo de um espectáculo e para dar espectáculo. Passou a ser essa a fantasia da nossa existência: já não é o cinema, agora é a televisão. Danny Boyle atraca-se a isso como um parasita. E assim "Slumdog Millionaire" é uma apoteose. É muito "hoje". Torna-se significativo. É essa a maior partida deste filme”.

E, para rematar em beleza, a retórica triunfal.

Foi você que pensou na palavra "telelixo" (e não estamos a falar dos bairros de lata de Mumbai)?”.

A dissertação pode ser lida na íntegra no site do Ípsilon. Caramba, depois disto é que ficámos com vontade de ver Slumdog Millionaire, filme com estreia marcada para 05 de Fevereiro.

Alvy Singer

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5 Comments:

Blogger Ricardo-eu said...

esse texto ontem no público no suplemento do P2 e devo dizer que vai acentuar que Boyle não é grande realizador e que o filme deve ser pouco mais do que uma frenética quantidade de som e luz, agora, eu por vezes gosto desta forma irrealista do cinema indiano, a ver vamos, mas sem dúvida que a vontade de ver o filme é um pouco maior depois deste texto em forma de estalo.

24 de janeiro de 2009 às 14:57  
Anonymous Anónimo said...

Sendo assim o filme deve estar mesmo muito bom...sim porque já todos sabemos que as criticas cinéfilas dos "criticos" do público são sempre ao contrário! Realmente a vontade agora de ver o filme é muuuito maior...

24 de janeiro de 2009 às 18:40  
Blogger Rafael Fernandes said...

Pois, os críticos do público geralmente vivem noutro mundo. E estão acima de todos nós. O que o povinho gosta, eles batem. E vice-versa! Eu ainda não vi o slumdog. Mas vi o Estranho Caso de Benjamin Button cuja primeira critica do publico lhe dava... 1 estrela. Logo só posso estar optimista.

P.S. - Gosto bastante do Danny Boyle.
P.S. 2 - O filme já tinha sido nomeado para os Oscar. Tudo que é nomeado para Oscar também é mau, e fica bem dizer mal desses filmes. (do género, estou acima dessa gente da academia, o filme é mau, e eles não percebem nada de cinema)

26 de janeiro de 2009 às 17:16  
Blogger Nuno Gonçalves said...

Desculpem lá. Não se trata de "snobismo". Pode ser uma visão diferente de ver cinema mas nunca na vida um crítico quer que a sua visão seja melhor que a dos outros. Caramba têm uma crítica explicada, não é como os pseudó-críticos que dizem... "Esse filme é uma ...." e depois mais não dizem. Quando entra a opinião pessoal nada se pode fazer. As ideias pessoas estão lá, só há que concordar ou não, e não atacar dizendo que fulano xis pensa mais alto que os demais.

30 de janeiro de 2009 às 12:37  
Blogger Alvy Singer said...

Nuno, concordamos plenamente com o seu ponto de vista. E, apenas para clarificar, não acusamos Vasco Câmara de pensar mais alto que os demais. No entanto, a opinião deste critico é uma das que mais prezamos por estas bandas, e estas linhas suscitaram curiosidade. Remar contra a maré sempre foi mais notícia do que deixar-se ir na corrente.

30 de janeiro de 2009 às 12:51  

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