20 ANOS DA MORTE DE ANDREI TARKOWSKY (1932-1986)
O Grande Chefe avisa: a propósito das comemorações dos 20 anos da morte do cineasta soviético, vamos publicar ao longo dos próximos dias uma longa reflexão sobre a sua obra.
1 INTRODUÇÃO
A 29 de Dezembro comemora-se os 20 Anos da Morte do mais conhecido cineasta soviético e aquele que mais impressionou o mundo contemporâneo criando talvez as mais polémicas clivagens não só do ponto de vista político como estético. Com nove filmes em 26 anos de carreira o premiadíssimo Andrei Tarkovsky, morreu em Paris vítima de cancro na garganta em 1986. Foi amado e odiado pela cinefilia e pela crítica e sempre manteve uma posição extremamente crítica em relação ao Realismo Soviético, que lhe traria alguns problemas com as autoridades durante quase toda a sua carreira. Mas foi, de facto, um cineasta difícil de digerir, aliás como a maioria dos seus filmes. A título de exemplo vejamos o catálogo do Ciclo Ficção Científica realizado na Fundação Calouste Gulbenkian em 1984, dois anos antes da morte do realizador. Na sua ficha filmográfica, João Bénard da Costa dedicava-lhe as mais duras palavras e a razão de Solaris (“o 2001 dos pobres”) figurar no ciclo: “Que a cinematografia soviética, dos anos 60 a esta parte, é normalmente fraca, mete-se pelos olhos dentro de quem os não tem fechados. O que não quer dizer que não haja por lá alguns grandes cineastas, como Lariza Shepitko, Paradjanov, Klimov, Panfilov, Kromeno ou Hamraev. Mas Tarkowsky, o mais célebre dessa geração, nunca me convenceu. Não há filmes mais chatos, nem feitos com mão mais pesada e aí dou razão a António-Pedro Vasconcelos quando diz que ‘Stalker não dá mesmo para acreditar’, apesar das unânimes aclamações que obteve”. De facto, a obra de Andrei Tarkovsky não é propriamente fácil já que é quase sempre um mergulho na árdua e intrincada tarefa do autoconhecimento e da espiritualidade humana. O seu cinema propõe como que uma reeducação do olhar e uma reinvenção das complexas relações entre o real e o sonho, ou entre o eterno e o efémero. Tarkowsky explora ao máximo o poder das imagens-tempo, como aquelas que estão mais directamente ligadas à subjectividade e ao mundo interior de um indivíduo. Os seus filmes, como veremos a seguir, adquirem um caráter metafísico, de permanente pesquisa e energia, que raramente existe em outros cineastas mais intimistas, embora por vezes sejam ‘chatos’ e muito complicados de assimilar.
(a seguir 'UM ALUNO BRILHANTE)
3 Comments:
Acho impressionante e de louvar o investimento da Premiere num cineasta ao mesmo tempo tão aclamado e também tão marginal.
Há quem menospreze a revista Premiere rotulando-a de comercial, mas esta aposta contradiz na totalidade esse preconceito. Os meus parabéns pelo arrojo.
Tarkovsky pode não ser de fácil digestão, mas os filmes dele são sempre extremamente marcantes, muitíssimo bem feitos e de uma beleza estonteante.
Acho que Bénard da Costa demonstra que parou no tempo (em 1984?!) quando fez essas afirmações, num catálogo que é uma das bíblias cá de casa. Mas a ficção-científica infelizmente sempre foi considerado um género menor, tanto no cinema como na literatura.
Cara Misato
Aí está mais umas das nossas cumplicidades...não comerciais, além do cinema oriental!!! Se de facto fizessemos uma revista falando apenas de obras e cineastas como o Tarkovsky, há muito que teríamos desaparecido de circulação, mas isso não nos impede de ter os nossos cultos pessoais e o blogue e em breve o site, espero, vai ter espaço para estes 'pequenos vícios privados. Atendendo ao número de comentários verifico que muito pouca gente conhece verdadeiramente esta obra tão peculiar. Espero pelo menos que tenha servido para que haja pelo menos alguns leitores a disponibilizarem-se para descobrir a obra do cineasta russo mais importante das últimas gerações.
abraço
Eu já tinha entrado em contato com essa obra tão poética quando saiu a caixa com o dossiê, com entrevistas e depoimentos,,,,
na época fui obrigado a comprar um aparelho de DVD para poder assisti-los!
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