O valor da critica
Porque ser crítico é ajuizar todo e qualquer filme de forma imparcial, a probabilidade de um objecto cinematográfico ser alvo de um rótulo cinco estrelas é exactamente a mesma do que levar apenas uma. A verdade é que normalmente procuramos apenas verificar a recepção da crítica, àquele filme de que tanto gostámos. Se a isto acrescentarmos o facto de que à partida o espectador já escolhe um filme que pensa ser do seu agrado (ninguém desembolsará 5 euros se acha que não vai gostar do espectáculo…), e considerando que as expectativas são confirmadas, o interesse será muito maior em ver quantas estrelas recebe o filme ao qual nós daríamos 5 sem qualquer hesitação. Se este receber uma bolinha – vulgo “a evitar” –, então, está o caldo entornado. Por outro lado, se virmos um filme que detestámos, e alguém lhe dá cinco estrelas – vulgo “obra-prima” –, rapidamente questionamos que conjecturas astronómicas permitiram a ocorrência de facto tão improvável.
Isto a propósito de alguma perplexidade que parece existir perante a recepção de alguns críticos ao filme de Zack Snyder, 300. Confesso que deste lado também não é fácil aceitar estes juízos. Contudo, se estes forem feitos com a expressividade que João Miguel Tavares utilizou na avaliação de Ghost Rider, resta-nos apenas reconhecer que tudo isto jamais extrapolará o campo da subjectividade. Aproveito já agora para dizer que há muito tempo não via um filme ser criticado, com um teor marcadamente negativo, de forma tão eloquente. Daquelas criticas que nos fazem querer ver o filme, mas pelas razões inversas às que os produtores desejariam. Porque o valor da critica não se prende com o valor do filme.
“O filme conta a história de Johnny Blaze, um motociclista talentoso que vende a sua alma ao diabo para tentar salvar o pai de um cancro em estado terminal, acabando por transformar-se em Ghost Rider, um vigilante com poderes demoníacos (…) Se a descrição do argumento já parece um bocado palerma, a sua passagem para celulóide exponencia a palermice, num festival de diálogos inanes que transformam a coisa em pouco mais do que um chorrilho de efeitos especiais pregados numa história que mal se mantém de pé. A única dúvida que pode assaltar o espectador é o que anda o Nicolas Cage a fazer por ali, transformado num herói super-herói cuja cabeça se transforma numa caveira em chamas cada vez que se irrita – e, infelizmente, o filme melhora sempre um bocadinho quando a sua cabeça verdadeira não está lá.”
Alvy Singer
1 Comments:
Por essas e por outras é que eu só leio críticas depois de ver o filme.
Por acaso achei imensa piada a um pormenor de uma crítica na vossa revista. O filme sujeito à crítica era "Babel", ao qual deram 4 estrelas, até aqui tudo bem, mas naquela caixinha do "melhor/pior" tive que ler algumas 3 vezes até me acreditar: O melhor: a interpretação dos actores... / O pior: a narrativa fragmentada...
E mais não digo.
Bons filmes!
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