Deuxieme


terça-feira, maio 27, 2008

SYDNEY POLLACK (1934-2008)



Ndwetti
Hoje subiram muito alto. Não conseguíamos ver-vos, só ouvíamos o aeroplano zumbir como uma abelha.
Blixen
É verdade voámos muito alto.
Ndwetti
Viram Deus?
Blixen
Não, Ndwetti. Não vimos Deus.
Ndwetti
Ah, então é porque não subiram o suficiente. Mas digam-me lá: acham que conseguem subir o suficiente no seu aeroplano para ver Deus? (dirigindo-se a Denys).
Denys
Na realidade, não sei.
Ndwetti
Então não sei porque é que vocês os dois vão voar.

Diálogo de 'África Minha' (1985)

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domingo, maio 25, 2008

CANNES 2008: CANTET O NOSSO FAVORITO GANHOU!




A Palma fica em França. O filme francês Entre Le Murs, de Laurent Cantet, ganhou com justiça, mas surpreendentemente a Palma de Ouro do Festival de Cannes, isto mais de 20 anos depois de outro francês Maurice Pialat, ter ganho também em casa com Sobre o Sol de Satã, em 1987.
O presidente do júri, Sean Penn, disse que queria emancipar-se dos efeitos da moda, e esta ideia veio a confirmar-se no palmarés com destaque para este Entre Le Murs, um filme notável e realista, que sai da transposição do livro de François Bégaudeau, sobre o dia-a-dia de um professor (ele próprio protagonista), dos alunos de uma turma do ensino secundário em plena sala de aula. Quanto aos outros prémios foram distribuídos por excelentes filmes, que não sendo de grande público ou da moda, também não são de todo eruditos, como Gomorra, do italiano Matteo Garrone (Grande Prémio do Júri), Three Monkeys, do turco Nuri Bilge Ceylan (Melhor Realização), Le Silence de Lorna, dos belgas Jean-Pierre and Luc Dardenne (Melhor Argumento) ou Il Divo, de Paulo Sorrentino, (Prémio do Júri), que confirma também uma ‘ressurreição’ do cinema italiano no palmarés da Competição cannoise. Sem grande surpresa é o Prémio de Melhor Actor, para Benicio del Toro, no épico Che, de Steven Soderbergh numa interpretação emblemática que corre direitinha para os Oscar, ao passo que o prémio de Melhor Actriz, para a brasileira Sandra Corveloni, em Linha de Passe, de Walter Salles & Daniela Thomas, não sendo de todo injusta, sobrepôs-se outras interpretações mais convincentes.

José Vieira Mendes (em Cannes)

sábado, maio 24, 2008

CANNES: OS PRIMEIROS PRÉMIOS


Há poucas horas foram anunciados os primeiros prémios da maratona cannoise. Assim o Grande Prémio da Semana da Crítica, decidido por um grupo de jornalistas e críticos cinematográficos dentro de uma selecção de sete filmes, foi atribuído à longa-metragem Snow, de Aida Begic (Bósnia-Hergovinia/Alemanha/França). A Quinzena dos Realizadores, onde participou Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, é uma secção não -competitiva do Festival de Cannes, onde os filmes são na maioria dos casos recompensados por parceiros da mostra ou por iniciativas exteriores. No caso o filme mais premiado foi Eldorado, de Bouli Lanners (Bélgica), que recebeu o Regard Jeunes, da iniciativa do Ministério da Juventude e o Label Europa Cinemas, a maior rede de salas de programação independente, isto num ano particularmente favorável e de notoriedade para o cinema belga. O Júri Oecuménico, ligado às organizações católicas, premiou Adoration, do canadiano Atom Egoyan, da Competição Oficial, pelo seu papel cultural e religioso, ao passo que o Júri Fipresci (a Federação Internacional de Críticos de Cinema), onde estava um português, João Antunes (Jornal de Notícias), escolheu respectivamente Delta, de Kornel Mundruzo (Hungria), da Competição Oficial, Hunger, de Steve McQueen (EUA), do Un Certain Regard e novamente Eldorado, de Bouli Lanners, da Quinzena dos Realizadores. Nos prémios mais importantes destaque para a Cinefondation, destinada ao lançamento de Jovens Cineastas, onde Himnon, do israelita Elad Keidan, foi o vencedor. Por último na secção Un Certain Regard, a mais prestigiada a seguir à Competição Oficial, o júri presidido pelo realizador turco-alemão Fatih Akim, atrbui o prémio principal a Tulpan, um filme do Kasaquistão, do realizador Sergei Dvortsevoy, muito belo nas paisagens e que é o nome de uma jovem que nunca mostra a cara.

CANNES 2008: HASTA LA VITÓRIA!



A menos de vinte e quatro horas de ser anunciado o palmarés 2008, correm rumores de que a Palma pode ir parar pela terceira vez aos Irmãos Dardene (Bélgica), com Le Silence de Lorna. Mais óbvio ainda, seria para Clint Eastwood com Changeling, dado que Sean Penn, não poupa elogios ao seu mestre, que apesar do prestígio ganharia a sua primeira em Cannes. Para evitar mal-entendidos e com a categoria que se lhe reconhece, Eastwood na Conferência de Imprensa disse que quando foi presidente do júri e ganhou Pulp Fiction, nem sequer era o filme da sua preferência. Os rumores valem o que valem e há quem dê o favoritismo também ao documental de animação Valse avec Bashir, de Ari Folman (Israel), sobre a Guerra no Líbano na década de 80 ou a uma 'ressurreição' do cinema italiano com Gomorra, de Matteo Garrone, sobre a Mafia. O nosso favorito curiosamente foi o último filme da competição Entre le Murs, do francês Laurent Cantet (Recursos Humanos), uma belíssima e realista transposição do livro de François Bégaudeau, que é também o protagonista, sobre o dia-a-dia de um professor, dos alunos de uma turma do ensino secundário, rodada no seu ambiente e com um grupo de miúdos fantásticos onde não podia faltar um tal Damien Gomes, que veste a camisola da Selecção Nacional. Um filme onde professores e alunos se vão reconhecer, porque curiosamente em países diferentes, os problemas do ensino e da integração são os mesmos.


It’ Only a Rock’n’Roll, but I Liked. Foram assim este últimos dias do Festival que parece ter juntado simbolicamente quatro grandes pop stars do século XX e que se projectam no futuro: Maradona, Che, Madonna e Tarantino. Talvez ainda uma quinta figura, com Wim Wenders, o cineasta alemão que melhor representa a cultura rock, a apresentar aqui Palermo Shooting, um filme algo falhado mas com uma excitante relação das cidades de Dusseldorf e Palermo, com a fotografia e uma eexcelente banda sonora que cruza varias tendências musicais. Che foi recordado pelo norte-americano Steven Soderbergh (Traffic, e da saga Ocean Eleven) e encarnado por um pujante Benicio del Toro, num filme (ou antes dois filmes Argentina e Guerrilha, que vão estrear separadamente), que chegou aqui à última da hora sem genérico e num projecção que durou quatro horas e meia, com direito a quinze minutos de intervalo e a um saquinho com merenda para a imprensa. É um filme épico de rara beleza e inspiração, com um forte conteúdo político e romântico, a grande contradição de Che Guevara, e que criou as mais diversas reações desde o deslumbramento total, a com uma certa irritação ou apatia.


M dos Maiores. Madonna, a grande diva da pop viajou até Cannes (e até dançou com Maradona na festa do documentário do Kusturica) para apresentar, na qualidade de produtora (anunciou felizmente que não voltará a ser mais actriz), I Am Because We Are um documentário que apela para o destino de um milhão de crianças orfãs no Malawi, por causa da sida. Madonna e Sharon Stone estiveram juntas na passadeira vermelha, pois foram ainda as anfitriãs de uma gala (habitualmente presidida por Liz Taylor) para recolher fundos para a luta contra a sida. Maradona é ainda um espectáculo, quer na passadeira vermelha aos toques na bola com Emir Kusturica, quer no emocionante documentário do realizador que serviu de testemunha as confissões do ídolo, relativamente à sua ascensão e queda, e agora felizmente a uma mais vida tranquila com a familia. Tarantino, um verdadeiro cineasta de culto em todo o mundo, a tal Palma de Ouro de 1994 com Pulp Fiction, que não era de todo o favorito de Clint Eastwood, deu como é habitual também nas suas conversas com os jornalistas, um fervorosa Lição de Cinema. Interpelado por Michel Ciment (o director da Positif e um dos papas da crítica), Tarantino trajando de negro, teve o Auditório Debussy a transbordar, para falar dos realizadores que o inspiram (Martin Scorcese, Sergio Leone, e de Brian de Palma, que é uma estrela do rock no cinema) e da sua obra, de Cães Danados a Prova de Morte. Amanhã às 19h30 (18h30 de Lisboa), vamos conhecer os vencedores numa cerimónia que culmina com a projecção de What Just Happened, de Barry Levinson. Daqui a pouco apresentação do Palmarés e projecção do filme premiado no Un Certain Regard.

quarta-feira, maio 21, 2008

Estreias da Semana

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL

Volvidos 19 anos desde a última aventura, Indiana Jones regressa ao grande ecrã, com todos os ingredientes necessários que sustentam, sem problemas, um filme renovador da saga que recorda de que material é feito um dos maiores heróis da sétima arte.

Tudo começa no improvável deserto do Nevada, em 1957, quando agentes do KGB, dirigidos por Irina Spalko (Cate Blanchett), tomam de assalto um armazém secreto de artefactos e segredos dos EUA, onde pensam estar guardada a lendária Caveira de Cristal de Akator, que esconde um poder paranormal que permite dominar a mente de toda a Humanidade; Jones (Harrison Ford) consegue escapar dos Russos, mas somente para encontrar problemas maiores, como uma pátria que dele desconfia e o investiga, um jovem impetuoso de nome Mutt Williams (Shia LaBeouf) que lhe traz informações importantes sobre o paradeiro da Caveira e da sua lenda e, ainda, o reencontro com um velho amor (Karen Allen) que esconde um factor familiar inesperado; tudo isto em viagem pela América do Sul, em fuga de uma temível URSS sedenta de poder e conhecimento extra… terrestre.

A grandiosidade de uma saga como a de Indiana Jones suscita inúmeros pontos de análise para esta obra, que residem em várias questões a reter. Primeiro, este é um regresso (esperado há anos) que comporta consigo um avanço na história da personagem (o palco da 2ª Guerra Mundial é trocado pela Guerra-Fria), bem como um avanço na visão da concepção do próprio cinema, munido agora de novas tecnologias, e como tal, este novo capítulo encerra em si novíssimos efeitos especiais e um espectáculo visual maior que qualquer filme anterior, ainda que, no entanto, tenha sido filmado numa “old fashioned way”, em alguns cenários materiais e onde Ford se mostra incansável (caramba, ele faz em Julho 66 anos!). Não falamos de superioridade em relação ao passado, mas sim a uma visão diferente e igualmente competente.

Um dos maiores pontos-chave da qualidade deste novo capítulo incide sobre o argumento, a cargo de David Koepp, que concilia a ficção da aventura com os fantasmas de um mundo bipolar (e de uma América às avessas interiormente); a “estória” base que emerge sobre a “história” real daquele período encaixa na perfeição, onde se alia uma questão arqueológica de enorme valor (a enigmática e vital Caveira de Cristal, que é o ponto de partida para Jones) com um interessante olhar sobre uma era de obsessão mundial pelo poder e conhecimento globais, onde não se olha a meios para determinar os fins (a Caveira sobre o prisma de ser “a arma mais poderosa de sempre”, ponto de partida para a URSS). Sobre estas perspectivas, O Reino da Caveira de Cristal encontra-se ao nível de qualquer outra aventura, ao fornecer o melhor que esta saga nos tem trazido: a luta pelo lugar da história (enquanto religião e factor determinante do conhecimento) no seu meio presente, por entre os caminhos fatais da tentação e corrupção que o comum dos mortais toma, ao querer dominá-la para seu benefício pessoal.

E, se olharmos para além da premissa narrativa, o que mais temos? Um herói em constante mutação, ao abrigo das mais inesperadas situações - Spielberg marca nesta realização um tom mais arrastado e pausado, que ao contrário de sugerir “desinspiração”, antes revela espaço para o natural envelhecimento do próprio Indy, presente na frase inicial “não será fácil como antes”, e que é visível nas falhas dos golpes de chicote e alguns tropeções, que se apresentam, de uma forma graciosa, com mais humor no decorrer da acção, ao mesmo tempo que dão margem para que Indy mostre que a sua experiência e sapiência evoluíram decorridos os anos (é só verificar a calma e segurança com que ele lida com a KGB no assalto inicial ou com a descoberta da Caveira, na companhia de Mutt). Para além disto, é irónico olhar para Indy e ver nele as mesmas atitudes e expressões que o seu pai Henry (Sean Connery, presente na Grande Cruzada) tomava, e que ele prontamente criticava – afinal, Indy já é pai, o legado continua e por isso é necessário “educar” a mente de Mutt / Henry Jones III para o “mundo” (tal como já vimos na anteriormente referida Grande Cruzada, e que seria um excelente mote para uma próxima aventura).

Com uma demanda tão importante, a nova aventura de Indiana disponibiliza soberbos momentos de acção – sejam eles em Nevada ou nas florestas da Amazónia, em motas ou camiões, com pistolas ou espadas, em terra ou numa cascata – que nos fazem viver grandes momentos de adrenalina. Há espaço para tudo: formigas que devoram homens, caveiras com poderes sobrenaturais, templos repletos de artimanhas, estações nucleares que rebentam ou o contacto com a vida extra-terrestre (tão bem captada pelo medo global da época em questão, alimentada pelo pânico dos óvnis e da existência de outros seres sobrenaturais, hoje verdadeiros produtos da cultura popular). Toda a estória é perfeita e destaca-se das anteriores, uma vez mais, pela originalidade e pela força do seu próprio “mistério” presente no centro da narrativa, ponto fulcral patente na questão final quando Indy refere que “não quer ir por aí” face a uma descoberta excepcional, pois há coisas maiores que a vida e para lá do mero conhecimento empírico; “coisas” como a Arca da Aliança, as Pedras de Sankara ou o Santo Graal.

Apesar de tudo isto, é inevitável referir que este é o capítulo mais fraco de toda a saga – o que também não é difícil, tendo em conta que os 3 primeiros filmes são absolutamente notáveis e irrepreensíveis. Por fraco, eu entendo que não contém, por exemplo, o ritmo e suspense sufocante dos Salteadores, não mergulha numa escuridão tão mística e aterradora como a do Templo Perdido e, por fim, não recupera um reencontro familiar tão intenso como a Grande Cruzada proporciona. A juntar ao facto de Cate Blanchett estar pouco aproveitada (queríamos mais de uma actriz tão brilhante, sobretudo num registo tão único como este – é uma vilã magnífica), de os Russos não possuírem a força e malvadez que os Nazis mostraram deter noutras núpcias, bem como ainda é de notar alguma falta de carisma de Shia LaBeouf (que aguardamos que seja trabalhada nos próximos filmes), e existem ainda poucos momentos de Karen Allen; ambas as personagens necessitavam de uma presença ainda mais forte que a prestada. No entanto, o elenco funciona bastante bem, e a banda sonora de John Williams torna a recuperar os temas tão conhecidos, e dá elegância e força às cenas. São estes os únicos pontos que não permitem que se possa elevar a obra a valores máximos, pois de resto está lá tudo - absolutamente tudo - e com uma mente ainda mais aberta entre a fantasia e a realidade.

Bem vistas as coisas, este filme acaba, de certa forma, por condensar as fórmulas de todos os anteriores, e reinventa o mapa mundial e a própria personagem. O que é (foi) um risco, diga-se. Felizmente que Spielberg não perdeu mais tempo e tomou-o. O resultado é uma fabulosa viagem pelo género da aventura, onde encontramos todas as bases de um cinema americano clássico, que não desaponta e nos relembram que ninguém filma o mundo da acção e as paisagens da aventura como o genial Steven Spielberg. Cito e saúdo o Vasco Câmara, quando diz que “este chapéu só lhe serve a ele: Indiana Jones”.

Ford (que na opinião de Roger Ebert - e na minha - tem um rosto como o de Robert Mitchum – não envelhece, só engrandece) revela ter voltado a vestir a pele desta personagem para recuperar "a arte de contar histórias" e "dar a conhecer em ecrã grande, que é onde se devem ver filmes, esta personagem a uma geração que só conhece Indiana Jones em DVD". Não posso concordar mais com esta afirmação, como em simultâneo duvido que pudesse estar muito mais contente com um filme como este. Um óptimo regresso, que já fazia falta para meter na ordem todos os infiéis e medíocres copiões do género. Como este não há mais nenhum.

4 / 5

Francisco Toscano Silva

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terça-feira, maio 20, 2008

EASTWOOD, GRAY E POLANSKI


Comédia romântica, algo negra e inesperada são os melhores adjectivos para definir Two Lovers, de James Gray (Nós Controlamos a Noite). Depois de uma tentativa de suicídio por mal de amores, o depressivo Leonard (Joaquin Phoenix), regressa a casa dos pais em Brooklyn para descansar. Não perde tempo inicia uma desfavorável relação com a vizinha Michelle (Gwyneth Paltrow), um mulherão que anda enrolada com o patrão, um homem casado; e conhece Sandra (Vinessa Shaw), a adorável filha do novo sócio do pai, que parece ser o porto de abrigo ideal. Como quase todos os insatisfeitos e fartos de amar, a tendência é para o abismo e complicação, mas felizmente Leonard acaba por encontrar o caminho certo. Depois de três intensos thrillers policiais (Viver e Morrer em Little Odessa, Nas Teias da Corrupção e Nós Controlamos a Noite), o clássico James Gray, é no mínimo surpreendente com este rápido regresso à Competição, de um ex-argumentista tornado realizador, neste drama agridoce. E novamente com Joaquin Phoenix, um dos seus actores favoritos, e o centro nevrálgico desta bela e insólita história de amor, ainda que vagamente inspirada em Dostoievsky e nas Noites Brancas. Um regresso também aos seus decors habituais entre os bairros Brighton Beach e Brooklyn, de Nova Iorque, locais que marcam quer as origens sociais, quer a natureza intrínseca dos seus personagens, determinando ainda os seus destinos como nos violentos filmes anteriores. Curiosamente o mesmo acontece em Two Lovers, um drama romântico moderno, uma bela história de amor, e a difícil escolha entre o coração e a razão deste homem atormentado, dividido entre duas mulheres completamente diferentes, mas que são decalcadas das personagens femininas e maternais dos filmes negros anteriores do cineasta.
Clint Eastwood não consegue fazer maus filmes mas este The Exchange - e não Changeling com o foi anunciado – está um bocadinho longe das obras anteriores do realizador, talvez pelo regresso a um tema que já não é uma novidade na sua obra (Mystic River). É na verdade um tema recorrente, está na ordem do dia e é tratado com a sua habitual sensibilidade: o rapto de crianças e a pedofilia. Falta no entato o toque de génio que Eastwood quase sempre nos habitou. O filme é equilibrado e inspirado em factos reais passados nos finais da década de 20 em Los Angeles. A bela Angelina Jolie brilha na interpretação da pobre mãe que não se resigna à má condução das investigações da LAPD, para recuperar o seu filho desaparecido e trocado por outro. Roman Polanski: Wanted e Desire é um belíssimo documentário de Marina Zenovich, produzido pela Weinstein Company e pela HBD, que descasca todo o longo e complicado processo de acusação por abuso uma menor (Samantha Geimer) a que esteve sujeito o cineasta e que ainda hoje lhe impede de regressar aos EUA. No documentário que redime dalguma forma Polanski estão registados vários depoimentos: advogados, procurador, amigos próximos do cineasta e de outras pessoas envolvidas no processo, inclusive da própria Samantha Geiner, hoje com 45 anos que assume publicamente o perdão ao ilustre cineasta, radicado agora em França.

segunda-feira, maio 19, 2008

MIGUEL GOMES: 'AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO'


O realizador português estreia na quarta, 22, em plena 40ª Quinzena dos Realizadores em Cannes, o seu novo filme sendo o único representante nacional numa das competições. O Deuxieme já viu o filme, gostou muito e falou com o realizador.

Aquele Querido Mês de Agosto era para ser uma produção muito maior, mas acabaste por trabalhar com uma equipa muito pequena…
É verdade. Havia um argumento e um calendário de produção a cumprir em Agosto de 2006 com uma equipa de vinte a trinta pessoas. Tivemos que cancelar a rodagem por problemas de financiamento. Havia uma lista de figurantes que nunca mais acabava, a ideia de reconstituir lugares e festas de aldeia que se passam habitualmente em Agosto, naquela região de Arganil. Havia músicos e músicas já escolhidas, e locais que se enquadravam com as personagens. A história girava à volta dos elementos de uma banda que animava os bailes da região. Entretanto consegui arranjar algum dinheiro e propus à produção retomar o filme nas minhas mãos filmando as festas com uma equipa de 5 elementos. Achei interessante começar a rodar pondo completamente de lado o argumento...e só mais tarde voltar a pegar nele.

O projecto inicial inspirava-se na figura do Dino Meira?
Não. O título do filme foi efectivamente roubado a uma canção do Dino Meira. Aliás esse universo da música ligeira e das músicas de baile é em parte o tema de Aquele Querido Mês de Agosto.

Há como que uma relação entre a ficção e o documentário. É uma fórmula que tu vais assumir nos teus filmes?
Não sei, pois quando faço um filme, tenho a tendência para escolher sempre algo de diferente. Neste momento até estou a pensar fazer um filme com actores profissionais, que é o oposto deste que vive das improbabilidades em que para além de trabalhar com actores não profissionais tínhamos que nos adaptar àquilo que estivesse a acontecer no momento. Se determinado baile tinha muita gente, se as pessoas iam gostar ou não, se iam atirar latas de cerveja para o palco.
Para não profissionais, tens actores muito bons e uns diálogos geniais. Como os encontraste?
Na primeira metade do filme há uma série de pessoas que vão aparecendo para a contar as suas histórias com num inventário de coisas de Verão e daquela terra, como o Paulo Moleiro. Depois o tal realizador que sou eu é pressionado pela produção: “tens de arranjar actores para fazer o argumento”...e até o director de produção acabou por trabalhar como actor do filme. É aliás um dos protagonistas.
E os outros actores?
No filme há um lado de verdades e outro de mentiras. Não queria revelar tudo. Mas no caso do casting por exemplo, o Hélder (Fábio Oliveira) e Tânia (Sónia Bandeira), a vigia, já tinham sido escolhidos quando filmávamos a primeira rodagem que corresponde à primeira metade do filme. Nessa altura aproveitámos para procurar actores... filmámo-la na torre de vigia como se ela tivesse sido encontrada como os outros e ele no ringue de hoquei. De facto, ele joga hóquei no clube, de Oliveira do Hospital. No caso do pai do rapaz, o Celestino (Manuel Soares) e do outro o Gomes (Armando Nunes), quando os filmámos naquele diálogo nem eles, nem nós sabia-mos que iam ser contratados para fazer os papéis que tinha-mos escolhido para eles.

Aquele querido mês de Agosto é um bom retrato do ‘país pimba’?
Não gosto muito dessa ideia do pimba. As músicas escolhidas para o filme podem ser um bocado pirosas, mas há sempre qualquer coisa nelas porque as pessoas gostam e quem as canta leva-as muito a sério. Depois, relativamente ao retrato de Portugal, há um amigo meu disse que fiz um filme, que é uma espécie de colectânea de um Portugal que não existia. Não sei se aquele Portugal existe ou não existe, mas a realidade é toda tão vaga... como por exemplo, quando entrei numa das aldeias e estão duas dançarinas do ventre a dançarem à minha frente.

O GRANDE OLIVEIRA


Estou muito contente por ter recebido finalmente uma Palma de Ouro. Acreditem que é a mesma sensação de receber este prémio em competição com os meus colegas realizadores, foram as palavras simples, do mestre Manoel de Oliveira, no seu discurso de agradecimento pela homenagem que o Festival de Cannes lhe prestou no Dia da Jornada da Europa. O Auditório Lumière estava a abarrotar e a cerimónia foi presenciada pelo Presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso. Soraia Chaves, Nicolau Breyner, Filipe Duarte, as estrelas do ano do cinema português, além de Ricardo Trepa e João Bénard da Costa, o presidente da Cinemateca Portuguesa, estavam na comitiva que dalguma forma veio aqui promover o cinema nacional, além de apoiar o mestre. Associaram-se à homenagem ainda o Júri da Competição presidido por Sean Penn, numa que deu lugar a duas projecções: Um Dia na Vida De Oliveira, uma montagem de entrevistas e discursos, feita por Gilles Jacob, o presidente do Festival e Douro Faina Fluvial (1931), a primeira obra de Manoel de Oliveira.

domingo, maio 18, 2008

INDY E A CHUVA NAS ESTRELAS



A chuva e o mau tempo surpreenderam Cannes com um fim-de-semana bastante molhado e fresco. As starletes, ‘mulheres do outro mundo’, sempre à procura de uma oportunidade, passeavam um pouco mais tapadinhas que o costume e de guarda-chuva em punho. A propósito de belas mulheres, já que um homem ama várias, melhor é levá-las todas para sua casa. Este é o mote da nova comédia de Woody Allen, intitulada Vicky Cristina Barcelona, num regresso a velhas histórias, problemáticas do amor e geniais diálogos, num bilhete turístico-cinematográfico de Barcelona e Oviedo, interpretado magistralmente por Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz e Javier Bardem.
O Brasil é apesar da sua grandeza um país suspenso e falhado tal como as personagens de Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas. É um belo filme que tem como pano de fundo o futebol para contar a história de quatro irmãos que tentam fazer pela vida de maneiras diferentes: Reginaldo, o mais jovem procura desesperadamente saber que é o pai; Dario sonha com uma carreira de futebolista mas aos 18 anos mas nunca teve oportunidade de jogar num grande clube; Dinho refugia-se na religião evangelista e Denis ganha dificilmente a vida como estafeta de moto; a mãe Cleusa quarentona e fanática do Corinthians está outra vez grávida e não sabe que é o pai.
Na caravela da Boa Esperança,­ ­uma réplica de época que viajou de Portugal com o apoio da Algarve Filme Commission, foi apresentado Amália, o primeiro projecto da VC Filmes, a nova produtora e distribuidora nacional, que começa a rodar em Junho pela mão de Carlos Coelho da Silva (O Crime do Padre Amaro). A dar o rosto de Amália estará a jovem actriz quase estreante, Sandra Barata Belo, que para além de ser linda é parecida com a fadista e promete vir a ser uma grande revelação.
Saí agora do visionamento de Indiana Jones and the Kingdom of the Cristal Skull, um tanto desiludido. Será que foram precisos 19 anos para isto, um eficaz jogo de vídeo e uma aventura ligeira que termina com os actores a olharem para os efeitos especiais, num cruzamento de Indiana Jones com os Encontro Imediatos do 3º Grau. Lugares comuns, aventura burlesca e sem magia de outros tempos é o máximo que se pode dizer deste último da sequela. Sean Connery fez bem em rejeitar o papel do pai Jones, ao passo que Shia Labeouf não tem o carisma de River Phoenix ou de Harrisson Ford para dar continuidade à aventura.

Receio que nem os fans de outrora se vão identificar com este Indiana Jones e às novas gerações também não vai dizer muito.

sexta-feira, maio 16, 2008

The Best of... Elliot Goldenthal

Os visitantes da Deuxieme elegeram American Beauty como sendo a melhor banda sonora de Thomas Newman. O próximo film-composer que proponho observar é o nova-iorquino e já vencedor de um Oscar por Frida, Elliot Goldenthal. Estudou com Aaron Copland, um dos maiores importantes compositores eruditos norte-americanos. Goldenthal é, em minha opinião, responsável por uma autêntica obra-prima no mundo das bandas sonoras. Refiro-me ao filme Alien 3 onde o compositor recorre a um trabalho de orquestração experimental mas absolutamente genial. Toda a qualidade da sua escrita pode ser ouvida não apenas na música para cinema, mas também no seu repertório para as salas de concerto. Aqui destaco o ballet Othello e especialmente a Oratória Fire, Water, Paper: A Vietnam Oratorio, entre outros. Para elegerem a vossa banda sonora favorita, podem ver aqui uma lista completa das suas composições.



Bernardo Sena

quinta-feira, maio 15, 2008

CANNES BRANCA

A alegoria sobre a cegueira branca, de José Saramago, adaptada ao cinema por Fernando Meirelles em "Blindness", e que abriu ontem o Festival, deixou para já uma visão algo pálida e traumática na maioria da crítica e dos espectadores. De facto, não é fácil pegar na obra de Saramago e transpô-la para o ecrã. Depois de muitos test screenings e remontagens, assumidas pelo realizador, "Blindness" é, para já, um filme incompreendido, a menos que se volte a mexer-lhe. Tem momentos maravilhosos, como uma certa sequência da dança da chuva e as do caos da quarentena - que se transforma numa verdadeira Sodoma e Gomorra com Gael Garcia Bernal como o mau-da-fita - mas tem outros menos felizes que engasgam a narrativa: a inevitável voz off de ligação é algo irritante (mesmo sendo a de Danny Glover) e depois porque o realizador não consegue convencer-nos do pavor apocalíptico da praga que leva ao caos total, a verdadeira essência e a grande força do romance do Nobel da literatura portuguesa. Mesmo assim a névoa leitosa da praga não serve para desvirtuar uma abertura com muita elegância e muita expectativa, digna de uma competição de alto nível, com um filme que talvez venha ser valorizado com justiça daqui por uns anos, e onde brilha uma Julianne Moore, interpretando curiosamente a única personagem que nunca perde a visão e a noção daquela assustadora realidade.

Afinal o argentino Pablo Trapero, já não é propriamente uma revelação, é sim aqui na Competição em Cannes, com este Leonera, a sua quinta película, em que a sua mulher, a actriz Martina Gusman (Julia), interpreta o papel principal de uma jovem universitária que mata o namorado e é condenada a uma pena numa prisão de mulheres em Buenos Aires. É um filme realista e de alguma dureza, onde se destacam também as interpretações do brasileiro Rodrigo Santoro e da cantora Elli Medeiros.

Hoje abre a Quinzena dos realizadores com 4 Nuits avec Anna, do realizador-pintor polaco Jerzy Skolimowski, há muito afastado dos filmes e que regressa com uma história intimista e alegórica sobre o universo mental de um homem, uma obra curiosamente produzida por Paulo Branco.

José Vieira Mendes (em Cannes)

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Novas imagens a descobrir

O Verão aproxima-se e com ele mais uma bela fornada de cinema. Aqui vos deixo 3 trailers de obras que esperamos com entusiasmo (Hellboy II), curiosidade (Hulk) e busca da verdade (Ficheiros Secretos), mas ainda que cientes de possíveis desilusões. Certo é que Hulk tem pontos para ganhar, mas só se apostar na transformação de novos caminhos para a personagem, pois o resto ninguém o fez melhor que Ang Lee (num filme tão injustamente maltratado) e as primeiras imagens parecem "bater" um pouco no ceguinho, ainda assim tem bom aspecto; quanto aos Ficheiros Secretos, existem muitas respostas para dar e esperemos que a trama não cresça de mais e perca o seu rumo... e para finalizar, Hellboy parece estar em máxima força para uma aventura ainda maior. Sem mais demoras, comecemos por...


The Incredible Hulk


The X-Files: I Want to Believe


Hellboy II: The Golden Army

Primeiras impressões, caros leitores?

Francisco Toscano Silva

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quarta-feira, maio 14, 2008

CANNES 2008 INSPIRA-SE EM LYNCH


O cartaz e a identidade visual do 61º Festival de Cannes, que se realiza a partir de hoje e até 25 de Maio próximos, inspiram-se numa fotografia de David Lynch e no filme Mulholland Drive. Esta é mais uma homenagem do Festival a um dos seus autores de elite, recriada pelo designer Pierre Collier, que concebeu a partir do cartaz todo um ambiente gráfico, que se destaca junto dos locais, edifícios, hotéis de luxo, salas de cinema, Palácio dos Festivais, a sede por excelência do evento e ao longo de toda a Croisette, a marginal junto ao mar.
Começaram por ser vinte os filmes seleccionados para a Competição Oficial, mas já depois do anúncio, inesperadamente Blindness, do brasileiro Fernando Mereilles, numa adaptação do romance Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, vai fazer as honras da abertura, carregado de estrelas internacionais como Jullianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael Garcia Bernal. A Competição espera-se renhida e dificil para o júri presidido por Sean Penn, já que entre os cineastas a concurso estão veteranos como Clint Eastwood (Changeling), Steven Soderbergh (Che), Wim Wenders (Palermo Shooting), os irmãos Dardenne, (Le Silence de Lorna) que já ganharam duas Palmas de Ouro e revelações como Charlie Kaufman (Synedoche, New York), Lucrecia Martel (La Mujer Sin Cabeza), entre outros autores do mundo, já que Cannes é a maior mostra de cinema dos cinco continentes. Fora da competição Woody Allen vai dar um ar da sua graça com o seu último Vicky Cristina Barcelona, o filme que aparentemente ligou Penélope Cruz e o oscarizado Javier Bardem.
Cannes Classics 2008, um evento paralelo dedicado à apresentação de velhos filmes em cópias restauradas, tem este ano lugar sob o signo de Manoel de Oliveira, ao qual o Festival vai prestar uma vibrante homenagem pelo seu 100º aniversário, apresentando a sua primeira obra Douro, Faina Fluvial (1931, 18’).
Por ocasião das comemorações dos 40 anos da Quinzena dos Realizadores, outra competição paralela, que tem procurado uma certa tendência vanguardista nas suas apresentações, foi seleccionado Aquele Querido Mês de Agosto, do realizador português Miguel Gomes, um filme rodado durante os verões de 2006 e 2007 e que nos dá um excelente retrato do interior e do Portugal de hoje, no mês em que os imigrantes regressam às suas origens.
Uma longa maratona de 11 dias de cinema, ao qual se juntam à Competição outras mostras paralelas (competitivas e não competitivas) como Um Certain Regard, Sessões Especiais, Curtas-Metragens, Cinefondation, Cinéma de La Plage, Semana da Crítica e algumas projecções especiais como Indiana Jones and Kingdom of the Crystal Skull, de Steven Spielberg, o documentário Maradona by Kusturica, de Emir Kusturica, ou What Just Happened, de Barry Levinson, com Bruce Willis, Robin Wright-Penn e Sean Penn, como filme de encerramento. Aguardada também com muita expectativa, é a Leçon de Cinéma, que terá lugar a 22 de Maio, este ano a cargo de Quentin Tarantino.

José Vieira Mendes (em Cannes)

Em contagem decrescente...

Nada melhor do que começar o dia a falar de Indiana Jones. É já no próximo dia 22 que o Professor (em part-time, recordam-se?) irá mostrar as suas novas aventuras, e como tal, para abrir o apetite (uma vez mais), deixo-vos os dois novos trailers, que nos prendem por completo ao ecrã e nos fazem ter vontade de ser Deus para apressar o tempo que falta até ao conforto de uma cadeira e duas horas de "Indyagem".

Novo trailer 1


Novo trailer 2

Francisco Toscano Silva

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Este filme não é para... eleitores?

Aqui temos a primeira imagem de "W.", o novíssimo filme de Oliver Stone, que se vai centrar na vida de uma dos mais mediáticas figuras mundiais da actualidade: O Presidente dos EUA, George W. Bush (na imagem acima temos Josh Brolin, estupendamente caracterizado). Num interessante artigo da Entertainment Weekly (que se pode ler aqui), temos conta de que a polémica já se encontra instalada, seja pelos aventurosos saltos de reescrita do guião, seja, sobretudo, pelo simples facto de falar de Bush.

Crítico e irónico, verdadeiro ou falso, Oliver Stone já demonstrou, ao longo das últimas décadas que sabe colocar o dedo na ferida. A que pergunta que se impõe é: o que se pode esperar de uma nova incursão cinematográfica no mundo da política? De que forma se torna este objecto num momento decisivo em futuras eleições nas terras do Tio Sam? Qual o poder do cinema sob os alicerces da política mundial? Temos muita matéria para discutir até ao final deste ano (onde se aguarda a estreia).

Francisco Toscano Silva

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segunda-feira, maio 12, 2008

'GOODNIGHT IRENE': UMA QUESTÃO DE TEMPO


Deste lado do Atlântico há efectivamente bom cinema. Fujam aos preconceitos em relação ao cinema português e numa altura que de uma assentada estreiam três filmes portugueses nas salas (e ainda Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, vai estar na Quinzena dos Realizadores em Cannes), e não percam uma pequena pérola da cinematografia nacional, chamada Goodnight Irene (tem curiosamente o título de uma popular canção norte-americana). Trata-se de uma primeira obra de um globetrotter chamado Paulo Marinou-Blanco que só por acaso é português e filmou Lisboa tão bem, que já não me lembrava desde o tempo de A Cidade Branca, de Alain Tanner, já lá vão umas boas décadas. E como isso não bastasse, mostra o mais belo de Lisboa entre a Bica, o Bairro Alto e as vistas do Tejo, construíndo um extenso road movie entre o country quase plano de Portugal e Espanha, ambientes ideais para uma inspirada reflexão sobre a vida e a morte, sobre a causalidade e a passagem do tempo e sobretudo sobre as muitas formas de amar, entre as quais está incluída uma sóbria e saudável amizade entre três seres que nada têm em comum além de estarem pouco reconciliados com a vida. Que grandes são as personagens de Alex (interpretado pelo veterano inglês Robert Pugh) um solitário actor falhado, apaixonado pela cidade e as suas particularidades, ganhando a vida a traduzir audioguias de viagens ou a de Bruno, um jovem ladrão de memórias da vizinhança, ternamente personificado por Nuno Lopes. Irene (um excelento regresso de Rita Loureiro ao cinema, mesmo num pequeno papel-chave da história), é uma atraente e misteriosa pintora, que de repente desaparece para completar este triângulo obsessivo de ausências e solidão, que apesar de tudo possui uma paixão pela vida que falta aos outros. Não é o filme mais aguardado de sempre, nem será finalmente o grande campeão do box office nacional. Não tem pretensões a isso. Goodnight Irene é um filme para quem procura uma história poética e sentida, certo para um serão de beleza, melancolia e gosto pela vida, que não pode passar despercebido, nem pela crítica, nem pelo público, pouco habituado a ver filmes portugueses, muito menos falados em inglês.

DEPOIS DA FRAMBOESA O CUSCUZ




Na semana passada saboreámos uma bela tarte de framboesa entre um beijo roubado e um tema da Nora Jones, em My Blueberry Nights-O Sabor do Amor, de Wong Kar-wai, para esta serviram-nos algo mais substancial, mas não menos romântico e inspirado com O Segredo do Cuscuz (La Graine et le Mulet), do franco-tunisino Abdellatif Kechiche (A Esquiva), onde nos deixámos encantar pela dança do ventre e por um prato tradicional árabe. Mas para lém das comidas e dos sabores exóticos O Segredo do Cuscuz começou por ser a grande surpresa da última Mostra de Veneza e tornando-se num dos melhores filmes europeus de 2007. O Segredo do Cuscuz é uma história aparentemente simples e ligeira sobre uma extensa família magrebina, residente em Marselha, presa num quotidiano de tensões e sentimentos cruzados pela tradição e pelas instituições familiares. A figura central é um pai de meia-idade, ausente da família e desempregado que toma a iniciativa arriscada de abrir um restaurante tradicional, onde a especialidade é o famoso cuscuz com peixe, um empreendimento que poderá ajudá-lo a sobreviver e a congregar os seus afectos familiares algo tensos por uma relação extra-conjugal. Se há alguma dúvida para muita gente do que é fazer um filme simples acessível a várias leituras e públicos como um prato de cuscuz, O Segredo do Cuscuz, é o melhor exemplo de como ultrapassar as questões de orçamentais e as boas histórias que muitas vezes faltam ao cinema europeu. Talvez a simplicidade seja o seu maior segredo. Um destaque para Rym (Hafsia Herzi) a personagem vulcânica destes filme, imparável na sua dança do ventre, que valeu à jovem actriz os prémios revelação de Veneza e um César do cinema francês. Uma boa refeição cinéfila!

segunda-feira, maio 05, 2008

O trailer do ano?

Caros amigos, não estamos a monopolizar o nosso espaço em torno das trevas, mas está disponível neste momento, o novíssimo trailer de The Dark Knight. O que se comprova é que temos uma bomba em mãos, as surpresas parecem mais que muitas e o show jokeriano atinge um nível de loucura nunca antes visto ou nem sequer imaginado. É só clicar aqui... e deixar um comment.

Francisco Toscano Silva

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Tema Mistério 22



Bernardo Sena

sábado, maio 03, 2008

Estreias da Semana

HOMEM DE FERRO

Os destaques da semana começam pelo primeiro blockbuster de Verão (entenda-se que o "Verão cinematográfico" começa sempre antes da estação em si), que chegou esta quinta-feira às salas portuguesas, e refira-se, com pompa e circunstância. Homem de Ferro é o mais recente filme de Jon Favreau (realizador de Zathura — Aventura no Espaço e Elf — O Falso Duende), que junta um elenco muito forte onde Robert Downey Jr. e Gwyneth Paltrow se afirmam de uma forma extremamente graciosa. Partindo das origens deste famoso super-herói criado por Stan Lee (que possui um hilariante cameo confundido na pele de Hugh Hefner) nos anos 60, Homem de Ferro conta a história de Tony Stark (Robert Downey Jr.), um bilionário génio da invenção científica, que se afirma como um dos maiores expoentes da indústria bélica dos EUA. Após ser raptado por forças terroristas num país hostil, Stark vê-se obrigado a construir uma máquina de armamento e destruição para sobreviver, e ao ganhar contacto com uma realidade que desconhecia mas ajudou a criar, Stark vai inverter a missão da sua vida ao salvar todos do mal que semeou com a sua actividade.

O Homem de Ferro foi inicialmente criado sobre o prisma da realidade do Vietname, mas isso não causou entrave a Favreau, que readapta as coordenadas e vira-se para ao Médio Oriente, sobre um olhar irónico da reconversão da personagem de Stark (e que nos faz pensar uma vez mais sobre as actuais políticas de guerra e conflito mundiais). O resultado é um filme absolutamente bem conseguido, dotado de vários ingredientes que lhe dão uma frescura e beleza irreprensíveis. O argumento é soberbo e bem construído, servido com prestações fabulosas de todo o elenco, onde ainda se destacam Jeff Bridges num vilão de peso e Terrence Howard como parceiro e amigo do herói; mas é para Downey Jr. que os aplausos se acentuam em força - seja pelo facto de confirmar que é um dos actores maiores das últimas décadas, como também pela questão de mestria utilizada a vestir o papel desta complexa e interessante personagem, que apesar de famosa, nunca obteve junto do público uma atenção como o Homem-Aranha ou Super-Homem ou Batman obtiveram. É por isso brilhante ver como o carisma e o ar dandy e cool de Downey Jr. se misturam na perfeição com o de Tony Stark, tão bem equilibrado pela sua assistente Virginia "Pepper" Potts - a deliciosa Gwyneth Paltrow). De resto temos acção trepidante, uma excelente banda sonora, um ritmo narrativo que não conhece tempos mortos e uma aposta mais do que ganha sobretudo para a Marvel Studios, que se estreia, com este filme, no total financiamento de uma super-produção para a Sétima Arte. Estamos, de facto e em suma, perante cinema de ferro, onde falta muito pouco para se atribuírem valores máximos.

4/5


MY BLUEBERRY NIGHTS - O SABOR DO AMOR

A semana traz ainda outro doce, desta vez pelo olhar de Wong Kar-Wai. Chega-nos, finalmente, My Blueberry Nights (entre nós O Sabor do Amor), filme que marca a estreia de Norah Jones no cinema (uma subtil e fascinante estreia refira-se: parece que estamos perante o nascimento de uma estrela). Jones é a (inicialmente) desamparada Elizabeth, a personagem principal (e elo de ligação) que se vê a braços com um desgosto amoroso e encontra conforto em Jeremy (Jude Law), um dono de um simpático café com muitas estórias para contar. Iniciando uma viagem pela América mais profunda, Elizabeth vai, inevitavelmente, chocar com várias personagens (interpretadas por Rachel Weisz, David Strathairn e Natalie Portman) igualmente recheadas de questões e problemas de soluções subjectivas, onde os obstáculos do amor e da comunicação ganham terreno sobre a sobriedade do lado racional. Um caminho observado pelo lado mais humano dos seres, que vai orientar Elizabeth a construir o seu próprio rumo.

Wong Kar-Wai constrói aqui um filme difícil, seja pela temática como pelo efeito visual tão carregado, que se transforma praticamente no ar em que todos respiram, mas que se demonstra possuidor de uma beleza rara. Apesar de deixar alguns pontos soltos, Kar-Wai filma, de uma forma exemplar, uma viagem ao mais íntimo dos sentimentos, sejam eles movidos pela mais variadas forças exteriores / interiores, e presenteia-nos um grandioso objecto de cinema, onde Norah Jones e Jude Law se vestem num par improvável, mas espantosamente bem conseguido e carregado da maior vulnerabilidade possível, ainda que mascarada sobre a doçura do amor. É uma obra a não perder, que vive de um encruzamento de emoções bastante real e tão tangente a qualquer um de nós, suspenso num audacioso jogo de estética de luzes e cor, que ganha um lugar absolutamente mítico no interior de cada uma das personagens e de nós próprios, que nos perdemos por completo na magia deste cinema e desta visão. Ainda que sem a genialidade de Disponível para Amar (2000), My Blueberry Nights é, ainda assim, um triunfo; uma obra superior de enorme relevo e qualidade.

4/5

Francisco Toscano Silva

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sexta-feira, maio 02, 2008

Hitman à portuguesa

Aqui está a prova que cinema português se esforça por encontrar novos horizontes. Contrato é um filme de Nicolau Breyner, conhecido actor que se estreia na realização, para além de acumular ainda funções de interpretação. Este filme conta-nos a história de um assassino profissional (Pedro Lima) envolvido em negócios obscuros com a máfia intenacional. A juntar ao resto do eleno temos nomes bem sonantes como Sofia Aparício, José Wallenstein, Vítor Norte, Pedro Granger, José Raposo e Cláudia Vieira, que parece se entregar, literalmente, de "corpo" e alma a este projecto. Deixo-vos o trailer, curioso pelas vossas reacções.

Francisco Toscano Silva

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