De quem é a culpa?
Apesar de já ter passado mais de uma semana desde a terrível noticia, os últimos dias têm sido ainda bastante penosos. Nunca esta palavra foi tão pesada. A Última Premiere, A Última Capa… Ao olhar para o post de cima, a vontade era a de transportar tudo isto para um filme de David Fincher, e que a reviravolta por todos desejada estivesse aí ao virar da esquina. Por enquanto, de Fincher não temos nada. Estes dias mais parecem ter sido tirados de um título de Paul Thomas Anderson. Lento, doloroso, mas percorrido por um sentido radioso que ilumina mesmo os piores momentos. Como aquela magnifica cena de Magnólia, em que todos entoam Wise Up de Aimee Mann.
Nestes últimos dias tenho olhado mais para o chão. Não sei se convosco acontece o mesmo mas, quando olho para o chão, gosto de brincar às perguntas e respostas. Tentar encontrar aquelas questões para as quais não tenho resposta fácil, obrigando-me, assim, a olhar ainda mais para o chão à procura da solução.
Ao perder a PREMIERE, perco uma das razões pelas quais gosto de cinema. Desde o primeiro dia que esta revista foi um poço de sabedoria e transmissão de conhecimentos. Como uma esponja, todos os meses agradecia o favor. Aquilo que o grande ecrã oferecia era complementado de forma exemplar pelos artigos encontrados a cada página. A partir de determinada altura, deixei de contar os filmes, os realizadores, os argumentistas ou os actores que tinha conhecido através da revista. Porque foram muitos aqueles que ela me deu a conhecer, esta revista é uma das razões pelas quais gosto de cinema.
Como o são, por exemplo, os filmes de Woody Allen. Ainda sem idade para perceber algumas das suas tiradas, recordo perfeitamente escrever em frente do ecrã algumas cenas, que mais tarde procurava memorizar e reproduzir. Sleeper, Annie Hall e Take the Money and Run, são a base para tudo o resto.
O Natal é quando o Homem quiser. Para mim, o Carnaval era sempre que via um filme de John Ford. Com armas de fogo e garrafas de whisky, Ford chegou a ensinar mais do que alguns professores com giz na mão. Rio Grande, O Vale Era Verde, My Darling Clementine, Fort Apache… Foram tantos. Billy Wilder também não está inocente. Que melhor lição pode ter um aprendiz a cinéfilo do que descobrir Sunset Boulevard e O Apartamento? E aquele O Pecado Mora ao Lado faz as delícias de qualquer um a atravessar a adolescência. Otto Preminger, David Lean, Howard Hawks e Frank Capra também têm culpas no cartório.
Por razões que não vale a pena estar aqui a enumerar, estes senhores fizeram parte desta existência desde a mais tenra idade. Hoje, apesar de admirar incondicionalmente o trabalho de cineastas como Tarantino, Tim Burton, Scorsese ou Coppola, reconheço que é devido aos visionamentos precoces de outras obras-primas, que me atiro de cabeça para tudo o que é filme. De onde é que vem esta nossa paixão pelo cinema? É isso que me tenho perguntado esta semana, de mãos nos bolsos, quando olho para o chão. Este fascínio pelo cinema, que quase chega a ser um crime, permite mesmo questionar quem deveria ser réu neste julgamento? Quem é o culpado de tudo isto?
Há coisas que não se esquecem. Jamais esquecerei a primeira vez que vi Take The Money and Run, e do turbilhão de pensamentos que a ele vieram associados, assim como jamais esquecerei aquela página sobre o João César Monteiro, a primeira lida na PREMIERE. Por isso, pessoalmente, posso garantir que a PREMIERE é uma das responsáveis por esta cinéfilia. Woody Allen, por seu lado, talvez seja o maior culpado deles todos. A pergunta que hoje aqui colocamos é a seguinte: Quem são os vossos culpados?
Agora, se me permitem, vou ouvir Aimee Mann.
Alvy Singer
8 Comments:
Penso que o culpado por esta paixao foi o meu avô. quando eu era pequenina levava sempre os 13 netos à matiné de domingo. o primeiro filme que me lembro de ter visto foi o tubarao 3. claro que sai a meio do filme porque nao tinha idade para ver aquilo,mas o gostinho ficou logo ali. Quando comecei a ter idade para sair sozinha,ia todos os sabados ao cinema,independentemente do filme. Eu queria era estar la. Até que,um pequeno filme,que na altura achei o máximo,me fez despertar ainda mais o gosto pela 7ºArte. O filme,Apolo 13,agora nao me dirá muito, mas a partir daí, fez-me querer conhecer mais. E mais, e mais.Para mim, o cinema é um refugio. E tornou a minha vida tão melhor...
Devo dizer que a noticia do cancelamento da revista apanhou-me completamente de surpresa. Desde o primeiro ano de publicação, que nos primeiros dias de cada mês me dirigo ao quiosque mais proximo de mim para comprar a revista. Este ritual, que dava um gosto ainda melhor à leitura da revista, obrigava me por vezes a ir bem longe para a conseguir adquirir. Agora, sem a Premiere, como é que os cinéfilos em Portugal vão sobreviver? Existirá vida depois da Premiere?
Desde sempre mandei gardar a revista deixando recomendação para tal se estivessem a acabar. A minha paixão e diria amor pelo cinema começou com um susto aos 6 anos quando fui ver BEN-HUR de William Wyler e saí da sala em lágrimas pois impressionara-me a cena d vale dos leprosos... tenho vivido arrependido desde então pois foi até hoje o filme que mais vezes assisti e nunca me canso de o fazer... e era naquele espectacular ecrã do "antigo" S.Jorge em Lisboa. Na minha adolescência passava as férias nas Amoreiras a ver filmes todos os dias e por vezes mais que um. A PREMIERE ssempre me acompanhou e me deixou informado do que vim a aprender mais tarde ser verdadeiramente o CINEMA e como o apreciar, analizar e criticar em todas as suas vertentes.
Sendo filha de pais divorciados, os meus sábados à tarde eram passados com o meu pai. Obviamente, no cinema.
Lembro-me de ver o "Flash Gordon", o "Star Wars", o "Sandokan", "Os Dez Mandamentos"...
Mas lembro-me mesmo bem é das cóboiadas, aquelas antigas com o Ernest Borgnine, o meu pai conhecia os filmes todos, quase que os sabia de cor!
Isto tudo antes dos 10 anos de idade. Naquele tempo ia ao Tivoli, ao Condes, ao São Jorge, ao Roxy, ao Apolo 70...
A paixão pelo cinema nunca mais me deixou.
Como alguns que já deixaram aqui os seus culpados, também aponto o dedo ao meu pai, e ainda bem. Enquanto as outras crianças viam desenhos animados, eu via o Burt Lancaster, a Marilyn, o Errol Fllyn, o John Wayne... Na altura fazia-me alguma confusão ver imagens reais e sem cores vibrantes nem animais que falavam, mas, como disse o Pessoa a propósito da Coca-Cola, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Hoje, não quero outra coisa. Star Wars foi a confirmação de que isto era uma paixão...
O meu pai com a sua paixão pelo Star Wars (episódios IV, V e VI); o steven spielberg pela criança que há dentro dele e se revela nos seus filmes; o Tim Burton, pela fantasia e ambiente onírico que envolve tudo o que faz...
A Premiere por alimentar este bichinho que me faz adorar cinema mais e mais e mais...
Tema interessante, e para o qual tive de pensar pois nunca tinha pensado no assunto dessa forma. Sou de uma geração mais recente, e ganhei o gosto já com os meus 17/18 anos. Lembro-me de ver filmes repetidamente quando era miudo, como o Terminator 2, mas isso acontece com todos. Mas acordei para este mundo com o Lost Highway do Lynch, e os primeiros do tarantino. Vibrei com a cção dos dois primeiros filmes do Guy Ritchie.. depois Takeshi Kitano, deu-me imenso gozo descobrir os filmes dele. E podia continuar...
O canal 2, must confess. Lembro-me de ter visto o sapatos vermelhos e ter ficado vidrada.
Depois as aulas de cinema que eram opcionais na minha universidade e que para mim eram mais obrigatórias que as do curso.
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