Por causa dela.
Todos os anos, procuro manter a tradição de rever um filme na noite dos Óscares. Só tem de preencher o requisito de ter ganho algum. Fora isso, é só escolher e relembrar o que de melhor se escreveu nos anais da História do Cinema. Este ano, quando falta um mês para a cerimónia, ao que tudo indica, o título já estará escolhido. Por várias razões, mas, sobretudo devido ao salutar regresso de Julie Christie às luzes da ribalta, o eleito terá forçosamente de ser Doutor Jivago (David Lean, 1965).
Para quem nunca viu o filme, os seus 197 minutos são fáceis de resumir. À superfície, é o relato da insatisfação da sociedade russa no início do século XX, do despoletar da Revolução Bolchevique e da guerra civil que posteriormente caiu sobre o país. No seu lado mais recôndito, é uma das mais íntimas e tocantes histórias de amor que o grande ecrã alguma vez teve o prazer de oferecer. E, quando dizemos grande ecrã, é porque este é mesmo um daqueles filmes que merecia ser visto na grande tela. Não deve haver plasma, nem polegadas, que façam jus às proporções épicas deste magnifico trabalho de David Lean. Caramba, como teria sido bom pisar uma sala de cinema nesse ano.
Baseado no romance de Boris Pasternak, o filme centra-se na existência de um médico de boas famílias, Jivago, um Omar Shariff no seu melhor. Apaixonado pela poesia, Jivago acaba por casar-se com o seu amor de juventude, Tonya (Geraldine Chaplin), antes de partir para a guerra. Enquanto cumpre o serviço militar, Jivago conhece o amor da sua vida, Lara (Julie Christie), por sua vez casada com um influente revolucionário. Daqui para a frente, a narrativa desenvolve-se para algo que entraria no capítulo dos spoilers. Mas, não tenhamos ilusões, desenvolve-se de uma forma ímpar, como só acontece nos grandes filmes.
Uma das comparações que inevitavelmente surge, assim que vemos este clássico, é com o anterior trabalho de Lean, Lawrence da Árabia (1962). O realizador foi o mesmo, assim como o argumentista, o director de fotografia e o compositor. Até Omar Shariff saltou trocou de cavalos. Entre ambos só há vinte minutos de diferença. Um passa-se na Arábia, outro na Rússia. No entanto, apesar de todas estas semelhanças, há que reconhecer de peito de aberto, que este será um filme sempre à sombra do seu antecessor. Precisamente por isto, porque, com tantas coisas em comum, há um que, se calhar, é um bocadinho melhor que o outro. Agora, se há algo que pende sempre a favor de um filme, é uma bela história de amor. E, nesse particular, Doutor Jivago marca pontos como poucos. Muito poucos.
Bolas, com isto tudo, a vontade é de o rever já hoje. Recuperar a paisagem invernal e crua da fotografia de Freddie Young; relembrar as interpretações notáveis de Shariff, Christie, Rod Steiger, e Tom Courtenay; rever planos de antologia que retratam, com a mesma mestria, uma compaixão genuína ou uma desastrosa confusão social. Mas, seja em que noite for, saberá sempre bem ouvir a intemporal melodia de Maurice Jarre, aqui misturada com clips de vários Jivagos. Este será, com certeza, um filme a ver dia 24 de Fevereiro. Ou numa outra qualquer noite.
Alvy SingerEtiquetas: Alvy Singer, David Lean, Julie Christie, Omar Shariff
2 Comments:
Ora com isto abro já uma ideia para um debate: Lawrence vs Jivago. É que claramente eu escolho Lawrence, caro Alvy. E opiniões são opiniões (daí sugerir um debate) mas eu considero Jivago... uma obra com enormes falhas. Vamos combinar então um duelo :)
Vamos lá então combinar esse debate, caro Francisco. Se há coisa que eu gosto é de um bom duelo. E, para defender Jivago, estou sempre pronto. Vamos a isto!
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