Deuxieme


sábado, junho 14, 2008

Estreias da Semana

O ACONTECIMENTO

Esta semana traz consigo o regresso de dois pesos pesados – um deles é o de M. Night Shyamalan. Após as eternas discussões sobre a sua última obra (A Senhora da Água, que gerou ódios e amores na comunidade cinematográficas e dividiu o público), Shyamalan volta a roçar o tema do fantástico, mas com uma base de drama bem real no coração das paisagens emocionais dos EUA.

Perante uma série de acontecimentos sem explicação, que se sucedem pelos parques naturais de algumas cidades dos EUA, os humanos mergulham no estado de transe e cometem a sua própria morte, numa espécie de suicídio dormente. Entre os sobreviventes destes ataques, que se colocam em fuga à laia de um êxodo, encontram-se um professor de ciências e a sua complexa namorada (Mark Wahlberg e Zooey Deschanel), responsáveis pela filha de um amigo e completamente frágeis perante os acontecimentos naturais (ou não) que se vão sucedendo, enquanto fogem pela sua sobrevivência e tentam interpretar os sinais da crise para obterem uma resposta.

É um sentimento triste e desolado que Shyamalan faz descobrir neste filme, que apesar de não mostrar a sua cara (nem contar com a sua participação), reflecte bem o seu estado de alma. Shyamalan está - literalmente - chateado com os críticos e a “correcta” ou “suposta” maneira de fazer cinema. Um recente artigo publicado no LA Times revela claramente a visão do realizador face à sua obra, ao mundo dos públicos e dos filmes. No entanto, a questão relevante não se prende, enquanto espectador, com o sentimento que o criador alimenta, mas sim o facto de como ele elabora uma nova obra, um novo filme, e nessa perspectiva estamos perante um terrível fracasso.

Ainda que munido de uma boa ideia e algumas cenas bem pensadas e elaboradas (como a questão da tragédia dos miúdos que os acompanham ou até o suspense das mortes), Shyamalan não faz um filme, somente junta inúmeras cenas numa só fita e esquece os plots. O argumento perde credibilidade e força ao fim de meia hora (após um início bem conseguido) e chega mesmo a ser absolutamente ridículo e inverosímil na meia hora final, onde, de um momento para o outro, uma solução “deus ex machina” irrompe descaradamente no ecrã, à falta total de ideia e inspiração do realizador. O elenco é terrível, seja um Mark Wahlberg pateta, uma Zooey Deschanel insuportável e sem carisma, até um John Leguizamo apático e sem vida. Ou seja, Shyamalan fez um filme “para si mesmo”, onde juntou os elementos do paranormal e um suspense à Hitchcock e deu-lhe o início, meio e fim que quis sem se preocupar com mais nada, para demonstrar o que sente e o poder que tem. Pena ter-se esquecido do mais importante: o seu público, que esperava de si algo de qualidade superior, ainda que simpatizantes ou não d’ A Senhora da Água (uma discussão absurda e sobrevalorizada a meu ver), uma vez que considero Shyamalan um fabuloso contador de histórias e um óptimo retratista de emoções tão primitivas como actuais no mundo em que vivemos, para além de ser um autor de enorme visão artística.

Por tudo isso e em suma, é uma desilusão ver uma boa ideia ser transformada num protesto pueril e sem estrutura, muito longe de qualquer obra por si anteriormente concebida. Esperamos melhores dias para os desaires artísticos de Shyamalan, que percorrem neste momento dias de amargura.




O INCRÍVEL HULK

O outro regresso é o de Hulk, um dos triunfos maiores da Marvel, que renasce novamente no grande ecrã, desta vez por outras mãos e com um novo olhar. Louis Leterrier (Correio de Risco 2) toma a rédeas da realização e oferece entretenimento como ninguém, durante o tempo em que Bruce Banner (Edward Norton) se lança na procura de uma cura para as elevadas radiações que sofreu e o transformam irremediavelmente no irracional anti-herói verde. Ainda que com a ajuda de Betty Ross (Liv Tyler), Banner/Hulk tem contra si está o exército americano, comandado pelo General Thaddeus Ross (William Hurt) e uma famosa "abominação" (Tim Roth), que elevam o espectáculo de violência para novos caminhos, ao quererem prendê-lo para usar o teu gene na indústria bélica.

Em 2003, aquando da primeira incursão desta personagem no cinema, Ang Lee trouxe para o ecrã um filme fabuloso que detinha uma enorme riqueza, patente quer na questão do argumento (que roçava uma temática quase freudiana com bases de uma tragédia grega) como na sua componente visual (uma realização artisticamente intocável, recheada de inúmeros valores e linguagem da banda desenhada), mas apesar de tudo isso, o filme foi incompreendido e muito mal tratado. (recomendo a quem não apreciou uma nova hipótese de revisão urgente). Como tal, Hulk tornou-se um objecto a redesenhar no mapa cinematográfico, desta vez fora das mãos do cinema de autor, directamente para uma visão mais comercial.

Posto isto, a meu ver, os receios eram grandes. Mas é certo afirmar que, apesar do irrepreensível filme que Lee nos trouxe, esta continuação (que recupera de certa forma, num bom fair-play, a história passada) é uma simpática surpresa, onde a acção ganha mais pontos face a um argumento mais fraco, mas bem doseado de ritmo e força. Norton veste bem a pele do atormentado Banner (ainda que Bana assentasse melhor) e Tim Roth e William Hurt cumprem competentemente a sua missão. Menos se pode apreciar Liv Tyler, que não tem culpa da sua débil representação, na medida que a sua personagem também não o exige, (ao contrário de Jennifer Connelly, a Betty no episódio anterior da estória, uma peça chave com rosto e vida própria). De resto, a adaptação está bem conseguida (mais cingida à BD que o capítulo anterior, é certo) e o final reserva surpresas, seja pelo facto de Hulk alterar a sua postura face ao "mundo", um espaço que surpreendentemente lhe vai fazer um convite "de ferro", o que permite começar a conspirar um pouco sobre futuros filmes de super-heróis.




Francisco Toscano Silva

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3 Comments:

Blogger Nunovsky said...

Having been one of the people who actually liked the first Hulk movie , I must say that I was shocked to know that Universal was preparing itself to make another film , not a sequel , but a new interpretation of the adventures of the non jolly green giant . When it was widely reported on the press that Edward Norton had signed on to play the part of Bruce Banner , the Hulk´s alter ego , I was extremely suspicious , considering that Norton is seen as an extremely serious actor , who apart from one or two light movies , alwas seemed to have a thing for dark projects such as "Fight Club" amongst others . This new version , or reivention , obviously needed a new director , so the studio decided to hire a french director Louis Leterrier , the man behind the "Transporter" films , something that made me think that this project was doomed from the start , and not even the fact that Liv Tyler and William Hurt jumped on board , made me reconsider my point of view as far as considering that a new Hulk film wasn´t needed was concerned . So what do I have to say , now that I´ve seen the film ? Is this new Hulk better than the 2003 version ? One of the things that people will immediatly notice is the change of tone . Whilst Ang Lee´s film really had very few romantic and funny moments , this one gives enough space for the relationship between Bruce and Betty to blossom , and we do find ourselves thinking that their relationship is really what drives the film , considering that Betty is the only one who manages to calm down the beast . The fact that if people thought that there wasn´t any chemistry between Eric Bana and Jennifer Connelly , they will be extremely disapointed once the first scenes that show Edward Norton and Liv Tyler appear on screen - there isn´t a chemistry , only one or two moments when we could feel that the two actors were really trying to make that fictional relationship work . I couldn´t help but to think that Tyler actually had far more chemistry with the Hulk than with Norton himself . As for Edward Norton , all that I can say is that he´s a better Bruce Banner than Eric Bana , even though sometimes we feel that he just couldn´t care less for what he was doing , and Bana seemed to have taken the job more seriously - too seriously for a comic book movie . The truth is that Ang Lee´s film tried to be more than a simple super hero flick for it dealt with matters that one may find in the books , but certainly doesn´t expect to find them in a movie which is mostly targeted at children or youngsters who only want to see the Hulk smash and destroy everything that stands in his way . This film is more of an action movie , and the action sequences are quite impressive , especially the first time we have the chance to see the Hulk , or glimpses of him , on screen , while he´s fighting a bunch of bad guys in a brazilian factory , and the final battle between the green monster and the Abomination , played by Tim Roth , who is the one who delivers the best performance . Liv Tyler tries to convince us that she really is the new Betty Ross but there was something about her performance that made me doubt her acting skills , even though Betty does have more to do in this film than in the previous one . William Hurt delivers a boring , if yet sometimes truly menacing , performance as General Ross , but after one or two lines , one feels that his character is extremely one dimensional . What really steals the show are the special effects , which are quite incredible , even though the Hulk sometimes looks like a doll and so does his arch nemesis , but still , the film really is a visual feast , an amazing spectacle to watch in front of the silver screen . Marvel fans will certainly recognize certain elements that are a trademark of the Marvel universe , such as references to other characters like Captain America and of course , Tony Stark aka Iron Man , who appears in the final scene .

Had the story been smarter and some of the performances better , I could say that this film was better than the one that was released 5 years ago , but for now I shall say that it´s neither better or worst , they´re both at the same level , the only major difference being that Ang Lee´s version was more introspective and this one focuses more on special effects and action sequences , sometimes failing , sometimes succeeding .

The Incredible Hulk : 0 to 10 : 6

14 de junho de 2008 às 21:09  
Anonymous Anónimo said...

(Contém SPOILERS)

Olá Francisco Toscano Silva.
Vi ontem o filme "O Acontecimento" e li hoje a sua crítica. Não posso deixar de estar em completo desacordo consigo. Não é de certeza o melhor filme de M. Night Shayamalan, mas também não acho que o filme seja um 'flop'.

Durante toda a sua biografia não existe um único filme que não tenha mensagens e significados escondidos, que só os mais atentos conseguem descortinar.
Don't get me wrong, não sou uma fã-número-um de Shayamalan. Posso dizer que gosto de filmes que me surpreendam.
E este foi um deles...

Quando refere na sua crítica que tanto Mark Wahlberg e Zooey Deschanel, e mesmo o elenco em geral, tiveram desempenhos terríveis, gostaria de alertá-lo para o facto de que os seu desempenhos pareciam infantis e adolescentes de propósito. Passo a explicar. Creio que é suposto os actores parecerem crianças! Já que no final do filme eles põem de parte as suas criancices e problemas e descobrem que gostam um do outro realmente e crescem como adultos. O facto de eles crescerem é então a mensagem do filme para a sociedade: "stop fighting, and love one another, and there won't really be a problem."
Não sei se me faço entender. é mais fácil perceber para quem viu o filme.
Entre esses actos:
- Mark Wahlberg a esconder-se entre as carteiras na sala de aula, a apagar as luzes para se esconder da vice-directora da escola, tal como uma criança.
- Zooey a olhar para o telemóvel, a rolar os olhos, e a tentar constantemente esconde-lo e a impedir que ele não vibrasse.
- Ainda a pequena vingança de Mark com a história do xarope para a tosse, para fazer ciúmes. Pura criancice. Ou a falar com a planta de plástico!

Por isso a má actuação dos actores que fala, é na verdade, uma muito, mas mesmo muito boa actuação! Brilhante e propositada!
No final Mark e Zooey, na casa de campo, em vez de ódio sentiram Amor e ficaram bem, mesmo sabendo que a toxina circulava à volta deles. A mensagem de Shayamalan é que a Humanidade tem de deixar de deixar de sentir ódio, vingança, pânico, violência. Foi por isso a senhora idosa morreu, foi por isso que os dois rapazes foram alvejados. Energia negativa, confusão, pânico. E Mark e Zooey morreriam também se continuassem com os seus jogos infantis.

Espero ter-me feito entender...

PS: I'm sorry if I spoil the surprise

15 de junho de 2008 às 14:06  
Blogger Gustavo Fontes Ribeiro said...

Totalmente de acordo com mgix. O acontecimento é um excelente filme em comparação com por exemplo Hulk que levou mais estrelas! Criticar apenas pelo gosto pessoal penso que não chega, se isto é um site de cinema deve-se criticar cinema em todas as suas características. O acontecimento, pessoalmente não gostaste, então de 1 a 10, 10 já não será certamente! Mas e a realização, a execução dos planos, a performance dos actores (aqui entrou na tua apreciação, negativa por sinal), o score da obra, efeitos especiais, argumento, etc, etc. Será que em Hulk tudo isto foi superior ao Acontecimento para valer mais 2 estrelas (em 5 atenção!)?
Em relação ao argumento, não é para ser real, algo que o autor já nos habituou, e é algo metafórico, o que a maioria poderá não entender, mas acho que Mgix explicou bem no final da sua crítica. No momento em que vivemos, com uma escalada de violência, é agradável ver que existe um argumento diferente sem a intervenção de aliens para fazer uma leitura dos acontecimentos actuais.

8 de julho de 2008 às 11:02  

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