Deuxieme


sexta-feira, janeiro 05, 2007

20 ANOS DA MORTE DE ANDREI TARKOWSKY (1932-1986)


5 HUMANISMO EXISTENCIAL: DE ‘SOLARIS’ A ‘STALKER’
Solaris (Solyaris, 1972) é uma adaptação do famoso romance ficção-cientifica do escritor polaco Stanislaw Lem. A história acompanha a jornada do psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis), enviado ao espaço para investigar os estranhos acontecimentos ocorridos na distante estação espacial que orbita o planeta Solaris. Kelvin, é surpreendido ao descobrir que um dos tripulantes se tinha suicidado e outros dois estavam à beira da loucura. De alguma forma, o misterioso oceano de Solaris parece ter a capacidade de influenciar a mente humana, fazendo com que os que entram em contacto com ele recebam ‘visitantes’ inesperados. E Kelvin não é excepção já que depois de algum tempo de permanência na estação orbital, reencontra a sua esposa, falecida há dez anos. A partir daí, o filme passa a examinar os conflitos e as ambiguidades de um homem que recebeu a excepcional oportunidade de reparar os erros do seu passado. Essencialmente, Solaris questiona as motivações da humanidade na sua inútil tentativa de encontrar a solução para suas dúvidas e problemas existenciais na vastidão do Universo. Desde o seu lançamento até hoje, Solaris é por muitos, e exageradamente, considerado como uma resposta soviética a 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), de Stanley Kubrick. Sem dúvida alguma, tratam-se de duas obras-primas do cinema, mas o termo ‘resposta’ não será propriamente o mais adequado para comparar dois filmes que de alguma forma se complementam mutuamente. E Solaris nunca será de todo um 2001 dos pobres.
O Espelho (Zerkalo, 1975) alinha mais ou menos pelo mesmo tema da pesquisa da mente humana, já que é uma formidável exploração dos mecanismos que constituem a memória. Baseado nas poesias de seu pai, Arseni, que constituem a narração que acompanha todo o filme, torna-o talvez o mais autobiográfico do realizador. O protagonista viaja a um passado que continua a existir nas suas mais recônditas lembranças. Pouco se vê do seu presente, mas podemos compreendê-lo quase inteiramente, entrando em contato directo com seu mundo interior, descobrindo o que pensa, os seus maiores sonhos, traumas e desejos. Assim, a memória é a pedra fundamental da nossa personalidade, pois sem ela não temos passado e, consequentemente, nada somos.
Stalker (1979) é seguramente um dos filmes mais visionários de Tarkowsky, que atravessa também o universo da ficção científica e do ensaio filosófico sobre uma região isolada e cercada de mistérios conhecida como ‘Zona’. A origem dos incríveis poderes deste local é aparentemente desconhecida, sendo atribuída à queda de um meteorito ou, ainda, a uma inexplicável presença alienígena. O facto é que qualquer indivíduo que penetre na ‘Zona’ e chegue a uma determinada sala, todos os seus desejos podem tornar-se realidade. No entanto, somente certas pessoas, conhecidas como stalkers, são capazes de evitar as armadilhas e chegar com segurança ao local. Quando dois intelectuais (um cientista e um escritor, provavelmente representando a dicotomia razão versus emoção) resolvem desvendar os segredos da ‘Zona’, um stalker é contratado para guiá-los através desse mundo desconhecido. Os três viajantes deparam-se com a entrada numa sala misteriosa, mas hesitam em entrar, talvez porque se tiverem todos os seus desejos realizados, não encontrarão mais motivos para viver. Ou ainda a possibilidade de sentirem algo mais sombrio: se desejos inconscientes se materializarem, os resultados podem ser imprevisíveis. Stalker é assim um filme que lança um olhar crítico sobre o mundo actual, excessivamente niilista e dependente da ciência e da tecnologia. Essa intenção fica clara, não apenas na amarga decepção do stalker e dos seus dois companheiros de jornada, mas também no paralelo que o realizador faz entre a cena inicial e a final. Logo no começo do filme, quando vemos o copo trepidando na mesa ao som do ruído de um comboio, imediatamente estabelecemos uma relação de causa/efeito entre os dois fenómenos. Apenas na cena final, em que a verdade demonstrada é bastante diferente da nossa primeira suposição, percebemos como a nossa visão é limitada. Estamos de tal forma condicionados pela sociedade moderna que nem sequer levamos em conta qualquer hipótese de explicação não corroborada pela ciência e pelas leis científicas.

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