Deuxieme


segunda-feira, fevereiro 05, 2007

VIVA ROSSELLINI!



‘Na história do cinema, todos os caminhos vão dar a Roma Cidade Aberta
Jean-Luc Godard

Uma viagem ao universo de Roberto Rossellini é a principal proposta da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema para Fevereiro e Março com a projecção integral da obra do realizador, uma obra repleta de confirmações, contradições e revelações. Rossellini foi acima de tudo um homem sempre à frente, cujos os filmes estiveram no centro de algumas revoluções estéticas, mas que nunca se deixou limitar por correntes artíticas ou ideologias políticas. Depois da trilogia da guerra — Roma Cidade Aberta (1945), Libertação (1946) e Alemanha Ano Zero (1948), com Stromboli (1950), afastou-se definitivamente, não sem algum escândalo, do neorealismo e mais tarde do próprio cinema. Por razões comerciais e estéticas vira-se para a televisão pública onde passou os últimos anos da sua carreira a fazer teledramáticos históricos: A Tomada do Poder por Luis XIV (1967), Socrates (1970), Pascal (1971). Apesar de ser também um homem bem adaptado às circustâncias contam-se ainda os seus primeiros filmes ao serviço da propaganda fascista, na qual parece ter aprendido muito: As coisas estão lá para quê manipulá-las, é preciso é revelá-las, dizia o realizador marcado por um cinema cheio de contradições, ao mesmo tempo materialista e metafísico, profano e religioso, positivista e impressionista. Centrando-nos em apenas dois filmes, Roma Cidade Aberta (1945) e Viagem a Itália, são eles que estão no centro das revoluções estéticas lançadas por Rossellini. Roma Cidade Aberta, assume-se como um manifesto do cinema do pós-guerra, feito na rua e fora dos habituais estúdios: um cinema pobre, rodado em cenários naturais e nas ruas em ruínas e pouco iluminadas, com som directo e uma mistura revolucionária no elenco: actores carismáticos, como Aldo Fabrizi (o padre) e a ainda jovem Ana Magnani (a heroína que morre a meio do filme, numa das cenas mais inesquecíveis da história do cinema) e não actores para melhor recriar e registar a realidade. Depois veio o encontro amoroso com Ingrid Bergman em Stromboli (1950) um filme com um raro sentido documental e de tónica existencialista como aliás Europa 51 (1951). Se Roma Cidade Aberta rompeu com o cinema tradicional feito em estúdio, Viagem a Itália, é o momento da criação do ‘cinema moderno’, centrado num casal de ingleses (George Sanders e Ingrid Bergman) em crise conjugal no contexto das paisagens do Sul e em particular nas ruínas de Pompeia (em outra fabulosa cena dos amantes de lava abraçados para a eternidade), onde o realizador questiona a incomunicabilidade, a interioridade a contradição dos sentimentos até ao milagre real e ao milagre do amor e da reconciliação, onde culmina a simples história. Com Viagem a Itália, os gestos simples, as histórias insignificantes e as personagewns complexas tornam-se essência e lançam as bases do cinema moderno. E que seria de Godard, Straub, Jean Rouch, Pasolini ou mesmo Pedro Costa sem este Viagem a Itália? Feito o luto por Bergmam, Rosselini regressa ao seu cinema primeiro com o documental India (1958) e com O General della Rovere, com Vittorio di Sica, que se fartou de apanhar da crítica. Quando parecia que estava sossegado, conformado e com o génio esgotado eis que se vira para aos teledramáticos históricos até quase à sua morte em 1977.
A acompanhar o Ciclo Roberto Rossellini e o Cinema Revelador, há um catálogo que é uma verdadeira ‘bíblia rosselliniana’, onde figuram alguns dos maiores especialistas da obra do cineasta, tanto em artigos originais escritos a propósito, quer em artigos já publicados na época ou posteriormente. É o caso de Pio Baldelli, Sandro Bernardi, Tag Gallagher — um dos maiores biógrafos de Rossellini — , Alain Bergala e Adriano Aprá. Outra parte fundamental deste catálogo é antológica, desde um texto fundador da nouvelle vague e da crítica rosseliana, Lettre sur Rossellini, de Jacques Rivette, publicado nos Cahiers do Cinema em 1955, entrevistas ao realizador feitas em várias épocas, a carta de Rossellini a Ingrid Bergman, a introdução ao livro de Rossellini sobre Karl Marx. Para além de muitos textos do realizador, outra secção importante é a que recorda a sua visita a Portugal em 1973, com artigos da revista Cinéfilo e uma entrevista ao Expresso, feita por Helena Vaz da Silva. Um livro indispensável.

José VIEIRA MENDES

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Rosselini marca claramente um ponto de viragem na história do cinema, com repercussões que podemos ver ainda hoje (o próprio Scorsese, por exemplo, reconhece-o no documentário por si recentemente lançado). Acho que o neo-realismo encontra neste realizador o seu expoente máximo. É de todos o melhor. Gostava de ter visto o Roma Cidade Aberta na Cinemateca, mas já passou… Agora só indo à Fnac, e dar 22 euros pelo DVD.

15 de fevereiro de 2007 às 13:14  

Enviar um comentário

<< Home

Menu Principal

Home
Visitantes
Website Hit Counters

CONTACTO

deuxieme.blog@gmail.com

Links

Descritivo

"O blogue de cinema"

  • Estreias e filmes em exibição
  • Próximas Estreias
  • Arquivos

    outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011

    Powered By





     
    CANTINHOS A VISITAR
  • Premiere.Com
  • Sound + Vision
  • Cinema2000
  • CineCartaz Público
  • CineDoc
  • IMDB
  • MovieWeb
  • EMPIRE
  • AllMovieGuide
  • /Film
  • Ain't It Cool News
  • Movies.Com
  • Variety
  • Senses of Cinema
  • Hollywood.Com
  • AFI
  • Criterion Collection