Quando Eddie Murphy era mesmo... Delirante
Em 1982, um jovem saído do Saturday Night Live dava nas vistas ao lado de Nick Nolte, no seu filme de estreia. 48 Horas (Walter Hill), assinalou o início da carreira no cinema deste rapaz que, aos 21 anos, chamava já a atenção pela sua versatilidade, imitação de vozes, pela impulsividade com que descarregava piadas instantaneamente, pela irreverência que transportava do set para a câmara, no fundo, pela capacidade de representação que manobrava em pleno com os papeis que lhe eram oferecidos.
O início dos anos oitenta marcou o seu melhor período, com títulos como Os Ricos e os Pobres (John Landis) e O Caça Polícias (Martin Brest). Três filmes consecutivos que faziam prever uma carreira brilhante. Contudo, o futuro auspicioso não se confirmou, e só em meados dos anos 90 é que Eddie Murphy voltou a cair nas graças do público, que brindou os seus filmes com enormes receitas de bilheteira. Com efeito, não será de estranhar se os trabalhos mais citados actualmente de Eddie Murphy forem talvez O Professor Chanfrado, Dr. Dolittle ou Shrek.
Porém, convém não esquecer as origens deste actor, e as competências originais que proporcionaram a ascensão meteórica de há 25 anos atrás. E é exactamente com o propósito de nos relembrar disso mesmo, que surge agora o DVD de Delirious (1983), um dos mais representativos objectos do tempo em questão, captado num memorável momento televisivo de Stand-Up Comedy. Em Delirious, Murphy oferece-nos quiçá o seu melhor material de sempre, num tour de force incrível, onde ao longo de uma hora somos impressionados pela constante energia e vigor do comediante. Neste espectáculo incluem-se dissertações sobre a sexualidade de Mr. T, a importância de um mero gelado para qualquer criança, racismo, e sobre a sua peculiar família, sobretudo o pai constantemente embriagado. Talvez o maior entrave para o lançamento deste filme tenha sido o acto de abertura, onde o actor brinca descaradamente com os homossexuais, servindo-se da recente aparição da SIDA para presentear os espectadores com algo nunca vista até então. Murphy declarou anos depois arrependimento perante algum material de Delirious, contudo, o constante adiar deste lançamento, que o próprio defendeu, apenas serviu para conferir à obra um estatuto ainda maior de relíquia histórica. Como o VHS ainda pode ser imprescindível para alguns. Diga o que Murphy disser, jamais Delirious deixará de ser aquele instante percebido por todos como a chegada de um jovem talentoso ao estrelato. Algumas piadas não são de digestão fácil, e é totalmente legitimo que Murphy sinta algum remorso por ter escrito material que 25 anos depois não tem um sentido lógico. No entanto, contextualizada, esta hora deveria ser um dos seus maiores motivos de orgulho, ao contrário de algumas das suas recentes comédias, que nos deixam tão perplexos quando olhamos para trás e vemos do que o homem é capaz.
Alvy Singer
2 Comments:
No Google Video, ainda é possível ver o espectáculo seguinte dele, o Raw e há uns dias vi o próprio Delirious..
Do Raw, também soberbo, recordo sobretudo a descrição do tipico italian guy (aí à passagem de uma hora e cinco minutos), e da analogia com a saga Rocky. "What I like about Stallone's movies is the realism". Tudo isto com um sotaque exemplar. Raw também é muito bom, mas parece-me que Delirious consegue ser um pouco superior. Em todo o caso, dois excelentes produtos de um grande comediante no auge da sua forma.
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