O FURACÃO TARANTINO (7)
Depois do ‘Furacão Tarantino’, e do seu Death Proof, na Competição Oficial de Cannes, nada ficará como dantes! Há mesmo num determinado sector da crítica quem lhe atribuía já a Palma de Ouro, numa altura em que ainda faltam cerca de dez filmes para terminar a Competição. O filme em si à primeira vista é um ensaio estilistico inspirado nos slasher movies dos anos 70 e, resume-se ao seguinte argumento: na primeira parte três sexys e formosas raparigas primeiro num bar e depois num velho carro japonês dialogam longamente sobre temas de sexo, até que Mike, um paranóico ex-duplo de cinema (Ken Russel), com quem se tinham cruzado no bar, choca de frente e propositadamente contra elas na estrada provocando uma sequência de cinema gore, ao nível mais extremo, com chapa, braços e pernas a voar por todos os lados; na segunda parte outras três raparigas agora mais radicais e menos ingénuas (entre elas Rosário Dawson e a neo-zelandeza Zoe Bell, que foi dupla de Uma Thurman em Kill Bill, e aparece agora com actriz, interpretando-se a ela propria), voltam aos diálogo sobre sexo, dentro de um Chevrolet Amarelo, parecido com o fato de Thurman em Kill Bill. Até que novamente o louco ex-duplo tenta atirá-las fora da estrada. Entretanto e numa extraordinária cena de perseguição de automóveis, o feitiço vira-se contra o feiticeiro e assim acaba o filme. Isto tudo com cortes bruscos na montagem, repetições, e uma cópia cheia de riscos, como é de apraxe. O argumento é simples e minimalista, inspirado sem ser demasiado revivalista nos filmes dos anos 70, — estão lá muitos filmes B, mas também, algo de Duel-O Carro Assassino, de Steven Spielberg — sem um género especifico e com um toque de modernidade e uma banda sonora a condizer, que o coloca mais no domínio de uma obra de arte contemporânea, do que do cinema, no seu lado artístico mais convencional. Goste-se ou não se goste Death Proof não consegue deixar-nos ficar indiferentes e promete grandes cizões na crítica e no público.
Em relação aos filmes do dia, realce para Le Scaphandre et le Papillon, de Julian Schnabel (o realizador de Antes que Anoiteça, sobre o escritor cubano Reinaldo Arenas), agora numa belíssima adapatação do livro autobiográfico de Jean-Dominique Bauby, um ex-director da revista Elle francesa e uma grande figura da moda, que repentinamente sofre um AVC, e fica paralizado e numa cadeira de rodas.É um filme duríssimo que nos mostra a perspectiva íntima de Bauby, a sua nova forma de ver o mundo, na sua situação de incapacitado, depois de uma vida cheia de experiências pessoais e profissionais. Le Scaphandre et le Papillon, e um filme pouco adequado aos mais impressionáveis, a todos os directores de revista e a todos aqueles que lidam com deadlines e situações de stress diárias.
Da secção Un Certain Regard, chegou-nos Mister Lonely, da autoria de Harmonie Korine, o novo wonderboy do cinema norte-americano. É uma divertida história de um encontro de sósias de grandes íconos do cinema, e onde brilham dois jovens actores: Samatha Morton e Diego Luna. Para terminar uma referência para o regresso do realizador hungaro Bela Tárr e para a expectativa criada à volta desta adaptação cinematográfica algo convencional e já várias vezes tentada sem sucesso, de O Homem de Londres de George Simenon.
1 Comments:
Mas gostou no novo Béla Tarr? Li críticas tépidas ao genial cineasta húngaro. E quanto ao Tarantino, li também críticas muito negativas, como se o autor de "Pulp Ficion" se limitasse a ser um pastiche dele próprio...
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