Festival de Animação de Annecy - Dia 4
Agora em velocidade de cruzeiro e a aproximar-se da recta final, o Festival de Animação de Annecy continua a surpreender. Dois dos eventos do dia foram os debates em redor de dois filmes que estrearão proximamente um pouco por todo o lado: "Surf's Up", um falso documentário em animação por computador sobre pinguins, que promete surpreender pela força do próprio conceito, e um dos mais aguardados filmes da temporada, "Persepolis", que não foi exibido em Annecy porque os produtores preferiram apostar tudo no Festival de Cannes, onde o filme seria premiado. Marjane Satrapi, co-realizadora do filme e autora da BD autobiográfica em que ele se baseia, não pôde estar presente, mas imagens e o making of deixaram água na boca. Iremos vê-lo em sala em Portugal?
Na quarta sessão da competição oficial de curtas, não houve filmes geniais, mas houve, ainda assim, boas propostas. A mais polémica terá sido a nova película de Andreas Hykade, "The Runt", sobre um garoto que se vê forçado a matar o seu coelho azul, e que nos confronta com os factos que hipocritamente esquecemos que existem: não queremos sujar as mãos com o sangue dos animais, mas comemo-los alegremente se forem outros a fazê-lo. Muito divertidos foram os norte-americanos "Game Over", do colectivo PES, que recria em animação de volumes alguns dos mais antigos e emblemáticos jogos de vídeo; e "Battle of the Álbum Covers", de Rohitash Rao e Abraham Spear, que retrata uma luta entre capas celebres de LPs.
Na competição de longas-metragens foram apresentados dois filmes muito diferentes. Um deles foi o norueguês "Slipp Jimmy Fri", de Christopher Nielson, um hino ao politicamente incorrecto com as desventuras de quatro anti-heróis numa historia algo desconexa com varias reviravoltas, nem sempre bem conseguidas. É um filme em animação por computador, em que a animação propriamente dita é muito fraca, que poderá ter alguma carreira graças a sua irreverência e a um elenco vocal que conta com nomes como Woody Harrelson e Simon Pegg.
Muito melhor foi "Max & Co", dos gémeos Samuel e Frederic Guillaume, uma co-produção entre a Suíça, Bélgica, Franca e Grã-bretanha, que é uma das grandes surpresas do festival.
Filme em animação de marionetas, com um argumento muito sólido, figuras visualmente muito cativantes e uma animação de excepcional fluidez, teve uma excelente recepção no festival, com os realizadores a serem muito aplaudidos. Trata-se da história de um raposinho musico em busca do seu pai e das aventuras que vive numa cidade cuja economia depende de uma fábrica de mata-moscas gerida por sapos que corre o risco de abrir falência. Com personagens muito bem caracterizadas e animadas, pode ser este o vencedor do festival na categoria de longas-metragens se o júri considerar que os geniais "Azur et Asmar" e "Paprika", obviamente superiores, estão além dos filmes de festivais e já provaram ser grandes sucessos de público nas salas, preferindo 'empurrar' para a ribalta um filme menos conhecido. Ou seja, premiar um filme de festival que ainda não estreou internacionalmente por oposição a filmes para o grande público, que já triunfaram nas salas, mesmo que, neste caso concreto, eles sejam objectivamente superiores. Veremos que surpresas a entrega de premios, a da noite de sabado, nos reserva.
Luís Salvado
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