MICHELANGELO ANTONIONI (1912-2007)
A IDENTIFICAÇÃO DE UM CINEASTA
por José Vieira MENDES
Depois de Ingmar Bergman, desapareceu outra das grandes figuras da história do cinema mundial. O cineasta italiano Michelangelo Antonioni, morreu ontem na sua casa de Roma aos 94 anos de idade, deixando a cinefilia duplamente enlutada, por tão triste coincidência. Fica-nos a ideia que os dois grandes mestres europeus parecem ter querido chegar quase em simultâneo ao Olimpo dos artistas, que revolucionaram a história do cinema do século passado e ajudaram com a sua genealidade a mudar o mundo, já que em síntese a temática dos filmes de Antonioni gira quase sempre à volta da crise de sentimentos e da incomunicabilidade da sociedade burguesa. E por outro lado, a narrativa argumental das suas obras como que cede em importância ao reflexo da passagem do tempo como experiência vital, substituindo a descrição dos elementos, pela representação concreta dos factos. Da sua filmografia, não muito extensa, que tem inicio na década de 50, com Escândalo de Amor, e que culmina na trilogia formada por A Aventura, A Noite e O Eclipse, destacam-se ainda outras obras importantes como Le Amiche, O Grito, Deserto Vermelho, Blow Up-História de um Fotógrafo, Zabriskie Point, Identificação de uma Mulher, O Mistério de Oberwald e Profissão-Repórter. O último filme assinado por Antonioni foi Il Filo Pereicoloso delle Cose, uma curta-metragem da obra colectiva Eros, apresentada em 2004 na Mostra Cinematográfica de Veneza.
Michelangelo Antonioni nasceu em Ferrara (Itália) a 29 de Setembro de 1912 e de facto sempre foi ao lado de Rosselini uma das figuras mais controversas do cinema italiano, que curiosamente viveu a sua época dourada durante a década de 60, que coincide com o apogeu do realizador. Foi precisamente com Roberto Rosselini com que começou a trabalhar, como argumentista do filme de propaganda fascista Un Pilota Ritorna (1941), e antes disso já escrevia críticas de cinema. Estreou-se como realizador com Escândalo de Amor, em 1953, mas a verdadeira consagração internacional obteve-a em 1960 no Festival de Cannes, onde apresentou A Aventura, realizado um ano antes. Seguiram-se os filmes que completam a trilogia A Noite (1960), O Eclipse (1961) e ainda o maravilhoso Deserto Vermelho (1964), que marcam o seu estilo muito pessoal e militante. Desde os seus primeiros filmes que Antonioni pareceu preocupar-se com os males da sociedade e com um certo sentimento de incomunicabilidade entre as pessoas. Talvez por isso os seus filmes estejam pejados de silêncios e sejam construidos de uma forma complexa de modo a captar desesperadamente o vazio existencial da burguesia da sua época e a causarem um forte impacto social.
Em 1966, realiza Blow Up-História de um Fotógrafo, talvez o seu filme mais popular e comercial, baseado num famoso romance de Julio Cortázar, onde propôe uma extraordinária reflexão sobre a manipulação das imagens fotográficas e a sua interpretação. Na mesma linha situa-se o seu filme seguinte Zabriskie Point (1969) na sua experiência norte-americana, um filme que novamente procura combinar pretensões matalinguísticas com aspirações comerciais. Mas pouco a pouco começa a decrescer o interesse comercial pela obra de Antonioni, embora tente continuar febrilmente activo na sua militãncia cinematográfica, primeiro com o thriller jornalístico Profissão: Repórter (1975), a sua curiosa experimentação no domínio do video com o notável Mistério de Oberwald (1981) e o belíssimo drama de Identificação de uma Mulher (1982). O seu último filme Para Além da Nuvens (1995) foi co-dirigido por Wim Wenders. Se actualmente e talvez devido à doença e ao ambiente da política em Itália, a figura de Antonioni já não goza-se do prestígio e da aura mítica que teve nos anos 60, uma revisitação da sua obra como aconteceu recentemente com o regresso às salas de Profissão: Repórter, pode revelar profundas suspresas, e actualiadade, além de ser a chave para a compreensão do cinema nas últimas décadas.
por José Vieira MENDES
Depois de Ingmar Bergman, desapareceu outra das grandes figuras da história do cinema mundial. O cineasta italiano Michelangelo Antonioni, morreu ontem na sua casa de Roma aos 94 anos de idade, deixando a cinefilia duplamente enlutada, por tão triste coincidência. Fica-nos a ideia que os dois grandes mestres europeus parecem ter querido chegar quase em simultâneo ao Olimpo dos artistas, que revolucionaram a história do cinema do século passado e ajudaram com a sua genealidade a mudar o mundo, já que em síntese a temática dos filmes de Antonioni gira quase sempre à volta da crise de sentimentos e da incomunicabilidade da sociedade burguesa. E por outro lado, a narrativa argumental das suas obras como que cede em importância ao reflexo da passagem do tempo como experiência vital, substituindo a descrição dos elementos, pela representação concreta dos factos. Da sua filmografia, não muito extensa, que tem inicio na década de 50, com Escândalo de Amor, e que culmina na trilogia formada por A Aventura, A Noite e O Eclipse, destacam-se ainda outras obras importantes como Le Amiche, O Grito, Deserto Vermelho, Blow Up-História de um Fotógrafo, Zabriskie Point, Identificação de uma Mulher, O Mistério de Oberwald e Profissão-Repórter. O último filme assinado por Antonioni foi Il Filo Pereicoloso delle Cose, uma curta-metragem da obra colectiva Eros, apresentada em 2004 na Mostra Cinematográfica de Veneza.
Michelangelo Antonioni nasceu em Ferrara (Itália) a 29 de Setembro de 1912 e de facto sempre foi ao lado de Rosselini uma das figuras mais controversas do cinema italiano, que curiosamente viveu a sua época dourada durante a década de 60, que coincide com o apogeu do realizador. Foi precisamente com Roberto Rosselini com que começou a trabalhar, como argumentista do filme de propaganda fascista Un Pilota Ritorna (1941), e antes disso já escrevia críticas de cinema. Estreou-se como realizador com Escândalo de Amor, em 1953, mas a verdadeira consagração internacional obteve-a em 1960 no Festival de Cannes, onde apresentou A Aventura, realizado um ano antes. Seguiram-se os filmes que completam a trilogia A Noite (1960), O Eclipse (1961) e ainda o maravilhoso Deserto Vermelho (1964), que marcam o seu estilo muito pessoal e militante. Desde os seus primeiros filmes que Antonioni pareceu preocupar-se com os males da sociedade e com um certo sentimento de incomunicabilidade entre as pessoas. Talvez por isso os seus filmes estejam pejados de silêncios e sejam construidos de uma forma complexa de modo a captar desesperadamente o vazio existencial da burguesia da sua época e a causarem um forte impacto social.
Em 1966, realiza Blow Up-História de um Fotógrafo, talvez o seu filme mais popular e comercial, baseado num famoso romance de Julio Cortázar, onde propôe uma extraordinária reflexão sobre a manipulação das imagens fotográficas e a sua interpretação. Na mesma linha situa-se o seu filme seguinte Zabriskie Point (1969) na sua experiência norte-americana, um filme que novamente procura combinar pretensões matalinguísticas com aspirações comerciais. Mas pouco a pouco começa a decrescer o interesse comercial pela obra de Antonioni, embora tente continuar febrilmente activo na sua militãncia cinematográfica, primeiro com o thriller jornalístico Profissão: Repórter (1975), a sua curiosa experimentação no domínio do video com o notável Mistério de Oberwald (1981) e o belíssimo drama de Identificação de uma Mulher (1982). O seu último filme Para Além da Nuvens (1995) foi co-dirigido por Wim Wenders. Se actualmente e talvez devido à doença e ao ambiente da política em Itália, a figura de Antonioni já não goza-se do prestígio e da aura mítica que teve nos anos 60, uma revisitação da sua obra como aconteceu recentemente com o regresso às salas de Profissão: Repórter, pode revelar profundas suspresas, e actualiadade, além de ser a chave para a compreensão do cinema nas últimas décadas.
2 Comments:
Comprei ha três dias o Blow-up... :shock:
Epá por esta é que um gajo não esperava. Morre o Bergman e logo a seguir o Antonioni. Curioso, porque o Bergman não gostava nada do trabalho do Antonioni, achava-o "dispensável".
Eu cá, gostava dos 2. O "Profissão: Repórter" é muito maior do que aquilo que as pessoas fazem dele, digo eu. Faz parte dos meus preferidos. Excelente drama sobre identidade.
É mais um dos bons a morrer. Não me preocupava tanto se houvessem outros a substitui-los ao mesmo ritmo que estes desaparecem.
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