Here's looking at you kid.
Casablanca é o exame de código de todos os cinéfilos. Quem ainda não viu este filme, não está devidamente autorizado a conduzir na acidentada e sinuosa estrada que é a sétima arte. Isto é, quem não viu a obra-prima de Michael Curtiz, não possui ainda a carta que lhe permite olhar para As Pontes de Madison County, por exemplo, e aperceber-se de todas aquelas regras de prioridade, sinais, iluminação e por aí adiante. É claro que existe por aí muito boa gente sem carta, o que acaba por deitar por terra esta metáfora. A todos esses que lêem estas linhas, ilustro a importância deste filme da seguinte forma: Casablanca é o Passe Social de todos os transportes públicos.
Casablanca foi um dos primeiros filmes que vi. No entanto, muito antes de o ver, já ouvia falar dele. Recordo-me de ainda nem sequer saber o que significava a palavra do título, e ver numa daquelas páginas dos jornais dedicadas a passatempos, a fotografia a preto e branco de um homem e de uma mulher, sob chuva intensa e com um avião em pano de fundo. A pergunta era aquela que, por vezes, surge neste blog: Qual é o Filme?
Hoje, muitos anos e dezenas de visionamentos depois, afirmo sem qualquer reserva que este se trata de um dos meus filmes preferidos. A par de outra, esta continua a ser a única obra onde ainda não consegui encontrar uma falha. Um filme absolutamente irrepreensível, ironicamente, sobre uma história que dificilmente se contaria de forma mais simples. Um filme intemporal de 1942. Perdoem-me a ousadia mas, Rick e Ilsa estão para o cinema, como Romeu e Julieta estão para a literatura.
Agora, porque razão um post sobre Casablanca? Este post não surge por acaso, antes da colocação do segundo beijo mais inesquecível da história da sétima arte. Como muitos se recordarão, procedeu-se a uma votação neste blog tendo em vista a eleição do beijo mais memorável de sempre. Pois bem, o terceiro votado foi Casablanca – A cena do aeroporto. Na altura, bem me queria parecer que algo não estaria bem nesta escolha. Aqui fica o vídeo que comprova esta teoria.
A verdade é que Rick e Ilsa não se beijam na cena final. Apesar desta convicção estar bem cravada na mente da comunidade cinéfila que todos partilhamos, apenas existem dois momentos em todo o filme, em que Rick e Ilsa se beijam. O primeiro é num flashback em Paris, no dia da ocupação nazi. É antes desse beijo que Ingrid Bergman pronuncia o famoso pedido, Kiss me. Kiss me as if it were the last time. O outro momento em que os dois se beijam, reporta à cena em que Ilsa se dirige ao apartamento de Rick, de arma em punho, para lhe pedir os vistos. A cena termina no pólo sentimental oposto ao que começa. Aqui fica um clip onde, de relance, é possível ver estes dois instantes (embora num deles, nem dê bem para perceber o que acontece).
Para sempre recordarei o comentário de Billy Cristal em Um Amor Inevitável, quando acompanha este filme pelo telefone com Meg Ryan, e a obra chega ao fim. Mmm, best last line of a movie ever.
6 Comments:
Só uma ligeira correcção: a deixa não é "he's looking at you", mas "here's looking at you". Se não me engano, é dita aquando de um brinde de Rick (ou seja, é algo como "eu brindo a [poder] olhar para ti").
Tem toda a razão. Obrigado pela chamada de atenção. Correcção em curso, jvn. Vou já mudar ali em cima.
E passando a publicidade aquela famosa bebida que começa em B e acaba... ops... é só um B
"EU ESTOU INOCENTE!!!!" há coisa de 3 minutos! lol
Nunca vi um post que me influenciasse tanto como o seu, Alvy.
Já tinha aqui o "Casablanca" há eternidades e até hoje nunca o tinha visto. Mas ler tudo o que escreveu ainda para mais ter-me acusado de andar a infringir a lei por não ter carta deixou-me um enorme peso na consciência!
"AI CULPADO!" foi o que pensei!
Mas desde já tenho de agradecer por este empurrão que faltava, pois eu adorei o filme do inicio ao fim! Nunca me passou pela cabeça que Casablanca fosse... o que foi! Sabia que deveria ser bom, aliás, estamos a falar de um clássico, mas nunca me ocorreu que eu fosse venerá-lo tanto!
Eu ja vi muitos outros filmes clássicos, mas de certeza que me faltam muitos mais que vão tornar a minha "carta" mais "sólida" (por assim dizer), então eu vou dar a seguinte ideia: porque é que o Alvy não elabora uma lista dos filmes que todos os cinéfilos devem ver? Aqueles clássicos que enriquecem qualquer um que queira vir não só a perceber mais de cinema mas quem sabe... vir a tornar isto profissão (...por menos é o que eu daqui a uns anitos espero conseguir).
Cá espero por resposta e, quem sabe, uma lista :)
E de repente fez-se luz...
http://www.youtube.com/watch?v=zNXm5EKSZQI
Na altura que vi esse episódio de House fiquei a leste, agora até vejo a luz que me ilumina! :P
Vou ser sincero, já vi Casablanca há carradas de tempo e só tenho marcadas algumas cenas e dou-me como culpado, porque já não recordo de muito.
Mas é um dos (muitos) filmes para rever... e o tempo livre que é tão pouco...
Essa tua frase inicial é divinal. Vai direitinha para o meu blogue num destes próximos dias!
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