As divagações do Wikipedia.
O Wikipedia poderá servir para muitas coisas. Acredito piamente que existirá algures, um tipo que trabalha numa empresa onde pode imprimir páginas e tirar fotocópias o dia todo, e que, durante o expediente, nada mais faz senão imprimir documentos do Wikipedia que, mais tarde e já em casa, guarda num dossier arquivador por ordem alfabética. Este individuo até pode ser muito feliz assim. No entanto, a sua cultura cinematográfica sofrerá um pouco com isto.
Sem entrar em pormenores, mas convidando a que os descubram, existem algumas coisas assustadoras na análise a O Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci. Aquilo até começa bem, com uma sinopse de uma linha, a apresentação do elenco, quem compôs a banda-sonora, por aí adiante. Contudo, quando o tema é a mítica cena da manteiga, as coisas descambam. Só para terem uma ideia, o artigo acaba a falar do lubrificador K-Y Jelly. Até Marlon Brando leva uma alfinetada. Confesso que pensei em alguma coisa engraçada para dizer, mas não é preciso. Este é aquele tipo de material que é hilariante por si só. É ver com os próprios olhos, aqui.
Alvy Singer
7 Comments:
Eu uso o K-Y Jelly, muito bom.
From imdb:
«The movie's line "Go, get the butter." was voted as the #67 of "The 100 Greatest Movie Lines" by Premiere in 2007.»
Eu sei que era suposto ser engraçado mas fiquei demasiado chocada para isso...
Agora que releio o texto, consigo ver um lado didático que ainda não tinha encontrado. Misturar 'O Último Tango em Paris' com os trabalhos de Nina Hartley e Tristan Taormino oferece-nos toda uma nova perspectiva sobre a dificuldade da rodagem. Concordo, Sara. Rir ou ficar chocado, são duas respostas plausiveis a este texto.
Caro alvy singer
Eu até estimo muito as suas crónicas, e o esforço em participar/manter neste blog, mas este post é bastante triste.
Aliás como Marlon Brando e o próprio filme. É sabido que Brando fez este filme numa atitude petulante e de desleixo, não se importando em entender a personagem, em estudar textos, ou em simplesmente dizer as suas falas.
E se a famigerada cena foi decidida quase no momento, sendo que Schneider não a queria fazer, e ficou/sentiu-se humilhada daquela tal maneira, acho que é pouco sadio fazer humor com a questão.
A ser tudo isso verdade, é para mim mais uma mancha na carreira de um actor por quem eu (e sim sou um iconoclasta sem gosto ou requinte) não nutro admiração ou respeito de maior.
Deltóide, antes de tudo, começo por pedir desculpa. Quando a mensagem não chega ao receptor como seria desejável, a culpa só pode ser do emissor. Pelo menos, quando o meio de comunicação é um blog. Receio, por isso, não me ter exprimido da forma clara que julgara.
Quando classifico esta situação de hilariante, não me refiro, obviamente, ao sofrimento que esta cena em particular possa ter causado a Maria Schneider. A ser verdade, como parece ser, não tenha a menor dúvida que sou o primeiro a condenar tais comportamentos. E, já agora, aproveito para dizer que os condeno.
No entanto, este post nunca teria existido se o artigo terminasse nesse ponto. Só que não termina. Dissertar num texto cinematográfico sobre questões universais do foro sexual, parece-me que é fugir um pouco ao tema central. De facto, há muitas coisas para dizer sobre esta obra. Mas, os filmes de Nina Hartley e Tristan Taormino não são uma delas. Quantas linhas do artigo são gastas a falar, por exemplo, da ideia de Bertolucci que originou o filme? Parece-me que seria, talvez, mais interessante.
Por último, quando digo que até Marlon Brando leva uma alfinetada, refiro-me a este julgamento perspicaz: “It is obvious that Brando had no proper training, because butter is a poor lubricant”. Até hoje não sabia que Marlon Brando tinha sugerido manteiga por falta de prática. Pensava que tinha sido somente uma tirada de génio.
Para que não reste qualquer dúvida, Deltóide, sublinho condenar toda e qualquer subjugação a Maria Schneider. O artigo faz bem em focar esse importante aspecto. No entanto, há certas conclusões e divagações que, a meu ver, eram escusadas.
Caro alvy singer
Não se preocupe. Eu já calculava que repudiasse o evento!
O ponto mais pessoal é o de que me lembrei claramente de que quando vi o filme - já há muito tempo atrás - mais do que me ficar na memória a manteiga, ficou a submissão, a humilhação, e o castigo degradante que o sexo pode ser, e a que por vezes nos podemos mesmo auto-submeter. E isso no filme é uma face importante e didáctica... Aliás, muito didáctica e construtiva. Tenho mesmo pena que por vezes o sexo seja tão romanceado no cinema, e não se mostre que este, quando cru e um fim em si próprio, pode ter consequências pessoais graves.
E (obviamente) não podia concordar mais consigo: aquela página da wiki não prima pelo rigor técnico, científico ou qualquer outro...
Cumprimentos
Enviar um comentário
<< Home