PREMIERE: Um Adeus Português
Foi durante um ano (e um ano apenas) que escrevi sobre cinema na Premiere. Foi há um ano (e há um ano apenas) que comecei precisamente pelo cinema português (“Transe” de Teresa Villaverde). Tal como há um ano (e um ano depois) termino precisamente pelo cinema português (“O Capacete Dourado” de Jorge Cramez). E eu que não acredito em coincidências, dei por mim a encontrar na história deste círculo fechado a expressão comum de uma actriz maravilhosa: Ana Moreira. És a face do cinema português. Foste a face que abriu e fechou esta minha viagem tão curta (um ano assim nunca chega para viagem nenhuma).
Perdoa-me Teresa Villaverde se não perdoei ao teu filme o tom céptico com que admoestavas a natureza humana. Perdoa-me Jorge Cramez se encontrei no teu filme a imagem de esperança que faltava a este país. Raramente gostámos de nós próprios. Raramente vamos querer viver tanto como depois daquele fogo de artifício, daquela roda na estrada, daquela voz de António Variações nos créditos finais. O fim da Premiere é um pouco isso: não querer sair da sala depois de um grande filme.
A Premiere para mim foi um grande filme. Cinco estrelas. Comprar novo bilhete para a próxima sessão. Teclar uma sms entusiasta para o grupo de amigos inteiro. Esperar ansiosamente o lançamento no DVD. Ir mostrar à namorada, aos pais, aos avós. Pendurar o cartaz na parede do quarto. E a acompanhar, um óptimo elenco: o Zé, o Luís, o Tiago, o Nuno, o Rui, o Marco, o Bruno, o Basílio, o João (só excelentes “actores”), mais todos aqueles que por lá passaram (ou até mesmo aqueles com quem nunca me cruzei). Daqui vai um Oscar sentido para cada um.
Perdoem-me agora os leitores, mas não irei pedir nunca desculpa do que escrevi. Perdoem-me, mas acontece que tenho uma razão simples: estes foram os meus olhos. Estes foram os meus sentimentos. As minhas emoções. As minhas palavras. E não se pede desculpa daquilo que somos. Uma coisa eu sei: andamos todos há demasiado tempo (e há mais de um ano certamente) a maltratar o cinema português. Sem a Premiere, e isto também eu sei, é todo o cinema que vai ficar maltratado.
Quem vai discordar do texto do crítico? Quem vai vibrar com o texto do crítico? Quem vai sonhar com a próxima estreia? Quem vai ter notícias dos bastidores? Quem vai saber o que custa a um actor interpretar o papel da sua vida? Quem vai saber o que custa a um realizador fazer um filme? Será que deixámos de querer saber?
Quanto a esta nota de despedida, não é defesa do cinema português. É defesa do cinema, apenas. Da palavra. Das emoções. Dos sentimentos. Do olhar. Não deixem de olhar. A Ana Moreira sorri finalmente. E o sorriso dela já ninguém nos tira. Ninguém me tira da sala de cinema. Se procurarem por mim é aí que me encontrarão.
David Mariano
Perdoa-me Teresa Villaverde se não perdoei ao teu filme o tom céptico com que admoestavas a natureza humana. Perdoa-me Jorge Cramez se encontrei no teu filme a imagem de esperança que faltava a este país. Raramente gostámos de nós próprios. Raramente vamos querer viver tanto como depois daquele fogo de artifício, daquela roda na estrada, daquela voz de António Variações nos créditos finais. O fim da Premiere é um pouco isso: não querer sair da sala depois de um grande filme.
A Premiere para mim foi um grande filme. Cinco estrelas. Comprar novo bilhete para a próxima sessão. Teclar uma sms entusiasta para o grupo de amigos inteiro. Esperar ansiosamente o lançamento no DVD. Ir mostrar à namorada, aos pais, aos avós. Pendurar o cartaz na parede do quarto. E a acompanhar, um óptimo elenco: o Zé, o Luís, o Tiago, o Nuno, o Rui, o Marco, o Bruno, o Basílio, o João (só excelentes “actores”), mais todos aqueles que por lá passaram (ou até mesmo aqueles com quem nunca me cruzei). Daqui vai um Oscar sentido para cada um.
Perdoem-me agora os leitores, mas não irei pedir nunca desculpa do que escrevi. Perdoem-me, mas acontece que tenho uma razão simples: estes foram os meus olhos. Estes foram os meus sentimentos. As minhas emoções. As minhas palavras. E não se pede desculpa daquilo que somos. Uma coisa eu sei: andamos todos há demasiado tempo (e há mais de um ano certamente) a maltratar o cinema português. Sem a Premiere, e isto também eu sei, é todo o cinema que vai ficar maltratado.
Quem vai discordar do texto do crítico? Quem vai vibrar com o texto do crítico? Quem vai sonhar com a próxima estreia? Quem vai ter notícias dos bastidores? Quem vai saber o que custa a um actor interpretar o papel da sua vida? Quem vai saber o que custa a um realizador fazer um filme? Será que deixámos de querer saber?
Quanto a esta nota de despedida, não é defesa do cinema português. É defesa do cinema, apenas. Da palavra. Das emoções. Dos sentimentos. Do olhar. Não deixem de olhar. A Ana Moreira sorri finalmente. E o sorriso dela já ninguém nos tira. Ninguém me tira da sala de cinema. Se procurarem por mim é aí que me encontrarão.
David Mariano
2 Comments:
Simplesmente magnífico! Fiquei tocada com este texto pela sua emoção e franqueza. Espero que no meio saibam interpretá-lo. Parece que ninguém (mesmo pessoas como eu que não são leitoras assíduas da revista) ficam indiferentes à mágoa que se sente por toda a redacção.
Sinceramente, espero que a imprensa saiba aproveitar a ideia da Premiere para avançar com uma revista portuguesa do género. O Cinema,em geral, e os seus amantes, em particular, precisam de uma "voz" e "olhos". Aposto que será bem acolhida por todos.
Boa sorte para o futuro!
Um grande abraço e um bem haja por todo o vosso trabalho.
Não irá morrer na nossa memória e não deixaremos de olhar.
Sou viciado em olhar.
Força!
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