Turnos de Vigias trocados à la Portuguesa
Pois bem, na linha das divagações que a Wikipédia fornece à obra-prima de Bertolucci (divulgadas no post bestial do Alvy Singer), hoje deparei-me com mais uma pérola, esta com a agravante de ser bem... nacional.
Perante uma pesquisa no site Cinecartaz do Público (http://cinecartaz.publico.pt/), para consultar as estreias e ver sessões para uma noite de cinema, deparo-me com algo de genial: na sala 7 do Alvaláxia encontra-se, em exibição, o filme O Vigilante ("The Conversation", no original). Quando olho com mais atenção vejo na fotografia a cara de Gene Hackman e quando leio a ficha técnica fiquei abismado... Sim, estou a falar do filme de Francis Ford Coppola, de 1974, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes nesse mesmo ano e que é, a meu ver, um objecto cinematográfico de grande valor.
E, perante isto, eu digo a alto e bom som: "O Alvaláxia agora faz reposições? Excelente ideia! Quero rever isto em cinema!".
Até aqui, tudo bem; tudo é plausível de acontecer, a gerência do cinema está a mudar de mãos (Millenium passa para o Grupo Lusomundo) e, em 14 salas, é óptimo (e seria natural? possível?) que uma delas passasse a ser destinada a reposições, um fenómeno que entre nós não acontece, mas no resto do mundo "civilizado" é uma realidade natural (é só ir a Paris e sair numa estação de metro qualquer para se esbarrar com posters de Annie Hall em todos os sítios, juntamente com outros filmes antigos ou estreias recentes). Mas, claro está, vamos a relembrarmo-nos onde estamos, meus caros amigos: Estamos em Portugal.
Mais tarde, na mira da sessão da meia noite, desloquei-me ao dito cinema para comprar bilhetes para outro filme, e aproveitei para confirmar quanto tempo de exibição o filme de Coppola iria merecer em sala, e fiquei estupefacto quando retirei um folheto com as sessões e não vejo nada sobre o filme. Quando pergunto à estimada senhora da bilheteira, a resposta foi a seguinte: "Não, é engano, já muitos vieram perguntar pelo mesmo, eles no site enganaram-se..." e afastou-se com um sorriso de incompreensão.
Moral da história: o "Vigilante" (e não "O Vigilante") a que o Cinecartaz se deveria referir (e que estreou esta quinta-feira) chama-se, no seu original, "The Lookout", e é realizado por Scott Frank (argumentista de Relatório Minoritário e d' A Intérprete) e conta com Joseph Gordon-Levitt e Jeff Daniels no elenco - ou seja, não tem absolutamente nada que o relacione com a obra de Coppola.
Sorte a minha não me ter deslocado ao cinema para rever Gene Hackman em grande forma, pois era "tão grande o galo" que iria apanhar, que nem sei o que faria ou diria às primeiras 20 pessoas que me surgissem pela frente. Com isto tudo, eu só pergunto... mas o que é que se passa? Surgem títulos iguais entre obras cinematográficas e, em vez de se confirmar os mesmos com os cinemas e produtoras e entre os críticos (ainda por cima de um jornal tão notório), cometem-se disparates destes? É completamente absurdo como é que, a partir de um título a estrear, se vai parar a outro filme completamente distinto, com mais de 30 anos de existência. Não existem palavras para descrever tamanha calinada.
No meio desta fenomenal novela fellinesca, valha-nos a Cinemateca. É o único sítio onde este filme poderá eventualmente ser exibido entre nós. De resto, vamos aguardar que a estreia d' O Reino não seja confundida com um filme de época qualquer da década de 40.
Francisco Silva
Etiquetas: O Vigilante, Vigilante
5 Comments:
Esse Reino deve aparecer com o cartaz da mini série de Lars Von Triar, possivelmente!!!
Freud criou o conceito de 'Acto Falhado' para definir situações como esta. Parece uma forma simpática e adequada de a caracterizar. Mas, pensando bem, se calhar quem foi propositadamente aos cinemas Alváxia para ver ‘O Vigilante’ utilizaria outros termos...
Também reparei nesse acontecimento... no entanto como sabia que estreiava o filme "Vigilante" na mesma semana, deduzi imediatamente que fosse engano, o que acabas de confirmar. Já tenho 30 anos de Portugal Português amigo, já sei o que a casa gasta.
Pois como disseste, e muito bem, estamos em Portugal! E muita sorte têm vocês, senhores lisboetas, em ter essa preciosidade que é a cinemateca, porque eu tenho que me contentar com o cinema da terriola que só no fim-de-semana que vem é que vai exibir Paranóia e no outro Belle Toujours. (E este último cheira-me que a sua exibição foi únicamente influênciada pela escolha do mesmo na representação Portuguesa nos Óscares)
lol, tambem achei q era o the conversation que ainda so tinha visto na televisão há imenso tempo..
Enviar um comentário
<< Home