Ainda aquela questão de um Quiz Show.
Antes de mais, convém avisar que este post poderá cair nessas areias movediças que são os spoilers. Talvez para quem nunca tenha visto as duas pérolas das quais aqui trataremos resumidamente, o melhor seja fazer um scroll rapidíssimo, não vão as coisas descambar. Os dois títulos aqui em análise, melhor, os finais dos dois filmes aqui decompostos serão o de Manhattan e o de Férias em Roma. É claro que a primeira coisa a fazer depois de deixar este post para trás é a auto flagelação, por ainda não terem provocado o encontro com estas duas obras maiores da sétima arte – quem tiver preparado o argumento Ah, mas tu ainda não viste o Paths of Glory, por isso não podes falar para atirar à cara, posso dizer que o filme já está na minha posse.
Pois bem, mas porquê falar do final deste dois filmes, numa pacata noite de Outubro? Ainda não está provada cientificamente a existência de uma linha que separe os obsessivo-compulsivos dos demais seres humanos, dito normais. Com efeito, ainda não é possível aferir com validade o número de vezes que nos é permitido pensar em determinado filme. É por isso que, confiante, acredito estar na posse de toda uma sanidade mental que se quer preservada, e que não é o facto de pensar diariamente no final de Manhattan e Férias em Roma que as coisas vão mudar.
Aqui há uns tempos, num dos posts Quiz Show, surgia a questão Filme do qual facilmente imaginamos uma sequela? Isso tinha uma razão de ser, que agora decido partilhar, colocando em risco a imagem de tipo equilibrado construída ao longo dos últimos meses. Desde o dia em que vi, pela primeira vez, cada um destes filmes, que não paro de pensar num novo filme, que poderia muito bem servir como continuação a estas duas histórias. Se, por um lado, estes são dois finais ideais, pois não creio que algum deles pudesse terminar de melhor maneira, estes são também dois desenlaces tão abertos que facilmente encontramos ali uma ponta solta para pegar.
No caso de Manhattan, então, essa continuidade está mesmo à mão de semear. Os seis meses que dura a viagem de Tracy (Mariel Hemingway) a Londres são uma ponte para o futuro. É o próprio Isaac Davis (Woody Allen) que pergunta: O que acontecerá no fim destes seis meses? Ninguém tem a certeza, embora todos saibam o que querem. Uns, um regresso apoteótico de Tracy para os braços de Isaac. Outros, que aquele fosse um bilhete só de ida.
Por seu lado, Férias em Roma, apesar de ter um final semelhante, este era bastante mais previsível. Ainda assim, aquilo está mesmo a pedir que alguém continue o romance. A troca de olhares na última cena entre a Princesa Ana (Audrey Hepburn) e Joe Bradly (Gregory Peck), é o clássico momento que, dizendo tudo, não quer dizer nada. Todo o filme caminha no sentido de unir estes dois para depois, no fim, tudo voltar à fórmula inicial. A ideia que fica é a de que não demorará muito até Ana anunciar ao mundo quem é o seu príncipe encantado. Mas, só por não termos a certeza, dá que pensar se um segundo filme não teria matéria-prima suficiente para se tornar num novo clássico.
No entanto, tão rapidamente penso numa continuação destes dois, como fico embasbacado com a sua singularidade que jamais poderá ser recriada. São apenas dois grandes filmes, com dois dos melhores finais de sempre. Da mesma forma que imagino aqui uma sequela, seria o primeiro a apoiar uma greve de fome se alguém avançasse com a ideia. Mas, já agora, pretendendo saber quais as opiniões dos argumentistas que visitam este espaço, se houvesse continuação, quais seriam as sugestões?
Alvy SingerEtiquetas: Férias em Roma, Manhattan
1 Comments:
Lost In Translation!
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