Um filme nada indecente.
Depois de, neste espaço, ter já manifestado um estado de maior agitação provocado pela chegada de Batman, e uma menor excitação perante a perspectiva de estreia de Indiana Jones já no próximo mês de Maio, receio que este post derrube por completo a ideia de que existe alguma credibilidade nas dissertações deste que assina com o nome de Alvy Singer. Se é que alguma vez se construiu uma ideia deste género.
Isto porque hoje surgiu uma necessidade premente de falar de Proposta Indecente. Antes de mais, convém dizer que este tipo de temas costuma nascer em momentos altamente enriquecedores como, por exemplo, o trânsito. Na verdade, várias são as vezes em que penso em Proposta Indecente, esse filho bastardo da filmografia de Adrian Lyne. Lyne já conseguiu praticamente tudo: realizar um filme nomeado para seis Óscares (Atracção Fatal), realizar um filme que se assumiu como uma referência do erotismo (Nove Semanas e Meia), realizar um filme que conquistou o público (BZ, Viagem Alucinante) e realizar um filme que marca um género (Flashdance). Para além disto tudo, fez Proposta Indecente, grande vencedor dos Razzies de 1993, tendo levado para casa mesmo o galardão de pior filme do ano.
Ora, este é o momento ideal para dizer que gosto de Proposta Indecente, e de filmes como Proposta Indecente. Por duas ordens de razões, e nenhuma delas tem que ver directamente com a presença de Demi Moore, por mais estranho que pareça. A primeira razão prende-se com o facto deste ser um daqueles filmes muito terra a terra, sem grandes pretensões a contar muito mais para além daquilo que deve contar na hora e meia que lhe dão. Reconhecermos as nossas limitações é uma virtude. E, se há filme com limitações é Proposta Indecente. No entanto, nenhuma delas surge como resultado de uma sequência mal planeada ou de peças que ficam por encaixar. O filme não dá mais que aquilo e, quando damos por nós, já extraímos o sumo todo que havia para tirar. Mas, quem dá tudo o que tem, a mais não é obrigado. Por muito pouco que seja, Lyne dá-nos tudo o que o filme tem para oferecer.
A segunda razão é pela reflexão a que a obra nos obriga. Até pode ser uma meditação de milésimas de segundo, contudo, todos nos perguntamos qual a atitude certa a tomar naquela situação. O que é que eu faria? Obviamente que serão muito mais nobres os pensamentos gerados por filmes como Diamante de Sangue. Agora, não é por ser uma questão mais superficial que lhe devemos negar atenção. Aliás, um assunto como este dava, certamente, um excelente episódio de Seinfeld. Parece que já estou a ver a base de licitação para a Elaine. No ar fica a questão: Será que o filme é assim tão mau, ou a pergunta que levanta é demasiado repugnante?
Alvy Singer
4 Comments:
Acho interessante ter mencionado o filme, mas acho que seria ainda mais interessante fazer 1 post obre os vencedores de Razzies que realmente mereciam e que não mereciam ter sido "agraciados" com tal distinção.
Para mim o filme é mediano, não deixando de ser irónico que uma das suas grandes forças é precisamente o reconhecimento das suas fraquezas e limitações...
Defenitivamente Demi Moore com este (mal interpretado) Proposta Indecente e Striptease afundou a sua reputação, mas não penso de deixar que seria bem pior se ela tivese feito o Showgirls...
Como nunca fui cordeiro, não vou atrás das opiniões dos outros e também gostei deste filme. Digam lá o que disserem o filme está muito bem construido, aliás Lyne é um dos meus realizadores preferidos e, podem crucificar-me mas a "Lolita" de Lyne é, para mim superior à Lolita de Kubrick. Pronto, podem começar a espetar os pregos...
Acabei de ver um momento southpark-iano. Um personagem entra em cena, diz, "eh pa, nao sou cordeiro, nao vou atrás dos outros", "digam o que disserem..." e "vá, podem começar a espetar os pregos".
Isto seguido de dois dias de um silêncio embaraçoso.
Isto parece-me um bom ponto de partida para um post esta noite. O comentário do Knight não caiu em saco roto, muito menos o do Dvd Paradiso.
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