Deuxieme


sábado, fevereiro 23, 2008

Estreias da Semana

Aqui estão as estreias desta semana, com um inevitável dia de atraso…

MICHAEL CLAYTON

Tony Gilroy, entre nós mais conhecido pelos argumentos de Prova de Vida (2000) e da trilogia Bourne, estreia-se atrás das câmaras, com uma história também da sua autoria: Michael Clayton, o seu grande filme, revisita os cânones clássicos dos thrillers da década de 70 (onde imperam nomes maiores como Alan J. Pakula e Sydney Pollack) num brilhante exercício narrativo.

Michael Clayton (George Clooney) é um “canivete multi-funções” que trabalha para uma famosa firma de advogados - Kenner, Bach & Ledeen – e que se vê em mãos com um enorme problema, quando o seu chefe Marty Bach (Sydney Pollack) o encarrega de tratar de uma delicada questão: em vésperas de um acordo final num caso com uma empresa agro-química, de nome U/North, um dos advogados de maior relevo da respectiva empresa, Arthur Edens (Tom Wilkinson) muda a sua postura e revela o que parece ser um possível esgotamento ou depressão. Enquanto tenta corrigir esta situação, Michael vai-se aperceber das reais causas do comportamento de Edens, e parte, contra tudo e todos, em busca de uma terrível verdade escondida, onde é posta em causa a saúde pública a nível mundial.

Com um argumento de ferro, atento e equilibrado, Gilroy constrói um inteligente thriller, que mergulha nos aspectos do poder económico, político e familiar, onde a vida profissional se mistura com a privada. George Clooney consegue, uma vez mais, deixar o mundo de boca aberta com a sua extraordinária interpretação, e a sua constante composição do personagem é notória desde as cenas na sua firma, ao encontro com os seus adversários, como também é nítida na vida familiar com os irmãos e o seu filho. À sua volta giram dois fabulosos momentos secundários – Tom Wilkinson e Tilda Swinton (representante da U/North) arrancam das suas maiores capacidades representações de alto nível, que oscilam sobre os mais variados sentimentos. A harmonia entre os vários elementos narrativos é muito bem conseguida, e sobre uma realização segura vivemos duas horas de conspiração, de suspense, de comoção e redenção. Contra os gigantes na categoria de Melhor Filme, Michael Clayton figura como um objecto de enorme qualidade, mas que não conseguirá fazer frente à força dos Irmãos Coen ou ao épico de Paul Thomas Anderson. Ainda assim, noutras categorias de Secundários é uma forte aposta. Em suma, um fantástico filme, com todos os ingredientes necessários que qualquer grande obra possui.

4/5 – Bom


JUNO

De seguida, a semana é marcada pela estreia de um título absolutamente delicioso. Juno é o mais recente trabalho de Jason Reitman (que anteriormente nos mostrou Obrigado por Fumar em 2005) e que é um verdadeiro fascínio de cinema, que já foi enormemente premiado em festivais e círculos da indústria. Não é caso para menos.

Juno (Ellen Page) é uma adolescente possuidora de uma personalidade e atitude muito bem definidas. Num inexperiente envolvimento sexual com o seu colega Paul Bleeker (Michael Cera), Juno é confrontada com a maior surpresa da sua vida, ao descobrir que está grávida. Contra todas as expectativas, Juno decide ter a criança, com o apoio da sua melhor amiga e da sua família, com a condição de encontrar, para o seu futuro rebento, um casal que o queira adoptar. Durante o processo da gestação, Juno vai reavaliar a sua condição, enquanto se redescobre a si mesma, à sua própria vida familiar, aos seus amigos e se depara com a inevitabilidade do seu amor por Paul.

Carregado de uma mensagem importante e de um brilho narrativo e visual, Juno mostra-nos o amor e a descoberta, a coragem e a fragilidade do que é ser-se jovem (e adulto, de certa forma), em constante oposição refira-se, à uma enorme força que guia a personagem, que surge mascarada de uma segurança moral. É na aparente viagem “destemida” da gestação de Juno (magistralmente interpretada por Ellen Page, que é, a meu ver, um puro milagre do cinema actual – relembro-a gloriosamente numa força bruta em Hard Candy em 2006 – e que veste esta personagem numa perfeição assustadora) que se vive hora e meia de cinema de notória qualidade temática e artística. Bem apoiado num argumento mordaz, real, e sobretudo cheio de humor corrosivo (os diálogos de Juno são uma verdadeira preciosidade), Reitman filma a história com um rigor estético muito patente na pop culture, nas cores e na música - que é uma parte integrante e fundamental do filme. Com um excelente leque de secundários, onde se encontram Michael Cera (Superbaldas) e ainda J.K. Simmons, Allison Janney e Jennifer Garner, Juno é um triunfo a todos os níveis, que merece ser visto e revisto pelas variadas camadas de público – aqui encaixa o mais puro filme alternativo, ou um filme de família, ou um elogio ao amor e à vida. Ou todos juntos. Daí a sua perfeição. Para Domingo era bonito ver Ellen Page discursar de (merecidíssimo) Óscar de Melhor Actriz na mão.

5/5 – Magnífico


PERSÉPOLIS

Para terminar em beleza temos um objecto de animação extremamente curioso e vibrante. Persépolis, o mais forte opositor a Ratatui na categoria de Melhor Filme de Animação, é realizado por Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, e foi o vencedor do Prémio do Júri em Cannes.

Baseado na autobiografia da realizadora, Persépolis conta a história de Marjane, no tom da graphic novel, uma inocente menina que cresce no Irão e cuja revolução islâmica lhe é apresentada como uma realidade diária, onde todos (da sua família a amigos) travam um papel especial. Dominada por um feitio curioso e activo, Marjane cedo descobre, entre os furos da pesada opressão política, novas formas de cultura, que vai abraçar e manter, quando se vê obrigada a viajar para a Austria para sua segurança. Entre as várias etapas da vida e em confronto com o mundo ocidental, Marjane vai viver uma luta constante pela sua posição social, cultural, política e amorosa nos novos horizontes que descobre, quando abandona o seu país.

Filmado num sublime preto e branco (as cenas a cor somente existem no presente onde Marjane se lança nas memórias do passado), Persépolis é uma obra ousada e importante (que recebeu duras críticas por parte do Irão), ao remeter, sobre uma sóbria narração da vida de uma menina até a sua fase adulta, várias questões do nosso mundo actual, sem assim se restringir à realidade islâmica. Erigida exactamente com a autora desenhou, as imagens sobrepoêm-se entre si em raccords fabulosos, num ritmo que não conhece tempos mortos, e com as vozes vivas de personalidades como Chiara Mastroianni (a própria Marjane) ou Catherine Deneuve (que surge no papel da cautelosa mãe). É uma obra de grande poder visual e temático, mas que a meu ver não possui o encanto e a força suficientes para derrotar o rato Rémy no próximo Domingo. Ainda assim trata-se de uma obra a ver e discutir.

4/5 - Bom

Francisco Toscano Silva

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2 Comments:

Blogger Loot said...

Vi apenas o Persepolis destes três e também gostei muito.

Cumprimentos

22 de fevereiro de 2008 às 14:55  
Blogger Johnny Boy said...

Confesso que não fui apanhado pela euforia em volta de Juno. Achei um bom filme mas se pudesse escolher substituia-o por O Lado Selvagem num piscar de olhos. Já quanto a Ellen Page concordo plenamente.

24 de fevereiro de 2008 às 00:06  

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