Deuxieme


quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O Sonho de Cassandra

Dir-se-ia que uma cidade nunca mais é a mesma depois de Woody Allen a filmar. O cineasta efabula na cidade à sua volta, uma espécie de romantismo trágico que nos remete para um desconcertante lugar emocional, do qual não conseguimos deixar de sentir um medo inabalável pelo destino das personagens, nem de nos rirmos perplexos com a consciência humorística do argumento. Woody Allen é um génio da escrita e o argumento de O Sonho de Cassandra é um exemplo de gestão narrativa absolutamente notável, fazendo a realidade de dois irmãos de Londres caminhar no limiar do bizarro, algures entre a tragédia clássica e o humor negro.

Porventura, este equilíbrio emocional e humano que o filme consegue entre dois pólos aparentemente tão contraditórios, tem também uma intensa ligação com a câmara de Allen (os constantes zooms aos espelhos convoca uma espécie de consciência bergmaniana demasiado presente). Por vezes, discretamente intensa, a câmara do cineasta ocupa sempre um lugar íntimo em todas as emoções dos personagens, colocando-se sempre entre os seus desejos e os nossos. Talvez seja por causa dessa implicação artística que Allen nos torna a nós, espectadores, cúmplices constantes da sua teia narrativa e dos seus desconcertantes efeitos emocionais.


Mas O Sonho de Cassandra tem uma componente humana que, para além de Allen, se localiza directamente no talento artístico de alguns dos seus actores. Sem qualquer hesitação, importa dizer que se trata provavelmente, da grande interpretação de Colin Farrell na sua carreira. Intensa e complexa, Farrell (de)compõe o clássico papel da consciência narrativa, uma espécie de desconstrução do Grilo Falante numa tragédia que lhe parece roubar o controlo sobre a acção e a razão ao longo do seu percurso. Um filme notável que, causando talvez menos impacto que o magnífico Match Point, existe na penumbra deste, vivendo da desconcertante possibilidade de perverter a impenetrável dramaturgia do seu dispositivo narrativo.


TIAGO PIMENTEL

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

finalmente uma critica boa e correcta ao filme de woody allen!
sinto-me completamente identificada com tudo o que disse, e aquela parte dos zooms, tambem foi algo que observei durante o filme. ja sao um bocadinho uns zooms caracteristicos de allen
como grande fa de woody allen, apesar de nao ser um filme à sr. allen gostei bastante e saí do cinema bastante satisfeita

21 de fevereiro de 2008 às 18:50  
Anonymous Anónimo said...

Concordo que o filme não é tão mau como alguns dizem - embora ache que esteja longe de "notável" - e também acho que o Farrell esteve bem, mas acho que a melhor interpretação dele foi mesmo em "Tigerland", um dos poucos filmes com o Schumacher em dia de inspiração.

21 de fevereiro de 2008 às 21:51  

Enviar um comentário

<< Home

Menu Principal

Home
Visitantes
Website Hit Counters

CONTACTO

deuxieme.blog@gmail.com

Links

Descritivo

"O blogue de cinema"

  • Estreias e filmes em exibição
  • Próximas Estreias
  • Arquivos

    outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011

    Powered By





     
    CANTINHOS A VISITAR
  • Premiere.Com
  • Sound + Vision
  • Cinema2000
  • CineCartaz Público
  • CineDoc
  • IMDB
  • MovieWeb
  • EMPIRE
  • AllMovieGuide
  • /Film
  • Ain't It Cool News
  • Movies.Com
  • Variety
  • Senses of Cinema
  • Hollywood.Com
  • AFI
  • Criterion Collection