A Pluralidade dos Óscares
A 80ª edição dos Óscares – que tratou de premiar os melhores filmes de 2007 – ocorreu ontem no Kodak Theatre, uma vez mais, com grande pompa e circunstância. Jon Stewart foi o anfitrião da cerimónia, que foi uma das mais curtas (cerca de 3 horas e 15 minutos), mas soube agarrar o seu papel e proporcionou-nos vários momentos bons de televisão (a cena do iPhone com o Lawrence da Árabia e o “Óscar Bebé” e as suas nomeadas e vencedora foram delirantes). Perante um constante elogio e referência às edições anteriores, este, contudo, é (mais) um ano de viragem e de novas realidades.
O ponto mais importante centra-se na questão pluralista da arte que é celebrada e homenageada. Cada vez mais as grandes distribuidoras em Hollywood repensam a indústria, e todo o seu conceito do “That’s Entertainment!”, que adquire hoje novas formas criativas, como a noite passada nos demonstrou. Se é certo que o cinema americano ocupa o mais importante papel na sétima arte a nível de espectáculo e “showbizz”, é então certo que todas as escolas e formatos cinematográficos do resto do mundo fazem falta para marcar presença neste grande conceito. Nessa medida, é notório o crescimento plural nas várias áreas do cinema, ou seja é cada vez maior (e mais importante) a influência exterior artística – a nível do visual, da escrita, da representação e outras categorias – dentro do próprio cinema dito “americano clássico”, que se reinventa a cada ano sobre diversas formas (Haverá Sangue, Este País Não É Para Velhos e No Vale de Elah são os mais recentes exemplos a ter em conta).
Como tal, é com alegria que vemos Javier Bardem dirigir o seu (justíssimo) prémio para Espanha, país de grande cinema e autores; por isso também nos comovemos com a alegria inesperada de Marion Cotillard a receber o mais alto prémio feminino, num registo fílmico “poeticamente europeu”. Preferências de parte, contava com a consagração de Paul Thomas Anderson no prémio para melhor obra, sobretudo porque acho que Haverá Sangue "seria" o "justo" vencedor. No entanto, é-me impossível empregar a palavra "justo" desta forma, pois Este País Não É Para Velhos é uma obra-prima (possivelmente o melhor filme dos Coen, seguido de Sangue por Sangue e Fargo), e o prémio assenta-lhe que nem uma luva. Na verdade, não existia nenhum nomeado que não merecesse a estatueta dourada na categoria de Melhor Filme.
Em suma, Hollywood já não se faz valer exclusivamente da “prata da casa”, e reconhece, sem limites nem precedentes, a vida cinematográfica da actualidade, sem constrangimentos nacionais, ideológicos, religiosos ou políticos. E tudo isso nos encaminha para um futuro cada vez mais promissor, onde se alargam fronteiras e horizontes sobre o mundo do cinema. Por tudo isto, ontem foi-nos relembrado que os Óscares, se dúvidas houvesse, não são americanos, são do mundo inteiro.
Francisco Toscano Silva
Etiquetas: Oscares
2 Comments:
"Na verdade, não existia nenhum nomeado que não merecesse a estatueta dourada na categoria de Melhor Filme".
Bem,ainda que não tenha visto o "Este Pais Não É para Velhos" acho que "Expiação" estava claramente a mais entre os nomeados é um filme,para mim,totalmente falhado tirando a prodigiosa montagem acelarada para caber o livro todo nas duas horas de filme e a direcção de fotografia que é excelente.De qualquer forma,como quem atribui os prémios é uma Academia,nada como nomear um filme atrozmente e enteadoramente académico como é "Expiação".Por isso uma Academia adora nomear filmes académicos e muitissimo bem comportados.Acho que claramente quem devia ter sido nomeado era "Promessas Perigosas" e para "Melhor Realizador" era David Cronenberg em lugar de Julien Schnabel e acho incrivel o guião de "Promessas.."não ter sido nomeado,se bem que não tenha visto os outros nomeados da mesma categoria.
Mas,lá está,o Academismo gritante tem de estar lá.
Melhor momento da noite: sem dúvida a eleição da melhor canção...
Enviar um comentário
<< Home