CANNES 2008: HASTA LA VITÓRIA!

A menos de vinte e quatro horas de ser anunciado o palmarés 2008, correm rumores de que a Palma pode ir parar pela terceira vez aos Irmãos Dardene (Bélgica), com Le Silence de Lorna. Mais óbvio ainda, seria para Clint Eastwood com Changeling, dado que Sean Penn, não poupa elogios ao seu mestre, que apesar do prestígio ganharia a sua primeira em Cannes. Para evitar mal-entendidos e com a categoria que se lhe reconhece, Eastwood na Conferência de Imprensa disse que quando foi presidente do júri e ganhou Pulp Fiction, nem sequer era o filme da sua preferência. Os rumores valem o que valem e há quem dê o favoritismo também ao documental de animação Valse avec Bashir, de Ari Folman (Israel), sobre a Guerra no Líbano na década de 80 ou a uma 'ressurreição' do cinema italiano com Gomorra, de Matteo Garrone, sobre a Mafia. O nosso favorito curiosamente foi o último filme da competição Entre le Murs, do francês Laurent Cantet (Recursos Humanos), uma belíssima e realista transposição do livro de François Bégaudeau, que é também o protagonista, sobre o dia-a-dia de um professor, dos alunos de uma turma do ensino secundário, rodada no seu ambiente e com um grupo de miúdos fantásticos onde não podia faltar um tal Damien Gomes, que veste a camisola da Selecção Nacional. Um filme onde professores e alunos se vão reconhecer, porque curiosamente em países diferentes, os problemas do ensino e da integração são os mesmos.
It’ Only a Rock’n’Roll, but I Liked. Foram assim este últimos dias do Festival que parece ter juntado simbolicamente quatro grandes pop stars do século XX e que se projectam no futuro: Maradona, Che, Madonna e Tarantino. Talvez ainda uma quinta figura, com Wim Wenders, o cineasta alemão que melhor representa a cultura rock, a apresentar aqui Palermo Shooting, um filme algo falhado mas com uma excitante relação das cidades de Dusseldorf e Palermo, com a fotografia e uma eexcelente banda sonora que cruza varias tendências musicais. Che foi recordado pelo norte-americano Steven Soderbergh (Traffic, e da saga Ocean Eleven) e encarnado por um pujante Benicio del Toro, num filme (ou antes dois filmes Argentina e Guerrilha, que vão estrear separadamente), que chegou aqui à última da hora sem genérico e num projecção que durou quatro horas e meia, com direito a quinze minutos de intervalo e a um saquinho com merenda para a imprensa. É um filme épico de rara beleza e inspiração, com um forte conteúdo político e romântico, a grande contradição de Che Guevara, e que criou as mais diversas reações desde o deslumbramento total, a com uma certa irritação ou apatia.
M dos Maiores. Madonna, a grande diva da pop viajou até Cannes (e até dançou com Maradona na festa do documentário do Kusturica) para apresentar, na qualidade de produtora (anunciou felizmente que não voltará a ser mais actriz), I Am Because We Are um documentário que apela para o destino de um milhão de crianças orfãs no Malawi, por causa da sida. Madonna e Sharon Stone estiveram juntas na passadeira vermelha, pois foram ainda as anfitriãs de uma gala (habitualmente presidida por Liz Taylor) para recolher fundos para a luta contra a sida. Maradona é ainda um espectáculo, quer na passadeira vermelha aos toques na bola com Emir Kusturica, quer no emocionante documentário do realizador que serviu de testemunha as confissões do ídolo, relativamente à sua ascensão e queda, e agora felizmente a uma mais vida tranquila com a familia. Tarantino, um verdadeiro cineasta de culto em todo o mundo, a tal Palma de Ouro de 1994 com Pulp Fiction, que não era de todo o favorito de Clint Eastwood, deu como é habitual também nas suas conversas com os jornalistas, um fervorosa Lição de Cinema. Interpelado por Michel Ciment (o director da Positif e um dos papas da crítica), Tarantino trajando de negro, teve o Auditório Debussy a transbordar, para falar dos realizadores que o inspiram (Martin Scorcese, Sergio Leone, e de Brian de Palma, que é uma estrela do rock no cinema) e da sua obra, de Cães Danados a Prova de Morte. Amanhã às 19h30 (18h30 de Lisboa), vamos conhecer os vencedores numa cerimónia que culmina com a projecção de What Just Happened, de Barry Levinson. Daqui a pouco apresentação do Palmarés e projecção do filme premiado no Un Certain Regard.
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