MIGUEL GOMES: 'AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO'

O realizador português estreia na quarta, 22, em plena 40ª Quinzena dos Realizadores em Cannes, o seu novo filme sendo o único representante nacional numa das competições. O Deuxieme já viu o filme, gostou muito e falou com o realizador.
Aquele Querido Mês de Agosto era para ser uma produção muito maior, mas acabaste por trabalhar com uma equipa muito pequena…
É verdade. Havia um argumento e um calendário de produção a cumprir em Agosto de 2006 com uma equipa de vinte a trinta pessoas. Tivemos que cancelar a rodagem por problemas de financiamento. Havia uma lista de figurantes que nunca mais acabava, a ideia de reconstituir lugares e festas de aldeia que se passam habitualmente em Agosto, naquela região de Arganil. Havia músicos e músicas já escolhidas, e locais que se enquadravam com as personagens. A história girava à volta dos elementos de uma banda que animava os bailes da região. Entretanto consegui arranjar algum dinheiro e propus à produção retomar o filme nas minhas mãos filmando as festas com uma equipa de 5 elementos. Achei interessante começar a rodar pondo completamente de lado o argumento...e só mais tarde voltar a pegar nele.
É verdade. Havia um argumento e um calendário de produção a cumprir em Agosto de 2006 com uma equipa de vinte a trinta pessoas. Tivemos que cancelar a rodagem por problemas de financiamento. Havia uma lista de figurantes que nunca mais acabava, a ideia de reconstituir lugares e festas de aldeia que se passam habitualmente em Agosto, naquela região de Arganil. Havia músicos e músicas já escolhidas, e locais que se enquadravam com as personagens. A história girava à volta dos elementos de uma banda que animava os bailes da região. Entretanto consegui arranjar algum dinheiro e propus à produção retomar o filme nas minhas mãos filmando as festas com uma equipa de 5 elementos. Achei interessante começar a rodar pondo completamente de lado o argumento...e só mais tarde voltar a pegar nele.
O projecto inicial inspirava-se na figura do Dino Meira?
Não. O título do filme foi efectivamente roubado a uma canção do Dino Meira. Aliás esse universo da música ligeira e das músicas de baile é em parte o tema de Aquele Querido Mês de Agosto.
Não. O título do filme foi efectivamente roubado a uma canção do Dino Meira. Aliás esse universo da música ligeira e das músicas de baile é em parte o tema de Aquele Querido Mês de Agosto.
Há como que uma relação entre a ficção e o documentário. É uma fórmula que tu vais assumir nos teus filmes?
Não sei, pois quando faço um filme, tenho a tendência para escolher sempre algo de diferente. Neste momento até estou a pensar fazer um filme com actores profissionais, que é o oposto deste que vive das improbabilidades em que para além de trabalhar com actores não profissionais tínhamos que nos adaptar àquilo que estivesse a acontecer no momento. Se determinado baile tinha muita gente, se as pessoas iam gostar ou não, se iam atirar latas de cerveja para o palco.
Não sei, pois quando faço um filme, tenho a tendência para escolher sempre algo de diferente. Neste momento até estou a pensar fazer um filme com actores profissionais, que é o oposto deste que vive das improbabilidades em que para além de trabalhar com actores não profissionais tínhamos que nos adaptar àquilo que estivesse a acontecer no momento. Se determinado baile tinha muita gente, se as pessoas iam gostar ou não, se iam atirar latas de cerveja para o palco.
Para não profissionais, tens actores muito bons e uns diálogos geniais. Como os encontraste?
Na primeira metade do filme há uma série de pessoas que vão aparecendo para a contar as suas histórias com num inventário de coisas de Verão e daquela terra, como o Paulo Moleiro. Depois o tal realizador que sou eu é pressionado pela produção: “tens de arranjar actores para fazer o argumento”...e até o director de produção acabou por trabalhar como actor do filme. É aliás um dos protagonistas.
Na primeira metade do filme há uma série de pessoas que vão aparecendo para a contar as suas histórias com num inventário de coisas de Verão e daquela terra, como o Paulo Moleiro. Depois o tal realizador que sou eu é pressionado pela produção: “tens de arranjar actores para fazer o argumento”...e até o director de produção acabou por trabalhar como actor do filme. É aliás um dos protagonistas.
E os outros actores?
No filme há um lado de verdades e outro de mentiras. Não queria revelar tudo. Mas no caso do casting por exemplo, o Hélder (Fábio Oliveira) e Tânia (Sónia Bandeira), a vigia, já tinham sido escolhidos quando filmávamos a primeira rodagem que corresponde à primeira metade do filme. Nessa altura aproveitámos para procurar actores... filmámo-la na torre de vigia como se ela tivesse sido encontrada como os outros e ele no ringue de hoquei. De facto, ele joga hóquei no clube, de Oliveira do Hospital. No caso do pai do rapaz, o Celestino (Manuel Soares) e do outro o Gomes (Armando Nunes), quando os filmámos naquele diálogo nem eles, nem nós sabia-mos que iam ser contratados para fazer os papéis que tinha-mos escolhido para eles.
No filme há um lado de verdades e outro de mentiras. Não queria revelar tudo. Mas no caso do casting por exemplo, o Hélder (Fábio Oliveira) e Tânia (Sónia Bandeira), a vigia, já tinham sido escolhidos quando filmávamos a primeira rodagem que corresponde à primeira metade do filme. Nessa altura aproveitámos para procurar actores... filmámo-la na torre de vigia como se ela tivesse sido encontrada como os outros e ele no ringue de hoquei. De facto, ele joga hóquei no clube, de Oliveira do Hospital. No caso do pai do rapaz, o Celestino (Manuel Soares) e do outro o Gomes (Armando Nunes), quando os filmámos naquele diálogo nem eles, nem nós sabia-mos que iam ser contratados para fazer os papéis que tinha-mos escolhido para eles.
Aquele querido mês de Agosto é um bom retrato do ‘país pimba’?
Não gosto muito dessa ideia do pimba. As músicas escolhidas para o filme podem ser um bocado pirosas, mas há sempre qualquer coisa nelas porque as pessoas gostam e quem as canta leva-as muito a sério. Depois, relativamente ao retrato de Portugal, há um amigo meu disse que fiz um filme, que é uma espécie de colectânea de um Portugal que não existia. Não sei se aquele Portugal existe ou não existe, mas a realidade é toda tão vaga... como por exemplo, quando entrei numa das aldeias e estão duas dançarinas do ventre a dançarem à minha frente.
Não gosto muito dessa ideia do pimba. As músicas escolhidas para o filme podem ser um bocado pirosas, mas há sempre qualquer coisa nelas porque as pessoas gostam e quem as canta leva-as muito a sério. Depois, relativamente ao retrato de Portugal, há um amigo meu disse que fiz um filme, que é uma espécie de colectânea de um Portugal que não existia. Não sei se aquele Portugal existe ou não existe, mas a realidade é toda tão vaga... como por exemplo, quando entrei numa das aldeias e estão duas dançarinas do ventre a dançarem à minha frente.
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