Deuxieme


segunda-feira, outubro 27, 2008

Um Max Payne doloroso.

Numa altura em que as adaptações de BD estão mais na berra do que nunca, Hollywood não fecha a porta a outros mundos. Há, no entanto, que experimentar. Ver até que ponto é viável entrar em transposições mais arrojadas. Quanto maior o risco, maior o retorno. Daí que a sétima arte procure sempre mais além, novas histórias para relatar. E, nos dias que correm, o universo dos videojogos parece, sem dúvida, ser o mais apelativo – Prince of Persia, já é dos mais aguardados para 2009. Contudo, adaptar um jogo não é pêra doce. Em certa medida, nenhum outro suporte para um argumentista está tão perto do verdadeiro filme, como um videojogo. As más-línguas dizem mesmo que é apenas o trocar pixéis por carne e osso, e um enorme fundo verde. Mas, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Caso a equipa de produção opte por se afastar do material que serve de base, podemos estar na presença de algo grandioso. Para nossa infelicidade, só metade desta premissa se verifica em Max Payne.

É certo que o realizador John Moore (Atrás das Linhas do Inimigo, 2001), e o estreante argumentista Beau Thorne, procuraram não seguir à linha as traves mestras do videojogo, contudo, no final, somos obrigados a perguntar se algum deles chegou mesmo a introduzir o disco do jogo no PC. Já sabíamos que Mark Wahlberg não tinha jogado, por opção, antes de iniciar a rodagem. Aquilo que desconhecíamos, era esta alienação de grande parte da equipa ao verdadeiro enredo. A sensação com que ficamos é a de que o director artístico, Andrew Stearn, era o único que sabia o que estava a fazer. Aliás, para aqueles que se cruzaram com o jogo antes do filme, a par da gravata de Max Payne, o ambiente frio e oculto de Nova Iorque deverá ter sido o único reconforto.

A história de um polícia que se vê, injustamente, como principal suspeito na morte da sua mulher e filho, é-nos servida pela Rockstar Games como um festim de acção banhado a pólvora. As piruetas de Payne em pleno ar, com duas pistolas em riste, são a imagem de marca do jogo. Em vez disso, o filme presenteia-nos com flashbacks intimistas e monólogos filosóficos que em nada contribuem para o desenrolar da narrativa. O suspense raramente atinge níveis que se traduzem num prender à cadeira, e o enigma facilmente se desmorona, muito antes do devido tempo. Um clímax contido confirma o pessimismo que se vai gerando ao longo do filme. John Moore pretende distanciar-se tanto do original, que acaba por ir parar a terra de ninguém. O olhar vazio de Mark Wahlberg é apenas o grito silencioso de um actor que se quer soltar num enredo demasiado pesado. Quando o que se pedia era um thriller impetuoso, aquilo a que temos direito é um simples exercício de conspiração contra um homem inocente, visto e revisto inúmeras vezes. Aquela que poderia ter sido uma brilhante homenagem aos filmes de John Woo – que estiveram na origem do videojogo – transforma-se numa banal adaptação, que o tempo se encarregará de catalogar nas prateleiras inferiores das lojas e clubes de vídeo. É penoso ver um actor com o talento de Wahlberg preso num emaranhado deste calibre. No entanto, já devia ter aprendido a lição com O Atirador (Antoine Fuqua, 2007). Onde ele está bem é a praguejar, como em The Departed.

Bruno Ramos

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu acho o Max Payne um pouco mais filosíofico do que você passou no seu post, tem umas fases do jogo em que ficamos restrito aos pesadelos do Max, sem nenhuma cena de ação... Mas mesmo assim, to com muito medo do que saiu nas telonas, pelo que andam dizendo... :(

27 de outubro de 2008 às 17:14  

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