Noites (frias) em Rodanthe.
A uma semana de mergulharmos de cabeça nas grandes estreias da temporada, com a chegada dos principais candidatos aos Oscar, as propostas que por aí andam, longe de serem pobres, também não nos deixam com água na boca. O Sorriso das Estrelas, titulo há muito antecipado, foi sofrendo duros golpes ao longo do ano, de cada vez que um critico do outro lado do oceano tinha algo a dizer. As opiniões pareciam não divergir muito, e aquilo que prometia ser um romance ao nível de The Notebook, estava a revelar-se, afinal, como um filme para ver num domingo à tarde, se o sol resolvesse esconder-se. As hipóteses de Diane Lane chegar a uma nomeação para os Oscar esfumaram-se, e logo surgiram comparações com a obra homónima de Nicholas Sparks, considerada largamente superior. No fundo, as estrelas não quiseram sorrir para George C. Wolfe.
No entanto, nem tudo é mau no trabalho do realizador, que aqui se estreou numa longa-metragem. A começar por Viola Davis. A actriz, que este ano se afigura como uma das grandes revelações, depois do seu desempenho em Doubt, é a lufada de ar fresco que tanta falta faz, muitas vezes, aos melodramas desta estirpe. Chato é Wolfe dar-lhe tão pouco tempo de antena. Quando a audiência se liberta para um ou outro sorriso, logo voltamos à deprimente psique dos dois protagonistas, carentes de tudo e mais alguma coisa. Um maior equilíbrio teria aliviado a narrativa. Contudo, não devia ser essa a visão do cineasta e, quanto a isso, é comer menos. Ao mesmo tempo, Diane Lane não defrauda expectativas. Lane só não dá mais, porque a rédea é curta. À primeira vista, este seria o papel ideal para a actriz voar, e chegar à tal nomeação que muitos esperavam. Por vezes, até vemos Lane a levantar voo. Porém, não passam de escalas. Nunca chega ao destino pretendido. E, nas mãos de, por exemplo, um Ron Howard – que já não liga a projectos desta natureza –, talvez o resultado fosse outro. Por seu lado, Richard Gere oferece-nos um dilema. No final, ficamos com a impressão que a qualidade do actor impediu que o filme se afundasse ainda mais. Ao mesmo tempo, parece que Gere passou o tempo todo em piloto automático, sem nunca se entregar verdadeiramente à personagem. A única excepção, ironicamente, é quando o seu Dr. Paul Flanner aparece em fotografias. Para além disto, é claro que temos a praia arrebatadora, acompanhada da sentida banda sonora de Jeanine Tesori. Contudo, o filme nunca pega verdadeiramente. Os conflitos familiares parecem colados a cuspo, e a base que sustenta o grande amor é mais frágil que a estalagem à beira-mar onde tudo nasce. Há momentos, é certo, em que nos deixamos envolver pelas sedutoras teias do romance. Agora, assim como Adrienne Willis demora alguns segundos a acordar do sonho, logo no inicio, também nós nunca chegamos verdadeiramente a fantasiar. Como um todo, O Sorriso das Estrelas deixa a desejar. Há que dizê-lo. Os filmes a rodos que já vimos deste género, sobretudo nos eighties, foram a vacina que hoje nos deixa imunes a estes enredos. Um bom filme, como um grande amor, deixa-nos doentes. Este, talvez chegue a ser uma pequena constipação. Não mais do que isso.
Bruno Ramos
Etiquetas: Diane Lane, O Sorriso das Estrelas, Richard Gere
1 Comments:
Filme muito fraquinho e o final...
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