"Estamos cinematograficamente muito mais pobres".
Na última sexta-feira, o Público deu conta das declarações à Lusa de Margarida Gil, presidente da Associação Portuguesa de Realizadores (APR). Segundo o jornal, a cineasta afirmou que a situação actual do cinema português é de asfixia e acusou o Instituto do Cinema e Audiovisual de paralisia.
“Em declarações à Lusa, a realizadora Margarida Gil reconheceu que o ministro da Cultura se tem mostrado dialogante com a associação, mas lamentou que José António Pinto Ribeiro nada tenha feito para mudar uma situação de ‘asfixia gritante’. (…) A associação divulgou um comunicado no qual rejeita a actual política para o cinema, dando conta de ‘manobras de gabinete que visam destruir, em lugar de alargar e aperfeiçoar, as estruturas de apoio ao cinema enquanto actividade artística’. (…) A realizadora apontou críticas ainda ao critério de escolhas de filmes financiados pelo Fundo de Investimento do Cinema e Audiovisual (FICA), recordando que a maior fatia de investimento deste fundo é de empresas públicas.
‘As pessoas pensam que os dinheiros [do FICA] são privados, mas em 76 por cento são do Estado e estão a financiar filmes que são pornográficos, repelentes e que significam um andar para trás de um certo cinema’, acusou Margarida Gil, referindo-se a esses filmes como ‘cinema de alterne’”.
Hoje, a mesma publicação dá voz ao descontentamento do realizador José Fonseca e Costa.
“O realizador José Fonseca e Costa afirmou hoje, em declarações à Lusa, que o sistema de apoio à produção, tutelado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), ‘além de profundamente injusto, é dirigismo puro, uma coisa digna do estalinismo’. O cineasta, homenageado pelo 29º Fantasporto, que lhe dedica uma retrospectiva, considerou que ‘o ICA é a degenerescência do antigo Instituto Português do Cinema (IPC), instituição decisiva para o cinema português criada no tempo de Marcello Caetano’. Para Fonseca e Costa, ‘o ICA é um serviço burocrático que obriga qualquer projecto a regras absurdas definidas por portarias redigidas por quem rege aquele organismo. A portaria é uma forma totalitária e dirigista de governar. Só aprovam o que eles gostam. Puro estalinismo’”.
Mais à frente, depois de mais algumas considerações sobre o Estado, a Cinemateca, João Bénard da Costa e as distribuidoras.
"É por isso que hoje em dia só temos acesso a filmes americanos, quando há 30 anos havia muitas distribuidoras no país e chegavam aqui filmes não só dos Estados Unidos, mas de todo o mundo, França, Inglaterra, Itália, Suécia, Índia, Japão. Estamos cinematograficamente muito mais pobres".
Talvez a RTP ache que o Cinema em Portugal ainda não tem o peso suficiente para justificar um programa de duas horas e meia em horário nobre. No entanto, vou acalentando o sonho de um Prós e Contras com alguém como José Fonseca e Costa e Paulo Branco de um lado, e um secretário de Estado da Cultura e representante de uma grande distribuidora do outro. Seria uma oportunidade para ver de que lado da barricada se encontram alguns nomes sonantes da nossa praça.
Alvy Singer
Etiquetas: José Fonseca e Costa, Margarida Gil
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