Deuxieme


sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fight Club.

Num post mais abaixo, dedicado a algumas das obras mais marcantes de 1999, disse de Fight Club, o seguinte.

10 – Fight Club (David Fincher) – Um filme sobre uns quantos revoltados que passam os tempos mortos à bulha, e a mandar valentes sopapos uns nos outros, em nome da anarquia e oposição à sociedade de consumo, e que acaba por ser tudo menos isso”.

O leitor deste espaço Fifeco retorquiu na secção de comentários.

Reduzir Fight Club a essas palavras, ou, pelo menos, da forma como o fez é quase criminoso. A obra de Fincher é tão complexa e magnificente que não merece, quanto a mim, ser reduzida a palavras com tão pouco significado”.

Ora, ao focar este ponto, o Fifeco tocou num ponto sensível. Por duas ordens de razões. A primeira, acusação de violar a lei. Se há coisa que procuro evitar no quotidiano, é infringir a ordem. O sistema nervoso autónomo simpático entra em ebulição, e sou incapaz de concentrar-me no quer que seja, assim que meto o pé na poça. Há quem lhe chame neurose. Prefiro acreditar que seja o resultado de uma educação mais rígida. Ainda hoje, sempre que ouço a sirene de um carro da polícia, acho que é uma equipa CSI à minha procura, a querer saber onde é que eu estava naquela tarde soalheira de 1989, quando a bola insuflável desapareceu da varanda do vizinho e comerciante Sr. Osvaldo. Se o remorso matasse. A segunda, por lamentar os parcos – ou inexistentes – adjectivos utilizados para classificar a obra de Fincher. Tivesse o dia o dobro das horas, e eu metade das responsabilidades, e acredite, Fifeco, que teria muito mais a dizer sobre Fight Club. E, mais ainda, sobre Being John Malkovich ou The Insider. No entanto, o tempo não estica, como tão bem nos relembrou Benjamin Button, e todos temos uma vida para além desta que vivemos na blogosfera. Na noite de quarta-feira, esse foi o último de cinco posts a ser publicado. Escusar-me-ei a tentar transmitir o quão penoso é, por vezes, chegar a casa, ao fim de um dia de trabalho, e buscar alento para sentar-me em frente do computador, e dissertar uma série de tolices sobre a sétima arte. Em vez disso, optarei por aproveitar os próximos dez minutos para repor alguma justiça, e dizer algo mais sobre Fight Club. No entanto, aqui entre nós que ninguém nos ouve Fifeco, fica já a certeza. É um filme do caraças.

Instantaneamente elevado a filme de culto, esta foi a primeira adaptação ao grande ecrã de uma obra de Chuck Palahniuk. Um dos raros filmes que aparenta ter, ao mesmo tempo, uma simplicidade atroz e uma complexidade terrível. Num mundo desprovido de sensações, em que transeuntes e conhecidos se cruzam sem coragem de tocar no próximo, o contacto físico de uma luta é o despertar para a condição triste em que se encontra a comunidade. David Fincher pega na visão negra e pessimista de Se7en, mantém o inevitável twist, como havia feito em The Game, no entanto, desta feita servido sobre uma bandeja muito mais reluzente, e serve-nos um enredo ainda mais atractivo e invulgar. O filme, todo ele, é uma extensão do Choose Life no inicio de Trainspotting. A narrativa anda para trás, para a frente, para os lados, sem nunca perder o fio à meada, rejeitando a fórmula A+B, que tantas vezes condena ao insucesso as mais belas ideias de Hollywood. Edward Norton, igual a si próprio, num desempenho soberbo, e Brad Pitt, no melhor trabalho desde Twelve Monkeys, são os tresloucados ideais neste conto de uma audácia terrível a nível moral. Desenganem-se aqueles que consideram todos aqueles combates como acções meramente físicas. A principal lesada no final é a consciência social. O filme é puro entretenimento, visualmente memorável, e a prova de que uma existência digna pode ser atingida da forma mais inusitada. Há filmes que dão um murro no estômago. No final de Fight Club, sentimo-nos um saco de porrada. O que vale são os sabonetes que limpam a sujidade e violência que varrem as ruas deste mundo. Scorsese atribuiu esta função à chuva.

Bruno Ramos

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7 Comments:

Blogger Célia said...

Uma pequena correcção: o nome do autor de "Fight Club" é Chuck Palahniuk ;)
Quanto ao filme, é um dos meus preferidos... simplesmente genial!

20 de fevereiro de 2009 às 14:22  
Blogger Alvy Singer said...

Grato pela correcção, Canochinha. Um dia, deito-me ao livro.

20 de fevereiro de 2009 às 15:14  
Blogger Inês Guedes said...

Deite-se também ao Lullaby, do mesmo autor! Já para não falar do Choke (Asfixia). E tem razão, Fight Club é um filme do caraças! "Fuck damnation, man! Fuck redemption! We are God's unwanted children? So be it!" :DD

20 de fevereiro de 2009 às 15:58  
Blogger Unknown said...

Ironias à parte ("criminoso") posso agora afirmar que se fez justiça ao Fight Club. Posso também concordar com quase tudo que foi escrito e que dissertar mais sobre a fita seria entrar em campos que dariam para tópicos de discussão que poderiam durar muitos Invernos.

Obviamente, quando escrevi o comentário não tive o intuito de denegrir o trabalho de qualquer indivíduo. Apenas, sendo Fight Club um filme que realmente mudou a minha vida, achei que as palavras pecavam por defeito.

Mas agradeço bastante o trabalho que teve para lhe fazer justiça.

Já agora, queria apenas acrescentar que Fight Club revela-se genial em pormenores muito, muito pequenos. Não sei se se está lembrado da cena em que Tyler trabalho num cinema e confessa que, a meio de um filme, introduz uma imagem pornográfica que todos viram mas ninguém sabe o que acabou de se passar? Pois, isso acontece no próprio filme pelo menos duas vezes.

Continuação de um bom trabalho.

20 de fevereiro de 2009 às 19:43  
Anonymous Anónimo said...

Fifeco:

consigo sentir uma ténue brisa de pretensiosismo nas suas palavras.

a maior parte de nós, amantes do cinema, já viu a obra em causa e, tal como v. exa., aprecia tanto o resultado global do filme como os pequenos detalhes.

o que me parece é que coloca em causa a capacidade dos demais de reparar em "detalhes" como o que menciona no seu último post.. já lhe chegou aí o cheiro de que lhe falava há pouco?

o simples facto de ter comentado o artigo referente aos filmes de 1999 e dito que o comentário a fight club era redutor, que "pecava por defeito", parece-me de bastante mau tom. e passo a explicar:

os filmes mencionados no post em causa são, sem excepção, filmes de grande qualidade, filmes que marcaram muitos amantes do cinema, que fazem parte dos seus tops, das suas dvdtecas. ora, assim sendo, qualquer uma das obras mencionadas seria passível de comentário
semelhante ao do fifeco.

há que ter em conta o contexto em que se "reduzem" certas obras pois, por vezes, é impossivel captar-lhes a totalidade sem que se passe a "pecar por defeito" no grosso do artigo, que, neste caso, não era sobre o fight club, mas sim sobre o glorioso ano de 1999.

da próxima pense, não comente só para deixar registada a sua grande capacidade de compreensão de filmes como o supracitado.

cumprimentos
AF

21 de fevereiro de 2009 às 13:25  
Anonymous Anónimo said...

touché!

22 de fevereiro de 2009 às 01:58  
Blogger Unknown said...

Caro (a) AF,

Primeiramente tenho obrigatoriamente de referir que eu não sou detentor de uma grande compreensão de filmes. Tenho sim a minha opinião, independentemente do seu valor ao nível global. No entanto tenho o pleno direito de a proclamar perante as mais diversas situações. E neste caso quis ver um filme fabuloso devidamente criticado. Como escrevi, compreendo a falta de tempo e o desejo em postar muitos artigos. Ainda assim, a minha opinião reflectiu o sucedido.

Se era necessário fazer o mesmo para as restantes fitas, outros os dirão. Eu apenas expressei a minha opinião face ao Fight Club. Agora, se quer ver os restantes filmes analisados, proponha uma crítica.

Quanto à "leve brisa de pretensionismo" não é detentor(a) do mínimo conhecimento acerca da minha pessoa para poder escrever tal ofensa. De facto, eu mencionei um facto curioso que considerei ser digno de transmissão. Se equipara a transmissão de conhecimento a uma atitude pretensiosa, algo de seriamente errado se encontra com a sua forma de evolução.

22 de fevereiro de 2009 às 18:50  

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