Um triunfo para Paul Thomas Anderson?
Dois filmes, duas motivações. Curioso como as reacções que nos vão chegando, influenciam, ao mesmo tempo, a vontade que temos em ver determinado filme. Dá que pensar. Se não existissem visionamentos para algumas minorias antes da distribuição generalizada, as coisas seriam bem diferentes. Há um ano, se calhar, ninguém teria ido ver Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos. Quer dizer, havia Alan Arkin, Toni Collette, Steve Carrell, Greg Kinear, mas, por si só, este não seria o mais apelativo dos elencos. Mesmo assim, com tudo aquilo que se falou, com a carrada de criticas positivas e com o fantástico boca-a-boca que se criou, o filme ainda passou ao lado de muito boa gente. Por isso mesmo, bem hajam todos aqueles que o viram primeiro e que fizeram questão de deixar bem vincado o quão bom este título era. É sempre bom quando desconhecemos por completo um projecto, até que ouvimos falar dele pela primeira vez quando alguém diz Epá, espera lá que está aqui qualquer coisa que vale a pena!, como já aconteceu este ano com Once e Juno, por exemplo.
No entanto, como em tudo, existe o reverso da medalha. Da mesma maneira que nos fiamos quando vamos à procura de uma boa surpresa ou apenas de uma confirmação, por muito que nos custe, não podemos deixar de ficar abananados quando contamos que um determinado filme seja alguma coisa de jeito, e depois vemos que a maioria não lhe acha grande espingarda. Até podemos continuar a querer vê-lo, mas não da mesma maneira.
É claro que existem excepções. Dê por onde der, há sempre alguém que nunca falha um Cronenberg, um Malick, um Payne ou um Polanski, e o entusiasmo é sempre o mesmo, antes da luz se apagar. Só depois é que a gente fala. No entanto, isto só funciona para aqueles actores, realizadores, argumentistas ou compositores dos quais somos realmente aficionados. Para aqueles que simplesmente admiramos, aquilo que se vai ouvindo é importante, parecendo que não.
Isto tudo para dizer que existem, neste momento, dois filmes extremamente convidativos, cujas recentes criticas vieram alterar a motivação para os ver. O primeiro, aumentando aquela que era já uma vontade desproporcional. O segundo, resfriando uma secreta ambição de encontrar aqui um concorrente à altura de American Gangster.
Parece então que o novo filme de Paul Thomas Anderson, There Will Be Blood, é tão bom quanto se pensava.
Seja no AICN, no Hollywood Reporter ou na Variety, de todo o lado chovem elogios ao realizador, a Paul Dano e, sobretudo, a Daniel Day-Lewis, que se assume assim como um forte candidato a tudo o que for prémio este ano. Há quem vaticine já algumas comparações a Citizen Kane. Mais pelo rumo da história e pelo relato de uma família corrompida pelo sonho americano. Comparar um filme à obra-prima de Orson Welles não deixa de ser um exercício assombroso. Só a audácia para o fazer, já é assinalável. Agora, sem dúvida nenhuma que isto significa uma corrida às bilheteiras quando o filme estrear.
Por outro lado, We Own The Night começa a levantar algumas questões, apesar das primeiras impressões negativas terem chegado logo de Cannes.
Até há bem pouco tempo, esta era uma aposta pessoal sem grande sustento. Um tiro no escuro. Confesso admirador do trabalho de Mark Wahlberg, ainda mais do de Joaquin Phoenix, e mais ainda do de Robert Duvall, isto tinha tudo para dar certo. Contudo, vêm agora dizer que o filme só vale por Wahlberg, Phoenix e que se assemelha em muito aos policiais dos anos 70 sem, no entanto, acrescentar algo de novo. Ora, meus senhores, eu adoro policiais dos anos 70. Foi por isso que vim para casa com um sorriso nos lábios quando vi Zodiac. Mas, a indiferença com que tudo isto é dito, não deixa de abalar a confiança de um cinéfilo que depositava aqui algumas esperanças.
Resultado, se estrearem no mesmo fim-de-semana, verei primeiro There Will Be Blood.
Alvy SingerEtiquetas: There Will Be Blood, We Own The Night
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