Deuxieme


segunda-feira, outubro 29, 2007

Expectativas mais do que confirmadas.

Sem ter visto o documentário Little Dieter Needs to Fly, também de Herzog, que serve de base a este filme, a análise deste Rescue Dawn poderá coxear um pouco. É porque, nestes casos, dá sempre jeito ver aquilo que ficou melhor, as diferentes perspectivas e abordagens, comparar técnicas de filmagens, enfim, encontrar diferenças. Não tendo visto esse documentário, está será então uma interpretação que tem apenas em linha de conta o filme, e nada mais do que isso.

E, que filme. Nos dias que correm, cada vez vai sendo mais difícil encontrarmos nas salas de cinema uma obra sobre esses seres estranhos chamados pessoas. Por vezes, ficamos com a ideia de que a industria cinematográfica recorre excessivamente a meios extravagantes, com o objectivo de fazer chegar ao grande publico, mil e uma histórias sobre tudo e mais alguma coisa, menos seres humanos. Esse animal com desejos, receios, ambições, limitações, sonhos, motivações, imperfeições, imaginação, tudo coisas que dão cor a toda uma existência. E, cor é coisa que não falta à história de Dieter Dengler.

Deveremos reconhecer, que o filme sofre de algumas falhas. E ambas ocorrem em momentos cruciais. Tanto o principio como o fim da obra, por razões diferentes, demarcam-se negativamente, em comparação com tudo o resto. O início, pela excelente oportunidade desperdiçada por Herzog de entrar pelo personagem de Dengler adentro, e dar-nos um pouco uma outra imagem, com maior profundidade, do real estofo deste homem. Se existe algum momento em que a história parece avançar aos repelões, esse é o começo.

Por seu lado, o fim do filme destoa de tudo aquilo que o antecedeu. É quase como se tivéssemos entrado num outro título para o qual não estávamos preparados e, por alguns instantes, temos direito a ver o que seria Rescue Dawn versão Hollywoodesca. Sem entrar em spoilers, direi apenas que o nome Michael Bay surgiu a certa altura na minha mente.

De resto, ou seja, durante os outros 110 minutos que constituem o desenvolvimento do filme, Herzog oferece-nos uma história vibrante, num crescendo de tensão e agitação. A improvisação de falas a que o realizador recorreu, terá ajudado em muito a complementar um argumento que, se tivesse sido mais rigoroso, teria talvez roubado a expressividade de alguns diálogos. A passagem de Dengler enquanto recluso, no Laos, é uma visita guiada à destruição da mente humana pela mão do cativeiro. Basta aquela apresentação do prisioneiro Eugene from Eugene, Oregon, para percebermos que estamos na presença de alguém que há muito abandonou o mundo real. Contudo, são os momentos passados na selva, onde o homem se confronta com a natureza, que a obra de Herzog demonstra todo o seu esplendor. O olhar de Bale é a porta para as suas indecisões e, refastelados como quem não quer a coisa, na cadeira do cinema, somos capazes de presenciar o turbilhão de pensamentos que deviam percorrer a mente daquele homem. A fotografia de Peter Zeitlinger do Vietnam e Laos é qualquer coisa do outro mundo, e a banda-sonora de Klaus Bedelt é, no mínimo, tocante.

Uma ultima palavra para os dois actores em destaque. Ponhamos as coisas nestes termos: Bale é o primeiro nome que colocaria na lista dos candidatos ao Oscar de melhor actor principal, embora ainda falte muito campeonato. Zahn é o primeiro nome que colocaria na lista dos candidatos ao Oscar de melhor actor secundário, e dificilmente sairá de lá. Duas interpretações de se lhe tirar o chapéu, num filme que encheu por completo as medidas.

Alvy Singer

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3 Comments:

Blogger João Bizarro said...

O Christian Bale está feito um SENHOR actor.
Tem vindo a progredir com passos seguros e apesar da sua idade já tem no currículo um bom numero de grandes desempenhos.

Um dos meus actores de eleição.

29 de outubro de 2007 às 12:20  
Blogger Sara said...

Steve Zahn surpreendeu e MUITO! Sim senhor!

29 de outubro de 2007 às 21:12  
Blogger Sofia said...

Infelizmente só ontem tive oportunidade de ver esta bela fita, e devo dizer que, embora fossem bastante altas, as expectativas foram mais que superadas! Desde a brilhante representação de Christian Bale,Steve Zahn e mesmo de Jeremy Davies, passando pelas mesclas perfeitamente conseguidas de humor e coragem, até às paisagens de cortar a respiração, Rescue Dawn é sem dúvida uma obra a rever, recordar e comprar assim que sair em DVD!

13 de novembro de 2007 às 10:31  

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