Deuxieme


sexta-feira, outubro 31, 2008

Um W. que sai em forma de M.

A principal motivação na deslocação a uma sala de cinema, salvo raras excepções, deverá ser a de presenciar um bom filme. Essa é a esperança quando atravessamos aquela porta. Assim como a primeira questão que nos colocamos quando a obra chega ao fim, é se o tempo dispendido foi bem aproveitado. No caso de W., algo mais emerge do que a simples vontade de assistir um bom pedaço de arte. Um secreto capricho sádico se eleva, quase sem darmos conta. Porque, ou esta é a machadada cinéfila que aguardávamos na administração de George W. Bush, ou a derradeira oportunidade para Oliver Stone mostrar que ainda detém o virtuosismo que fez dele um dos cineastas mais polémicos, nos finais do século XX.

Porém, quando o filme chega ao fim, percebemos que não é uma coisa, nem outra. O famigerado não é carne nem é peixe. Nem podemos rir a bandeiras despregadas na cadeira com as calinadas do presidente norte-americano, nem nos atrevemos a apontar o dedo a Stone e dizer que era capaz de fazer melhor. Que é claro que podia. Mas, talvez, nem assim tanto.

Apesar de algumas falhas gritantes, W. resulta num título bem conseguido, sobretudo ao nível da representação, do argumento escorreito e inteligível, e da fotografia sentida de Phedon Papamichael. Embora a opção flashbacks comece por fazer sentido, a partir de metade do filme torna-se forçado estar a regressar às origens da família Bush. Contar a história a eito significaria ter de esperar muito para vermos Bush na Casa Branca. O problema é que o melhor do filme é Brolin de cabelos brancos. Aquele olhar confuso, charlatão, e angustiante, de quem chegou ao topo do mundo, e continua a preferir o centro de um campo de basebol. A excelência no desempenho de Brolin, que legitimamente poderá almejar a uma nomeação para os Oscares, não ofusca, contudo, as não menos notáveis interpretações de Thandie Newton e Richard Dreryfuss. Para além do magnífico elenco, há a destacar o trabalho de casa de Stone e da sua equipa, na pesquisa sobre reuniões e outras questões mais específicas, como a problemática redacção de discursos. No entanto, era este espírito West Wing que poderia elevar W. para um outro nível. Em vez disso, Stone optou por fantasiar episódios que não figuram do imaginário colectivo, antes de entrar na sala de cinema, como uma hipotética luta entre Bush-filho e Bush-pai. Onde W. falha no alvo, é no registo excessivamente caricatural. A visão burlesca e simpática do presidente norte-americano fragiliza o produto final. Ao pé de W., a sobriedade britânica de A Rainha faz do filme de Stephen Frears um documentário. No entanto, este não deixa de ser um óptimo filme. Richard Dreyfuss também acha, embora tenha mais a dizer sobre o assunto.

Bruno Ramos

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