Deuxieme


terça-feira, janeiro 20, 2009

Não trocaríamos este filme pelo que fosse.

Ainda não falámos aqui de A Troca, e devia-nos ser cobrado um imposto qualquer por isso. É tempo de rectificar esta falha, sobretudo, antes que o acordo ortográfico se encarregue de retirar o cê de rectificar e passemos a ter de retificar esta falha. Em qualquer dos casos, não deixa de ser uma falha que urge ser resolvida. Será hoje.

No dia da inauguração, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez questão de ter gente com pontos de vista diferentes a discursar. Ora, acreditamos que tal decisão terá ficado a dever-se ao enriquecimento que advém de estarmos e falarmos com pessoas que não partilham a nossa opinião. E, por esta altura, poucas coisas seriam tão enriquecedoras como juntar cinco ou seis críticos aqui da redacção, e promover uma discussão sobre o mais recente filme de Clint Eastwood. Quem tiver uma Premiere em casa, poderá atestar que houve para todos os gostos. Houve quem lhe desse uma estrela – o Jorge Pinto, escriba da radiosa secção Cinema Chuga –, duas, três, quatro e cinco – distinção promovida pelo Francisco Toscano Silva. Um filme provocar reacções tão díspares é sempre motivo para alguma celeuma. Tratando-se de uma obra de Eastwood, as reflexões tornam-se ainda mais profundas.

A premissa de A Troca parece relativamente simples. Uma mãe que perde subitamente um filho, e tudo continua a fazer para recuperá-lo, mesmo depois de a polícia de Los Angeles garantir que o rapaz encontrado é seu. No entanto, Eastwood recusa a ficar-se estritamente pelo relato da tragédia que abalou a família Collins. Antes, prefere derrubar mitos que servem de alicerce a uma sociedade americana cristalina e exemplar. Este é mais um exemplo dos filmes que nos vão às entranhas, e não descansam enquanto não deixam tudo revirado. Algumas sequências de A Troca fazem lembrar o que de mais perturbador pode ter o Cinema clássico, à imagem das sombras omnipresentes em obras como Sunset Blvd. (Billy Wilder, 1950) ou Mildred Pierce (Michael Curtiz, 1945). O argumento de J. Michael Straczynski nem sempre se confina às linhas delimitadoras do género dramático, pisando inúmeras vezes terreno alheio, chegando a mergulhar num horror por vezes angustiante, que Eastwood também visitou com Sean Penn em Mystic River. Angelina Jolie oferece-nos um desempenho irrepreensível. E, neste ponto, convém dizer que não entramos nesses comboios que defendem que Jolie tem um esforço suplementar, por ter de contrariar aqueles que acham que a sua carreira se deve a atributos físicos. Não nos esqueçamos que Jolie já conta com um Oscar na carteira. Julian Moore, Kate Winslet, Laura Linney, Natalie Portman, Emily Watson, Joan Allen, não. Não acreditamos que haja aqui qualquer tarefa para além da representação. E, nesse capítulo, o que Jolie fez foi absolutamente espantoso. Bem como John Malkovich, que não se via num registo destes há alguns anos. Quando abre aqueles olhos é o silêncio na sala de Cinema. Posto isto, em que ponto ficaríamos na discussão sobre A Troca? Naquele bastante confortável, que resulta de duas horas e meia após um óptimo filme.

Bruno Ramos

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Achei este filme excelente. Quando acabou, senti-me colada à cadeira. Foi dos filmes que mais me suscitou emoçoes.

20 de janeiro de 2009 às 23:56  
Blogger Nuno Gonçalves said...

Eu fiquei completamente extasiado e também revoltado. Gostei muito do filme, e de certos momentos. Um dos que achei mais marcantes foi a


ATENÇÃO SPOILER!!!!!!!!!!




parte em que o assassino sobe as escadas da forca. Foi mesmo impressionante e chegou a dar pena.

21 de janeiro de 2009 às 01:12  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez, o amigo Clint cumpre. A realização é primorosa, e alguns planos em traveling são uma delícia.
No entanto, o filme como um todo, é para mim o mais fraco dos seus últimos 6-7 filmes.

Só mais um pormenor (maior): e não é que Jolie prova que Girl Interrupted não foi obra do acaso?...

21 de janeiro de 2009 às 10:20  
Blogger Nia said...

Gostei do filme, bastante, ao contrário dos anteriores (MR e MDB incluídos). Jolie é um assombro, e a cena que mais me angustiou, que quase me cortou a respiração (coisa inédita), foi

ATENÇÃO SPOILER

a da fuga dos miúdos - pelo desfecho, provavelmente Walter foi re-capturado, mas ainda bem que Clint não mostra MAIS isso.

Saudações cinéfilas,
Nia

21 de janeiro de 2009 às 18:00  

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