O anti-consenso.
Agora sim. Guarnições e energias repostas. Tudo preparado. Passado o cabo das tormentas, o mar avizinha-se sereno e propicio à navegação nas ininterruptas boas novas da sétima arte. E, com Cannes em grande plano, mais vale içar velas, zarpar na rota da corrente que convida, e partir para mar alto. A armada da Premiere relança-se assim, quase três semanas depois, nas circumnavegações cinéfilas que tanto prazer nos dão, neste recanto minúsculo da blogosfera. Comecemos, pois então, com as reacções, praticamente bipolares, provocadas por Antichrist, the Lars von Trier. Já lemos carradas de criticas, e ainda não conseguimos assegurar se o filme passa pelo Festival com distinção, ou se fica pelo flop. É que parece não existir aqui espaço para o meio termo. De um lado da barricada, entre outros, Todd McCarthy, da Variety. Que se atira de cabeça numa apreciação retórica ao estilo de um qualquer admirador mais fanático de Marshall McLuhan.
“Lars von Trier cuts a big fat art-film fart with "Antichrist." As if deliberately courting critical abuse, the Danish bad boy densely packs this theological-psychological horror opus with grotesque, self-consciously provocative images”.
Perfilado nas trincheiras da outra ofensiva, por sua vez, encontramos, por exemplo, Damon Wise, da Empire Magazine.
“What Lars is driving at is something completely bizarre, massively uncommercial and strangely perfect”.
O único que parece ter ficado tão siderado como um cinéfilo que lê todas estas considerações e não consegue definir o que esperar, foi Roger Ebert. Disse o critico-mor.
“Whether this is a bad, good or great film is entirely beside the point. It is an audacious spit in the eye of society. It says we harbor an undreamed-of capacity for evil. It transforms a psychological treatment into torture undreamed of in the dungeons of history. Torturers might have been capable of such actions, but they would have lacked the imagination. Von Trier is not so much making a film about violence as making a film to inflict violence upon us, perhaps as a salutary experience. It’s been reported that he suffered from depression during and after the film. You can tell. This is the most despairing film I’ve ever have seen”.
Tanta disparidade só pode resultar numa coisa. Curiosidade acima da média, nem que seja só para depois podermos participar naquelas discussões intermináveis sobre a qualidade da obra, que nos deixam a suar e a arfar violentamente, apesar de pouco mais usarmos do que o aparelho bocal e meia duzia de gesticulações bruscas. Sim, estamos a falar de um diálogo entre cinéfilos.
Bruno Ramos
Etiquetas: Antichrist, Lars von Trier
1 Comments:
não custa nada ter como alvo os críticos portugueses, também eles prolíficos em oposições, quando João Lopes diz prodigioso-(http://sound--vision.blogspot.com/2009/05/cannes-2009-17-de-maio.html), Vasco Câmara diz frígido-(http://ipsilon.publico.pt/Cannes2009/texto.aspx?id=231581).
Não descorando o grandíssimo Ebert, por terras lusas à bom material para discussão.
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