Catalogar.
Há certas afirmações que, parecendo terem o propósito de elucidar, mais não servem do que para confundir um tipo já de si meio confuso. Coisas como Um Woody Allen razoável é melhor que um Wolfgang Petersen brilhante, ou Matt Damon é o novo Bruce Willis, mas talentoso, até podem ter a melhor das intenções. Contudo, quando espremidas, resultam num vácuo perfeito. Se é para dizer que o filme de Allen não presta, caramba, que se diga. Se o objectivo é dizer que Damon, por vezes, também não dá uma para a caixa, força. Agora, não nos venham com paninhos quentes. Dar uma no cravo e outra na ferradura, é tentativa vã de agradar a gregos e troianos. E, como sabemos – não apenas os gregos e os troianos, mas a humanidade no seu todo, e no seu particular –, é complicado agradar a ambas as partes. Todd McCarthy começa a sua apreciação a A Serious Man, na Variety, da seguinte maneira.
“A Serious Man is the kind of picture you get to make after you've won an Oscar”.
O que pretenderá Todd McCarthy dizer com isto? Que tipo de filmes tendem os realizadores a fazer, depois de serem galardoados com um Oscar? Estará McCarthy a referir-se a The Godfather – Part II e The Conversation, títulos com que Coppola deu continuadade à sua carreira depois de The Godfather? Ou, estará McCarthy a pensar em Doctor Zhivago, obra realizada por David Lean após o belíssimo Lawrence of Arabia? Ou, será ainda o caso de Letters From Iwo Jima, de Clint Eastwood, depois de Million Dollar Baby? Estamos em crer que não. Parece-nos, acima de tudo, que McCarthy é daqueles que não acredita ainda que Nim é uma palavra. Contudo, há já mais de uma década, Ana Maria Lucas mostrou-nos que o vocábulo existe. E, hoje, a Premiere vem defender o carácter avaliador do termo. Se se podem dar três estrelas a um filme, porque carga de água não se pode dizer que o filme não é sim, nem sopas. É sipas! Porque, colocar tudo no mesmo saco, dizendo que o último dos Coen é o típico filme pós-Oscar, é que nos parece desagradável. Felizmente, há quem tenha gostado do filme, e não foi de modas. Como Richard Corliss, da Time.
“A Serious Man, which has its world premiere tonight at the Toronto Film Festival before opening in theaters Oct. 2, is a rare event in movies, where action is character. It's certainly rare for the Coens, in that this is one fable — Miller's Crossing might be another — that is worth taking seriously”.
Lá para o final da critica, Corliss vai ainda mais longe, metendo Deus ao barulho e tudo. Agora, o que gostaríamos de relevar aqui, não é tanto o que é dito por alguns críticos. Mas, o que não é dito. Talvez Todd McCarthy seja o tipo de critico que se renasce depois de se ter esquecido porque é que gosta de Cinema.
Bruno Ramos
Etiquetas: A Serious Man, Coen
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