The Ugly Truth.

As comédias românticas são como os bitoques. Dita a ordem natural das coisas que, aquando das primeiras experiências gastronómicas fora de portas, tenhamos por hábito pedir o prato que vá mais de encontro à nossa parca noção da moral e bons costumes. Aliás, na altura, nem somos bem nós que o pedimos. Alguém com mais discernimento fá-lo por nós. Porque não se pode envergonhar toda a família perante o simpático casal na mesa do lado, convém que os pais se cheguem à frente solicitando o prato que ofereça menos possibilidades de chafurdice. Se nenhum pedaço de comida acabar no chão, é uma noite ganha. De igual modo, no reino da sétima arte, quando começamos a abraçar obras que extravasam o domínio da animação, uma voz controladora insiste em determinar aquilo que nos chega à mesa. A ementa é vastíssima, contudo, a comédia romântica, aos olhos dos progenitores, é algo que fica sempre bem. Depois da introdução do Pai Natal no imaginário infantil, nada como fazer ver ao petiz que existe um propósito claro na vida. Fazer rir e amar. Tal como o bitoque, a comédia romântica é inofensiva. Sobretudo, se vista ainda durante o período de latência. Nessa fase, nem mesmo as piadas mais grosseiras são entendidas pelo pré-púbere. É ouro sobre azul. O problema vem mais tarde. Com o passar dos anos, descobrimos que o menu esconde mais do que um Bife à Mickey. Com o tempo, vimos a saber que um bocado de drama nunca fez mal a ninguém, e que Cupido não tem a destreza de Guilherme Tell. Um bitoque será sempre um bitoque. Contudo, para surpreender a criança dentro de nós, convirá que seja servido com um molhinho de leite, ou uma salada avinagrada. Para refrescar o espírito não basta copiar memórias. É preciso dar-lhes um toque especial. Da mesma maneira, para que The Ugly Truth não fosse apenas mais um título entre os demais, tinha dado jeito que Robert Luketic tivesse deitado a mão de outra forma ao argumento de Nicole Eastman e Karen Lutz. Contudo, acreditamos que a matéria prima não tenha dado mesmo para muito mais. É pena. Porque, apesar de um bitoque vir sempre a calhar, já não é isso que nos eleva à Heavyside Layer. E, no fundo, é isto que temos a dizer sobre o filme de Luketic. É um bitoque.
Bruno Ramos
Etiquetas: Robert Luketic, The Ugly Truth