Deuxieme


domingo, setembro 28, 2008

Intempérie de risos.

Há por aí quem diga que Ben Stiller não é estrela de E grande. Que, ao contrário de muitos, com mais talento que ele, tem conseguido manter-se nas bocas do mundo, participando, aqui e ali, em filmes que pediam claramente alguém com mais estaleca. Que, ao contrário de alguns predestinados, Stiller não é material de Passeio da Fama. Que, a favor de injustiças perpetradas por carreiristas de Hollywood, o actor tem sido beneficiado inúmeras vezes, em detrimento de gente ilustre que não sabe mover-se convenientemente quando as câmaras se desligam. Porque, até certo ponto, as conversas de conveniência nos elevadores fazem mais do que as lágrimas vertidas naquela sentida cena. Que, nisto da selecção natural, e transpondo a teoria de Darwin para o plano da sétima arte, Stiller não comprova a sobrevivência do mais forte. No fundo, que a comédia ficaria muito melhor servida se Stiller desse um passo atrás, ou alguém lhe desse um empurrão para a frente – depende da perspectiva. Para os apologistas desta tese, na outra ponta do espectro encontramos actores como Paul Rudd ou Hank Azaria.

Aquilo que este seu mais recente filme, Tempestade Tropical, veio fazer, foi mostrar aos maiores censores de Stiller que, afinal, o filho de Frank Costanza sabe mesmo qualquer coisa sobre Cinema. Que, talvez, não seja o paradigma do pára-quedista que caiu não se sabe bem de onde. À primeira vista, Tempestade Tropical seria apenas mais um filme de Verão, com alguns compinchas de Stiller a fazerem o jeitinho de contribuir para meia dúzia de gags, e cem milhões de dólares nas bilheteiras. No entanto, Zoolander estava disposto a mostrar algo mais. Arregaçou as mangas, pegou o touro pelos cornos – transparência, a quanto obrigas –, e abraçou o projecto à boa maneira de Warren Beaty. Escreveu, protagonizou, produziu e realizou. Não querendo deixar o crédito por mãos alheias, havia que transformar este título na prova de que Stiller não anda aqui a brincar aos cowboys – de facto, uma paródia aos westerns vinha a calhar. O outrora teenager obcecado por Mary sentia isso, e nós também. É que o filme dos Farrelly já foi há dez anos, e aquele outro primeiro do sogro à perna também já não vai para recente. Urgia estimular uma carreira que, longe de estar à beira do precipício, já conheceu melhores dias. Não é por acaso que, logo no inicio, nos trailers que servem de apresentação aos artistas dentro do filme, Stiller é Tugg Speedman, um actor em descrédito.

Hoje, depois de Tempestade Tropical, e antes de voltar a acertar no alvo, Stiller tem margem de manobra para fazer novamente uma mão cheia de filmes inofensivos, daqueles que não fazem sombra ao brilhantismo da sua passagem por The Royal Tenenbaums. É que este seu mais recente trabalho, é bem capaz de ser a melhor comédia em que já participou. Sempre. Um filme sobre um grupo de actores que se propõe a fazer o melhor filme de guerra de sempre. Speedman (Stiller), Lazarus (Robert Downey Jr.) e Portnoy (Jack Black) são os protagonistas. Quando as coisas começam a correr mal, e o realizador mostra não ter mão no vedetismo das teimosas estrelas, o produtor Les Grossman ameaça fechar as filmagens. Então, num acesso de loucura misturado com genialidade, ocorre ao realizador levar os actores para o meio da floresta, e rodar o filme com toda a improvisação de um estilo guerrilla. E, aí é que começa o verdadeiro filme – numa obra claramente divida em dois momentos distintos, é por demais evidente a atrocidade de um intervalo que vem quebrar o ritmo da narrativa.

Num título sobre os meandros da sétima arte, não podiam faltar provocações a temas como o product placement, a crescente febre da adopção, dependências, o papel dos agentes, ou a autoridade de um produtor. Ao pé do maravilhoso Grossman de Tom Cruise, o Ari Gold de Jeremy Piven é um puto reguila. Robert Downey Jr. assume todo o protagonismo, e justifica o alarido em torno da sua interpretação. Considerações para o Oscar de Melhor Actor Secundário são mais do que justas. Jack Black cumpre os objectivos mínimos, e participa no melhor gag de todo o filme. Sem mãos. Jay Baruchel, Brandon Jackson, Steve Coogan e Nick Nolte completam o elenco sublime de Tempestade Tropical, a mais entusiástica sátira a Hollywood da última década. Com a devida distância, Stiller pode ter feito aqui para os filmes de guerra, aquilo que Mel Brooks fez em 1974 com Balbúrdia No Oeste, para os westerns. Com a devida distância, o tempo o dirá.

Bruno Ramos

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu simplesmente adorei o filme! Robert Downey Jr. está formidável, Tom Cruise emana um gozo tremendo por todos os poros, Black está como de costume e Stiller convence bastante como realizador. Fantástico!

29 de setembro de 2008 às 03:09  

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