Deuxieme


quinta-feira, janeiro 24, 2008

Estreias da Semana (4 filmes a ver)

NOME DE CÓDIGO: CLOVERFIELD

A iniciar esta semana repleta de boas estreias, começo pelo polémico Nome de Código: Cloverfield. Este filme é um exemplo fantástico da força do marketing do cinema (cultivado pela pouca informação que o site dispunha, o que lançou uma curiosidade insaciável no público e despertou uma procura enorme na Internet), feita, refira-se antes de mais, com uma coerência e qualidade reais (em oposição, por exemplo, ao medíocre O Projecto Blair Witch). Sobre o olhar atento de J.J. Abrams (A Vingadora, Perdidos, M:I:3) que deu a cara pelo filme e se sentou comodamente na cadeira da produção, o realizador Matt Reeves (que veio do mundo da TV, tal como Abrams) concebe uma obra distinta a vários níveis, e que nos dá que pensar sobre o cinema e o seu futuro.

A acção passa-se em Nova Iorque, mais propriamente Manhattan, e mostra-nos uma história de amor com pontas soltas, que se encadeia num grupo de pessoas que festeja alegremente uma despedida de um amigo comum, que vai partir para o Estrangeiro em trabalho. Entre as primeiras impressões dos protagonistas (onde a maioria dos actores são desconhecidos, exceptuando os casos de Jessica Lucas, Lizzy Caplan e Mike Vogel) e um início de construção narrativa coerente, o grupo é apanhado de surpresa numa tragédia que aparenta ser de causas naturais, mas que se vai revelar um verdadeiro pesadelo de natureza surreal, onde todos vão lutar pela sua sobrevivência, em busca de respostas para o que se está a suceder.

Filmado com uma câmara de vídeo (que, surpreendentemente, não cansa visualmente o espectador um único minuto), o filme é-nos mostrado pelas pessoas da festa, que gravam tudo durante o seu infernal percurso pela cidade – e é sobre esse dispositivo de documentário/filme que nos é apresentada esta obra vibrante, que nos dá conta de uma arrojada realização e montagem, bem como uma clara noção dramática e de suspense tão bem medida e perfeitamente distribuída pelos curtos 75 minutos do filme. São vários os géneros incluídos nesta obra, que fazem dela um objecto de cinema original, onde o seu misticismo (e o final), pendurados sobre a questão da problematização do “propósito de tudo ter acontecido”, recordam, inevitavelmente, a obra-prima Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock.

4/5 - Bom


THE DARJEELING LIMITED

Seguimos para outro tipo de drama, com The Darjeeling Limited, a última obra de Wes Anderson. Este fabuloso filme encerra a uma trilogia familiar, iniciada pelo realizador, em 2001, com The Royal Tenembaums – Uma Comédia Genial, seguida, em 2004, com The Life Aquatic with Steve Zissou – Um Peixe Fora d'Água. Se no primeiro caso temos um pai, cuja ausência e descuido deixara marcas irremediáveis nos seus filhos, à procura da sua redenção, no segundo caso vemos um filho tentar conquistar um pai que nunca teve, movido pela paixão comum da exploração da vida debaixo do mar; o pai acaba por encontrar na sua recente função paternal uma via para se auto-descobrir.

Para completar este mosaico, chega-nos agora a inesperada aventura dos irmãos Whitman (Adrien Brody, Owen Wilson e Jason Schwartzman) que iniciam uma viagem espiritual para a Índia, em busca de respostas interiores para os seus conflitos pessoais, onde a ausente cumplicidade entre irmãos, a fria independência da mãe e a morte do pai funcionam como os vectores determinantes. Mas, por entre o choque das relações entre eles, alimentadas pela mais variada colecção de comprimidos e outras substâncias que tomam sem controlo, surge um laço que os vai unir numa situação única, e que mudará o curso da viagem, bem como a sua intenção inicialmente prevista.

Com o seu estilo narrativo muito próprio, Wes Anderson cria em Darjeeling um momento de grande cinema, enquanto fiel retrato das emoções humanas inerentes ao conceito familiar e ao contacto com outras culturas, neste caso específico. Uma vez mais, Wes reafirma o fantástico realizador e contador de histórias que é, sobre uma visão estética muito peculiar e específica, a que já nos habitou nos seus títulos anteriores, e dirige três grandes actores no encanto quase musical, repleto das mais absurdas e cómicas situações que se intercalam com momentos de felicidade e tristeza, tal como a própria vida. De notar o feito que a distribuidora Castello Lopes conseguiu, ao incluir antes do filme, a curta-metragem Hotel Chevalier, também de Wes Anderson, com Jason Schwartzman e Natalie Portman (a grande surpresa surge com as suas cenas de nudez, “vestidas” de uma naturalidade incrível); um pequeno doce que nos liga directamente ao início do filme, e que nos acompanha ao longo do mesmo. É imperdível.

5/5 – Magnífico


O COMBOIO DAS 3 E 10

De seguida, damos um saltinho ao Oeste. James Mangold (Copland, Walk the Line) realiza O Comboio das 3 e 10, um delicioso regresso ao género tão nobre que é o Western. Com as bases bem assentes do filme original (realizado por Delmer Davies em 1957, com Glenn Ford e Van Heflin nos principais papéis), este é um exemplo de uma boa conjugação de influências, que nos enche durante duas horas.

Em linhas gerais, O Comboio das 3 e 10 conta a história de Dan Evans, um pobre rancheiro debilitado (Christian Bale) que se vê forçado a integrar numa missão arriscada para salvar a sua família do desespero financeiro e moral: Evans tem de transportar, em segurança, o pistoleiro criminoso Ben Wade (Russel Crowe) até ao comboio das 3 e 10, que o levará para a prisão de Yuma para ser julgado. Para além das suas debilitações e de um grupo cobarde que o acompanha neste perigosa missão, Evans vê-se ainda ameaçado pelo grupo de forasteiros que perseguem o seu rasto para libertar Wade, o seu destemido líder. Durante uma noite inteira e até ao começo da tarde, desenvolve-se entre Evans e Wade uma estranha cumplicidade, que vai ditar as acções de cada um; herói e vilão vêem-se encurralados num futuro já determinado.

Do início ao fim do filme, a acção é garantida e filmada com um pulso seguro, tal como o argumento é competente. À rica visão de Mangold junta-se a sua notória direcção artística, que faz de Christian Bale e de Russel Crowe um par de interpretações de grande nível. Temos aqui um interessante exemplo de Western, ainda que não exista uma dimensão humana de valores maiores, e por isso o filme não é capaz de nos devolver algo outrora proveniente de mestres como Ford, Hawks, Leone ou até Clint Eastwood. E como tal, sente-se que se podia ter feito mais, seja com as personagens, seja com o argumento, seja até a nível visual – falta uma existência de uma visão mais vincada de estética e força da história. No entanto, estão asseguradas emoções fortes e duas horas de excelente entretenimento.

3/5 – Razoável


BANQUETE DO AMOR

De regresso à actualidade, somos brindados com um drama ímpar. Banquete do Amor é o mais recente filme do competente realizador Robert Benton (Kramer contra Kramer, Vidas Simples, Culpa Humana). Neste singular filme dedicado ao amor e às suas mais belas e tristes formas de vida criadas e vividas pelas pessoas, Benton constrói uma obra deliciosa de fantasia e, em simultâneo, com uma carga muito real à qual não se pode fugir.

Na serena comunidade de Oregon surgem inúmeras histórias entre os seus habitantes, onde o amor encarna o papel principal. Sem olhar a idades, formas ou sexos, ele funciona como matriz principal da vida. Tudo isto é testemunhado por Harry Stevenson (o sempre fabuloso Morgan Freeman), um professor que se retirou das suas funções devido a um passado doloroso, que partilha com a sua mulher (Jane Alexander). Harry funciona como uma ferramenta preciosa na vida dos seus amigos e conhecidos, onde se encontra o seu amigo Bradley Thomas (Greg Kinnear) com os seus casamentos falhados, a sua amiga Chloe (Alexa Davalos) e o seu namorado Oscar (Toby Hemingway), jovens recheados de incerteza e fragilidade, a quem se juntam mais pessoas que tomam lugares nas suas vidas e que as vão mudar para sempre.

Há muito que não se via um filme tão simples e complexo na mesma medida, onde o efeito especial é o factor humano. Benton cria um tratado sobre o amor, onde existe espaço para a celebração, a contemplação, a angústia, a tristeza e, ainda, a felicidade. Este é um caso obrigatório de se ver, para se aprender mais sobre o cinema de grande qualidade, sobre a vida e, inevitavelmente, sobre o amor.

5/5 - Magnífico

E é tudo. Bom cinema!

Francisco Silva

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5 Comments:

Blogger p. said...

A propósito do comentário sobre o filme "Cloverfield", acho que o estilo deste filme é bastante influenciado por um dos seus produtores: J.J. Abrams.
Numa palestra de Março de 2007, o escritor, produtor e realizador clarificou algumas das suas ideias e o que o influencia no seu trabalho, não faltando algumas referências a obras de outros realizadores.
Aqui ficam os links para essa palestra que teve lugar numa espectacular conferência anual intitulada TED (Technology, Entertainment, Design), por onde muitos outros interessantes realizadores passaram:
"J.J. Abrams: The mystery box" ou ainda em alta definição.
Depois de assistir a esta palestra, pode-se constatar um certo modus operandi por parte de J.J. Abrams, bem patente nos teasers de "Cloverfield" e nos de "Star Trek", que ainda está para vir.

24 de janeiro de 2008 às 14:06  
Blogger Alvy Singer said...

Com esse 3 em 5 ao ‘Comboio das 3:10’ é que me lixaste o esquema, Francisco. Amanhã tiramos a teima, depois duma sessão dupla com este na primeira parte e o ‘Cloverfield’ a terminar.

24 de janeiro de 2008 às 14:49  
Anonymous Anónimo said...

Realmente também depositava mais esperanças no "Comboio das 3:10" mas agora essa nota 3 em 5 deixou-me a pensar... Vamos esperar para ver!
Esta noite vou ver o Cloverfield e amanhã aposto que vou ser mais um dos surpreendidos pela positiva a deixar cá a opinião.

Um abraço

24 de janeiro de 2008 às 15:08  
Blogger Pedro Pereira 77 said...

Isto não se compreende, tanta escassez durante o ano e agora sai tudo ao mesmo tempo, ainda por cima alguns já estrearam nos states já algum tempo... se saissem distribuidos pelo ano, provavelmente veria todos ou quase todos (n fiquei totalmente convencido com o do Morgan Freeman), agora assim acho que me ficarei pelo Cloverfield e talvez o 3:10 to Yuma

24 de janeiro de 2008 às 19:07  
Anonymous Anónimo said...

E como prometido aqui fica uma opinião positiva sobre o "Cloverfield":
Não é 100% original porque já existiu o blair witch project antes mas... é 100% genial!

Acabei o filme com a sensação de ter corrido 5 km... estava estafado e sem palavras!

Sem dúvida uma espectacular surpresa para os olhos e ouvidos e que deve ser vista no cinema!

Um abraço satisfeito =D

25 de janeiro de 2008 às 00:31  

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