Estreias da Semana (3 filmes a ver)
Eis que chegamos a mais uma semana de estreias…
O LADO SELVAGEM
Into The Wild (o título original tem uma força única, que infelizmente a nossa tradução não conseguiu com O Lado Selvagem) é o último filme realizado por Sean Penn (ausente da realização desde The Pledge/A Promessa em 2001). Penn agarrou-se ao livro de Jon Krakauer (com o mesmo título), sobre a premissa verídica, passada nos anos 90, do invulgar percurso do jovem americano Christopher McCandless (soberbamente interpretado por Emile Hirsch), um notável estudante que abandona a sua família e se desfaz das suas posses para se entregar a uma viagem pela natureza, alimentado por sonhos e ideais muito vincados, em busca da felicidade. Pelo seu caminho cruzam-se inúmeras pessoas e com elas vários desafios, que mostram o reverso desta procura incessante do lugar do homem e da vida no seu estado mais puro.
Com estes ingredientes, Penn faz da viagem de McCandless um momento de grande cinema, filmado com uma habilidade notória e captado com uma fotografia única. Encontramos nesta obra uma profunda análise aos vários estádios humanos (onde cito J. J. Rousseau - após a sua consagração evolutiva, o homem é corrompido, e como tal, necessita de regressar ao seu lado mais primitivo e selvagem, para recomeçar tudo novamente), que repensam a evolução do homem, sobre uma ideia de fuga a uma vida vazia de sentimentos, substituídos pelo consumismo familiar. Para além de Emile Hirsch, que é um espanto, destacam-se ainda os secundários William Hurt, Marcia Gay Harden, Catherine Keener e Hal Holbrook, que está nomeado para Óscar de Melhor Actor Secundário, que juntamente com Jay Cassidy (responsável pela montagem) completam as 2 escassas nomeações desta obra, injustamente esquecida pela Academia. Só nos resta ouvir vezes sem conta o tema “Guaranteed” de Eddie Vedder, que ganhou o Golden Globe para Melhor Canção, ainda que a banda sonora inteira (a cabo de Vedder também, refira-se) o merecesse por igual. Um filme obrigatório na sua condição filosófica/humana/artística.
5 / 5 – Magnífico
SWEENEY TODD, O TERRÍVEL BARBEIRO DE FLEET STREET
Sweeney Todd, O Terrível Barbeiro de Fleet Street é o regresso, em boa forma, do mestre Tim Burton, que uma vez mais, filma a grandiosidade de Johnny Depp como ninguém. Burton pegou no conhecido musical de Stephen Sondheim (curiosamente em exibição entre nós) e recriou uma nova versão da história de uma família feliz que é condenada pela cobiça do poderoso juiz Turpin (Alan Rickman), que prende Benjamin Parker (Johnny Depp), afastando-o da sua mulher e filha, para um exílio forçado. Face a este momento nada será como dantes. Desfigurado pela tragédia, Parker regressa anos depois a Fleet Street, pelo nome de Sweeney Todd, e retoma a sua anterior barbearia com a ajuda de Mrs. Lovett (a singular Helena Bonham Carter), usando o seu ofício para perpetrar a sua tão desejada vingança. Mas ao atravessar este pantanoso caminho, Sweeney perde o seu norte e é consumido pelo seu próprio feitiço, arrastando consigo o que mais defendia e quem o apoiou.
Num cenário gótico (a que Burton já nos habitou) e munido de poderoso argumento, Sweeney Todd é um objecto bem conseguido e polido, onde além das fabulosas interpretações dos actores, que aqui se destacam também pela sua representação musical (de salientar ainda os deliciosos minutos com Sacha Baron Cohen), revela-nos sobre uma enorme violência uma realização tremendamente forte, precisamente necessária ao nível do tema que o filme nos pede; essa premissa narrativa, completamente "Shakesperiana", sobre a fatalidade dos caminhos da vingança, que cegam por completo os homens que os percorrem. Tudo funciona num enorme banho de sangue, que é um triunfo visual e narrativo, mas onde também moram alguns pecados, cometidos na pouca força dos secundários Alan Rickman e Laura Michelle Kelly (a mendiga doente), personagens de grande peso, que surgem num registo muito enevoado e disperso. Tirando isso, não sendo uma obra-prima como Burton já nos presenteou, é um filme de grande qualidade, que foi um dos vencedores dos Golden Globes (Melhor Musical e Actor) e que deixa Johnny Depp caminhar com segurança para os Óscares.
4 / 5 – Bom
SEDUÇÃO, CONSPIRAÇÃO
Para terminar, temos mais um regresso – desta vez, o de Ang Lee. O realizador chinês estreia entre nós Lust, Caution, ou no seu original Se, Jie (em português Sedução, Conspiração), um filme polémico (pelas suas ousadas cenas de sexo), que foi o Vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza do ano passado. Centrada numa relação amor/ódio, a acção decorre na China, ocupada em 1942 pelo Japão, em plena Segunda Guerra Mundial. Dentro de um grupo de estudantes fervorosos com o seu nacionalismo, a jovem Wong Chia Chi (Way Tang) vai ocupar um lugar privilegiado, ao penetrar no seio da família de um alto funcionário japonês Sr. Yee (Tony Leung), que se encontra no governo chinês, tornando-se uma amiga inseparável da sua mulher Sra. Yee (Joan Chen). Com o propósito de eliminar o inimigo, a jovem torna-se amante de Yee, mas depressa se perdem as linhas entre os sentimentos e a razão da missão, que arrastam a jovem, sob o disfarce de “Sra Mak”, e o Sr. Yee pelos mais inesperados caminhos dentro de si próprios, lugares que desconheciam por completo, minados pelo destrutivo ambiente da Guerra.
Perante um vencedor de um dos mais famosos e aclamados Festivais de Cinema do mundo, é difícil não se reconhecer ou não se apreciar uma obra com um dobro de atenção, previamente injectada pelo peso que comporta. E que Ang Lee monta um arrojado esquema narrativo sobre forma de thriller erótico (quase pornográfico, somente na sua componente sexual) entre duas personagens diferentes, dois lados de uma história, num cenário de luta humana de facção política, é um facto consumado. O que falha o alvo são precisamente as tão badaladas cenas sexuais, mais explícitas porventura como forma expressiva de maior força e ligação entre as personagens; cenas essas que não se integram nem na narrativa nem na personagem principal (a jovem), cujos aspectos problemáticos que a dominam, confessados a terceiros e a si mesma, se demonstram desconectados das imagens transmitidas, que supostamente os deveriam produzir e acentuar – há espaços por celebrar/abominar durante o decorrer da narrativa, que não se encaixam no clímax final, onde o que se pede ao espectador não se concretiza no plano emocional. A juntar a isso temos um ritmo narrativo bastante lento que nem sempre agarra o espectador, o que não facilita num filme desta dimensão temática e psicológica. Em suma, Sedução, Conspiração é uma obra com pontas soltas e outras por aparar, que ainda assim nos abala quer a nível visual como emocional, carregada de uma sublime banda sonora (a cargo do compositor francês Alexandre Desplat), mas que se encontra a vários níveis longe de obras anteriores de Lee, como o genial O Tigre e o Dragão ou o fabuloso O Segredo de Brokeback Mountain.
3 / 5 – Razoável, Interessante
Francisco Silva
Etiquetas: Ang Lee, Emile Hirsch, Estreias da Semana, Johnny Depp, O Lado Selvagem, Sean Penn, Sedução Conspiração, Sweeney Todd, Tim Burton
16 Comments:
Antes dos outros... Sweeney Todd.
Muito Obrigada pelos excelentes textos! "Into the Wild" e "Sweeney Todd" são filmes pelos quais aguardo há demasiados meses! Sem dúvida, será um fim-de-semana passado numa sala de cinema!
Sweeney Todd já há muito que espero...
Quanto a Into the Wild, apesar de saber do que tratava o filme, só ontem à noite ao ver a apresentação do filme na rtp2 é que me apercebi da sua força e potencialidade! Por tudo...pelas interpretações, pelo tema e pela magnífica banda sonora que me parece ter!
Dois filmes absolutamente a ver no cinema!
Boas tardes, só para indicar que numa breve pesquisa pelo Cinecartaz me apercebi do facto de o "Into the Wild" não se encontrar em exibição no distrito do Porto, ora se eu o quiser ver, tenho que ir a Lisboa?
Pois bem nem todas as pessoas moram na capital, ao menos podiam tê-lo colocado no Arrabida, mas... é estranho... que só estreie num local.
Não sei quem é que faz as selecções dos filmes, nem quem escolhe em que salas é que estreiam, o certo é que é verdadeiramente estupido só estrear para alguns... quanto aos outros, ou fazem 300 km's para o ir ver a Lisboa, ou fazem click num torrent mais próximo para o ver... e depois querem parar com a pirataria... pois admirem-se com decisões destas...
Olá, boa noite.
Eu peço desculpa por não comentar o post, mas precisava de uma ajuda sobre uma coisa que tem a ver com cinema.
Uma amiga minha tem que fazer uma apresentação oral sobre um tema e tem que apresentar o exemplo de um filme sobre esse tema.
Ela queria uma coisa assim fora do normal... têm alguma ideia de um filme que trate um tema assim?
Obrigada.
(Já agora... gostava muito de ver o filme do Sweeney Todd.)
Pois bem... fiquei em estado meio catacónico quando li no post acima que "Into the Wild" não vai estrear na região do Porto!!!!
Há alguma explicação lógica para isto? Ou será que cultura é só na capital?
catatónico aliás...
Sofia, um filme que trate um tema fora do normal? É só para clarificar que é este o pedido, ao mesmo tempo que, já agora, perguntamos se é possível, por favor, dar-nos o exemplo de um tema desse género. Só para ficarmos com uma ideia.
Desses três, já vi Sweeney Todd, em ante-estreia.
Fiz questão de não ler nada sobre o filme antes de o ver, nem acompanhar as noticias sobre ele, para ser tudo uma surpresa, especialmente por um senhor chamado Johnny Depp, que até faz anos no mesmo dia que eu, só por curiosidade.
Quando soube que era um musical, fiquei um pouco em choque!! Se calhar se o soubesse previamente não iria ver, pois o único musical que vi e me lembro de gostar foi Chicago.
E agora este!
É simplesmente genial a ideia e o conceito do filme... Coincidir um megalómano assassino, que também faz umas barbinhas, com música dá um efeito final fora do normal (eis uma sugestão para um filme, cara Sofia).
Depp está espectacular, se bem que reconheci alguns toques de Jack Sparrow.
Fica aqui a minha deixa para filme de fim de semana.
In the Wild, vi o trailer e captou-me. Mas Sweeney é mesmo o filme a ver...
Sweeney Todd 5/5!
Sofia, o David Lynch tem vários filmes que tratam de temas "fora do normal". Mesmo o filme mais "normal" dele fala de um velhote que percorre 3 estados num corta-relva para ir visitar o irmão.
Quanto à Sofia, eu aconcelhava talvez o filme "Laranja Mecânica" de Stanley Kubrick, não vi o filme, mas tenho amigos que viram e acharam "fora do normal" e fizeram um trabalho universitário sobre o filme, tendo obtido boa nota.
Quanto às estreias vi ontem Sweeney Todd, achei estranho por ser um musical, não sei se perde ou ganha por ser assim, mas até gostei, achando só que o "banho de sangue" ao longo do filme é um tanto exagerado.
Enfim, mas aconselho a que vejam o filme, sempre é algo diferente.
Antes de mais nada, quero agradecer pelas sugestões.
Especificando mais o tema, ela diz que queria um tema actual sobre um problema que afecte a sociedade.
ainda não pude ver o tão aguardado Sweeney, mas hoje já fui ver Into the Wild e devo avisar, aquilo é pesado, fiquei a chorar mais de um quarto de hora, é preciso aguentar, porque ainda faltava para aí meia hora para acabar e já estava encharcado
em relação á Sofia, é mais difícil, mas deixa-me pensar...
recordando a ideia do laranja mecânica (filme extraordinário já gora), lembrei-me da estreia do remake do Funny Games, é sobre a actualidade e pode dizer-se que é fora do normal, por isso o original era uma boa ideia para a amiga da sofia, e já agora com a cabeça ainda em Kubrick, Olhos bem Abertos, é fora do normal e pode dizer-se que trata de temas da actualidade (filme extraordinária, parafraseando-me)
Confesso que antes de entrar para a sala de cinema do El Corte Ingles para ir assistir ao "Into the Wild" não tinha uma tao alta espectativa. Contudo, o que se passou naqueles 140minutos foi puramente...novo eheh ja nos primeiros 25 minutos ja corriam lagrimas...ao fim de uma hora e 40 estava simplesmente alagado...fi deveras uma surpresa sem igual...nao costumo ser surpreendido por filmes q nao crie grande espectativa, mas este "Into ThE Wild" foi puramente arrebatador...Sean Penn fez um trabalho humilde, humano, natursal, selvagem...o melhor filme ate ao momento deste ano....e um dos meus de eleiçao
Confesso que antes de entrar para a sala de cinema do El Corte Ingles para ir assistir ao "Into the Wild" não tinha uma tao alta espectativa. Contudo, o que se passou naqueles 140minutos foi puramente...novo eheh ja nos primeiros 25 minutos ja corriam lagrimas...ao fim de uma hora e 40 estava simplesmente alagado...fi deveras uma surpresa sem igual...nao costumo ser surpreendido por filmes q nao crie grande espectativa, mas este "Into ThE Wild" foi puramente arrebatador...Sean Penn fez um trabalho humilde, humano, natursal, selvagem...o melhor filme ate ao momento deste ano....e um dos meus de eleiçao
É inacreditável como é que "Into the Wild" não estreia em nenhuma sala na zona do grande Porto!!!!! É suposto ter que me deslocar a Lisboa por ex para ver o filme?!?!?!
Depois queixam-se da pirataria!!! E eu que até nem sou adepto dessas coisas, neste momento é a melhor solução já que não estou para esperar pelo dvd...
E pronto.. já está a sacar!!!!
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