Deuxieme


segunda-feira, março 02, 2009

Sem palavras.

Porque já nos cruzamos neste recanto da blogosfera há algum tempo, creio que é chegada a altura de partilhar isto. Nada do outro mundo e, ao mesmo tempo, tão importante. Que todos gostamos de Cinema, não é segredo. Que olhamos para arte com um encanto especial, também não. Sinónimos de paixão são ardor, chama e amor. E, em muitos casos, é precisamente tudo isto que sentimos em relação a uma qualquer película. Agora, aquilo que devemo-nos perguntar, em caso de sanidade mental, é como podemos estar apaixonados por um género de expressão artística e um conjunto de obras cinematográficas que chega até nós apenas por um dos cinco sentidos disponíveis? Não seria muito mais lógico ser maluco, por exemplo, por tartes de maçã? A sua textura, o seu cheiro, o seu sabor. Se calhar teríamos muito mais a ganhar se gostássemos de uma boa tarte de maçã. No entanto, duvido muito que, por mais que olhasse para uma fatia de uma magnífica e apetitosa tarte de maçã, esta transmitisse tudo aquilo que uma qualquer cena poderosa da sétima arte transmite. E, neste ponto, gostava de deixar aqui a cena que, até hoje, mais coisas me disse e ensinou. No fundo, a cena mais marcante na existência de Alvy Singer – o filme, esse, será outro, como a assinatura indica. Esta cena, autêntico spoiler para quem nunca se aventurou no segundo capítulo da saga Godfather, assenta que nem uma luva, em toda a história, até àquele momento. Esta cena dá-nos exactamente aquilo que esperamos destas duas personagens. Esta cena mostra-nos como um bom argumento dispensa palavras. Esta cena prova como Al Pacino consegue ser o melhor do mundo, sem abrir a boca. Esta cena certifica o talento de Diane Keaton, só pelo olhar da actriz. Esta cena testemunha como o silêncio pode ser aliado da tensão emocional, deixando o espectador com o coração nas mãos, à espera do melhor desfecho. Esta cena, simples do inicio ao fim, revela como o óbvio, por vezes, consegue ser tão desarmante como o imprevisto. Esta é, para mim, a melhor cena de todos os tempos. Desse lado, qual é a eleita?

Alvy Singer

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A minha cena favorita, porque é fenomenal em todos os sentidos, ainda que os actores quase não se movam, é uma das cenas mais completas da história do cinema. Termina: "i could have class, i could have been a contender, i could have been somebody". Falo da cena dentro do carro entre os irmãos Malloy de "On The Waterfront". Se esta cena prova que Rod Steiger era um grande grande actor, prova também que Marlon Brando foi o melhor deles todos. Alguém pode alguma vez chegar a um nível tão refinado de interpretação? Ok, perto, talvez só mesmo Paul Newman em "The Hustler", mas Marlon Brando ultrapassava-se em cada filme - a realidade é esta, há já muitos anos, tinha eu uns 13 vi pela primeira vez aquele que desde então é o meu filme favorito, "O Padrinho". Esse momento oferecido gentilmente pela RTP2 mudou a minha óptica do cinema e a minha perspectiva sobre interpretação. Ver Marlon Brando mostrar a cada minuto que era o maior que podia existir fez com que a partir desse dia, os meus sentidos se apurassem cada vez mais para esta paixão que é o cinema.

2 de março de 2009 às 09:43  
Blogger Sara said...

Espectacular. Estou agora a ler o livro e mal posso esperar para depis ver o filme. Se for tão bom quanto esta cena...

Existem, de facto, poucos momentos cinematográficos que tocam verdadeiramente uma pessoa. Daqueles em que vemos uma cena e mal podemos esperar para falar sobre o que vimos a outras pessoas. Espero que quando acabar de ler o livro e ver o filme "O Padrinho" também me apeteca fazer o mesmo.

2 de março de 2009 às 10:04  
Blogger Sara said...

Outra coisa: um bom filme/guião/cena/representação nem tem sempre de ser através de diálogos. Por vezes, os silêncios, pausas e expressões são tão ou mais poderosos do que as palavras. Esta cena transmite tudo o que precisamos saber sem dizer nada. Estão, de facto, a "actuar".

2 de março de 2009 às 10:06  
Blogger Marta Lourenço said...

Não consigo eleger uma cena favorita, de repente lembro-me de muitas, mas destaco uma de Babel, a poderosa cena da discoteca em Tokyo.

2 de março de 2009 às 15:31  
Anonymous Anónimo said...

Eu gosto muito duma cena do filme "Filhos de um Deus Menor" em que a personagem de Marlee Matlin discute com a de William Hurt... As cenas de baixo de água também são fantásticas...

2 de março de 2009 às 17:33  
Blogger Miguel Ferreira said...

Em relação aos Padrinhos, para mim, não há amor como o primeiro e é nesse mesmo que reside a minha cena favorita da trilogia, quando no final beijam a mão ao Al Pacino e sobre o olhar incrédulo de Keaton a porta é fechada. É todo o resumo de uma das melhores transformações de sempre da história do cinema.

Fugindo deste marco, uma das minhas cenas favoritas de sempre é aquela em que Edward Norton -América Proibida- mata os dois negros à porta de casa. Primeiro o preto e branco a funcionar como memória e a reflectir a dicotomia da raça. Em segundo a crescente tensão, demonstrada através da música e da câmara lenta. Em terceiro o olhar de Norton quando é preso. Ainda hoje aquele sorriso me causa arrepios, aquele simples levantar de sobrancelhas que arruma com qualquer diálogo ou dissertação. Sublime.

2 de março de 2009 às 19:15  
Blogger O Narrador Subjectivo said...

Enorme pergunta, grande escolha.

Quanto a mim - o fim de Offret (Sacrifício) de Andrei Tarkovsky, 1986:

http://www.youtube.com/watch?v=I-fx95l8u-U

Abraço

2 de março de 2009 às 21:31  

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