segunda-feira, abril 30, 2007
Dobrar, ou não dobrar?
Em todos os domínios, a História tem provado que as opiniões conseguem ser mais diversificadas do que à primeira vista parecerem. Mesmo na mais banal das questões ou naquelas em que o consenso aparenta ser garantido, a motivação humana encontra formas de inovar, e despoletar razões que alteram cursos previamente estabelecidos. Uma introdução tão pomposa para debater um tema tão frívolo como a dobragem de filmes de animação... Ou será que o assunto não é assim tão insignificante quanto isso?
Não pretendendo manifestar claramente o parecer de quem escreve este post – pensando bem, este surge no seguimento do enorme desagrado perante a crescente prática de dobragens, pelo que talvez não seja muito boa ideia omitir esse mesmo parecer –, depois da realidade a que assistimos recentemente com Tartarugas Ninja – Uma Nova Aventura e Os Robinsons, parece que este será o momento indicado para nos perguntarmos se algo poderia ou deveria ser alterado, no que respeita à distribuição dos filmes de animação.
Isto, na medida em que, com o passar dos anos, temos vindo a verificar a generalização do método de dobragem, primeiro de filmes com carácter marcadamente infantil, para agora o verificarmos em algumas obras onde a idade do público alvo é um pouco mais dúbia, em detrimento da exibição do filme original. Em causa não estará obviamente o trabalho dos actores por detrás das versões portuguesas, mas a metamorfose a que o filme é sujeito, e que acaba por modificar um produto que muitos podem não querer ver alterado.
Recordo a dificuldade de encontrar em Lisboa no início de 2005, a versão original de O Castelo Andante. Hoje, tendo em conta o tratamento recebido pelos filmes de animação, seria provavelmente ainda mais difícil encontrar o filme de Myazaki falado na língua materna. Uma grande fatia do enorme bolo que são as receitas de bilheteira é precisamente aquela que é oferecida pelos espectadores mais pequenos. Ora, é mesmo por isso que esta discussão está condenada à partida: os verdadeiros defensores desta causa não podem estar aqui para contra-argumentar. Porém, se os petizes vêm a saber que os pais chegam mais tarde a casa, pois são obrigados a aguardar pelas últimas sessões do dia para ver a versão original, acredito que passarão para este lado.
Alvy Singerdomingo, abril 29, 2007
Sugestões Dia da Mãe
Haverá filme que se aproprie mais ao dia em que celebramos a importância da generosidade maternal? Provavelmente sim. Mas, convenhamos que depende muito da mensagem que se pretende transmitir. A deste filme, não só é bastante forte, como poderá deixar algumas marcas indesejadas se não for a lembrança indicada. Digamos que a oferenda pode ser mal interpretada, a não ser que pretenda realmente comunicar algum mal-estar no seio familiar… De qualquer forma, esta é apenas a primeira sugestão de outras, talvez mais ajustadas, que iremos trazer aqui.
Alvy SingerPor Diane, Porque Sim!
Parecendo que não, já passaram 30 anos desde aquele estupendo filme que fizemos juntos. Enquanto eu me fiquei pela nomeação, ela teve a sorte de subir ao palco e ganhar o Oscar – diga-se que bem o mereceu, menina Hall. Trinta anos depois, os caminhos que ambos traçamos são distintos, e os ovos colhidos não poderiam ser mais diferentes. Contudo, um laço especial permanece e, agora que ela regressa com um novo filme, este Porque Sim!, nada como reencontrá-la no grande ecrã, o local onde melhor podemos ver que o seu encanto não perdeu qualidades.
Apesar de não podermos tecer este tipo de elogios ao filme, também será escusado atirar-lhe pedras por ficar tão aquém das expectativas. É verdade que haveria muito para explorar na temática mãe-galinha-que-quer-arranjar-pretendente-para-filha-encalhada. O mais curioso é que o filme até chega a abrir certas portas como que a dizer: “Seria interessante se fôssemos por aqui”. Contudo, logo a seguir fecha decidido essas mesmas portas e, pior, nem sequer abre uma janela para uma vista mais agradável. Porque Sim!, acaba por se refugiar nos prováveis clichés, dando a mesma visão de sempre das afinidades entre três irmãs jovens-adultas, e da usual degradação das relações quando o progenitor não consegue perceber convenientemente a sua posição. Haverá certamente filmes semelhantes a este, mas a abordagem que aqui é adoptada aproxima-o sobretudo de obras como Um Sogro do Pior e Viram-se Gregos para Casar. Apesar de pouco ou nada acrescentar a estes títulos (talvez a electricidade estática que atrapalha os vestidos de Mandy Moore tenha passado para a câmara de Michael Lemann), um filme com Diane Keaton nunca poderá ser um desastre completo. Há ali qualquer coisa que simplesmente não permite que assim seja.
Alvy Singersábado, abril 28, 2007
Spider-Man em acção
Talvez o outro seja Venom disfarçado, e uma máquina fotográfica pode ser apenas o embuste perfeito para o ataque mortífero ao Homem-Aranha. A verdade é que ainda não tínhamos visto estes super poderes no singelo Parker e, a uma semana da estreia mundial, isto acaba por funcionar quase como um trailer, in loco.
Alvy Singer15 - The Savages
Palavras para quê? O filme conta com Philip Seymour Hoffman e Laura Linney. Só por isso qualquer cinéfilo que se preze deve manter os olhos bem abertos. A coisa até pode dar para o outro, mas será pouco provável. A recepção tem sido extremamente positiva, e em Sundance o filme foi mesmo muito bem acolhido. E se formos até ao rottentomatoes, descobrimos que por lá o filme tem… 100%! Ora bolas, o que é que isto quererá dizer? Para já pouco. Mas que desperta a curiosidade, desperta.
O filme centra-se na vida dos dois irmãos Savages, Wendy (Liney) e Jon (Hoffman). Afastados durante anos terão agora de se reencontrar e enfrentar as novas responsabilidades, ao terem de cuidar do pai doente e acamado. A história parece simples, com ligeiros toques de comédia em algo que será sobretudo um drama, debruçando-se sempre que possível sobre valores e princípios familiares e universais.
Depois de Once, a Fox Searchlight parece ser a fonte dos indies, em 2007. Agora, o mais relevante é que este é já o décimo quinto filme da lista, e existem ainda bem mais de 14 para descobrir este ano…
Alvy SingerEtiquetas: Laura Liney, Philip Seymour Hoffman, The Savages
sexta-feira, abril 27, 2007
O look de Sweeney Todd
Pela imagem poderíamos dizer se trata do marido de Cruella de Vil, numa qualquer sequela de 101 Dálmatas. Mas não. Este é Johnny Depp no set de Sweeney Todd. Será este o personagem por detrás do Oscar? Pelo menos à nomeação, mesmo antes do filme estrear, é já um dos mais fortes candidatos.
Alvy SingerGrind... e só depois House
Depois de mais um belíssimo filme de Capra, cujo trabalho será oportunamente discutido neste blog, nada como mudar de registo, e voltar a falar de Grindhouse. Simplesmente para confirmar os rumores de que, afinal, não estamos na presença de um 2 em 1. Ao que parece, apenas os Estados Unidos tiveram direito a uma estreia em simultâneo, com os dois filmes a serem servidos como obra única. Se a estreia de Death Proof, a parte à responsabilidade de Tarantino, a título individual em Cannes era já uma suspeita, comprovamos agora de acordo com as datas de estreia disponibilizadas, que os dois filmes chegarão a Portugal, e ao resto da Europa, em separado.
Por cá, Planet of Terror, a parte de Rodriguez, chegará primeiro, em meados de Julho. A segunda parte (apenas no papel, pois não parece existir qualquer ligação entre os dois filmes) estreará somente em finais de Setembro. Questões provavelmente financeiras mais altas se levantaram e, mais uma vez, perde-se assim uma excelente oportunidade de quebrar com a monotonia. É verdade que os verdadeiros interessados neste filme, perdão filmes, não passarão de uma imensa minoria. Pois, os elogios da crítica podem ser garantidos, mas até que isso seja sinónimo de lucro para os grandes estúdios, ainda vai um longo caminho. Como se comprova pelo fraco arranque nas bilheteiras norte-americanas de Grindhouse, acompanhado no entanto pelos louvores quer do público quer da crítica. Então, que se trate rapidamente de dividir o bolo e que se multipliquem as receitas. Infelizmente.
Se não fosse o filme de Capra ao início da noite, seria um serão simplesmente decepcionante.
Alvy Singerquinta-feira, abril 26, 2007
SOAP ou a história de um filme que tinha tudo para ser um hit mais não foi
Dissertar sobre Snakes on a Plane é quase como descrever a lamentável história daquelas equipas que eram favoritas a vitória final, mas que por qualquer infortúnio a que foram alheias, acabaram por perder o campeonato. O discurso derrotista é apanágio, e as qualidades do conjunto passam despercebidas. Não deveria ser assim.
Aproveita-se o facto do filme ter sido editado agora em DVD, para tentar lançar uma nova luz sobre esta obra, incompreendida desde a sua concepção. Há um ano começava a falar-se, mais incessantemente em alguns fóruns, sobre o filme que contaria com Samuel L. Jackson, no verão. O nome Snakes on a Plane provocava risadas monumentais na comunidade dos blogs mas, paulatinamente, estas gargalhadas foram-se transformando num mecanismo publicitário sem precedentes. Surgiram defensores acérrimos do filme, argumentistas à distância que sugeriam linhas da narrativa, e anónimos que ocuparam grande parte do seu tempo na criação de t-shirts, bandas de rock, sites, e outros artefactos que veneravam um filme que ainda não tinha saído. Todos acreditavam que seria o blockbuster de 2006. Mais, chegou a pensar-se que estaríamos na presença de um grande filme.
Errado. SOAP não só não foi um êxito de bilheteira, como também não é um grande filme. É um filme invulgar é certo, no entanto, não deixa de seguir os cânones do género, e todos nós sabemos como é que aquilo vai acabar, pouco depois do avião descolar. Contudo, o facto de não ser uma obra-prima, aliado à enorme pujança oriunda da net que não se concretiza, não significa necessariamente que estas não sejam duas horas de entretenimento puro. Aqui a+b é sempre c, e não há grande espaço para questões filosóficas. Quando um objecto que pesa toneladas voa a 10000 pés de altitude, e cobras hediondas aparecem de todos os lados, a única coisa que importa realmente saber é quem é que não vai morrer, se é que o avião não se despenha mesmo e não resta alguém para contar a história. Para alguns, incluído Alvy Singer, o filme acabou por ser exactamente aquilo que se esperava, e no fim, o dinheiro foi dado por mais do que bem empregue. I’ve had it with these motherf*****g snakes on this motherf*****g plane! era já uma frase citada, muito antes de Jackson a dizer no grande ecrã. Quando aquilo que parecer ser, não o é na realidade, a desilusão é o único desfecho. No caso de SOAP, se mantivermos os pés bem assentes no chão, e deixarmos que seja apenas o avião a levantar voo, o espectáculo que vemos cá de baixo não é nada mau. E o filme era bom na mesma, se o nome fosse outro. Mas, ao menos assim, toda a gente sabe ao que vai. Sugestão: ver o filme com o maior número possível de pessoas. Interessante como para uns alguns momentos podem ser arrepiantes, enquanto para outros são do mais parecido que um filme de terror pode ter com comédia slapstick.
Alvy SingerFalta uma semana
Na China já circulam cópias pirateadas. Nós ainda temos de esperar uma semana. Mais dois minutos de um filme que competirá nas bilheteiras mundiais com este outro. Um mês é o que falta para o último.
Alvy Singer
A LOJA DA CHINESA
Chama-se China, China, a curta-metragem de João Pedro Rodrigues (Odete) e João Rui Guerra da Mata, que está na competição do IndieLisboa e vai estar (já é seguro) na Quinzena dos Realizadores em Cannes. E ainda bem porque se trata de uma pequena preciosidade, e um poço de criatividade que foge aos cánones narrativos do cinema português, com uma realização ritmada e um final verdadeiramente imprevisível. Por isso merece ser amplamente vista e esperemos que seja ainda a premida nacional e internacionalmente. China, China é em primeiro lugar uma história dedicada ao ‘novos lisboetas’, numa espécie de homenagem ao documentário de Sérgio Trefaut (curiosamente um dos filmes portugueses mais vistos de 2006), e não é em vão já que a história se enquadra no mesmo tema e a dupla de realizadores, não hesita em fazer-lhe um agradecimento. Falada em mandarim e entre jogos de computador e The Killer de John Woo, desenvolve-se a história de China, uma rapariga chinesa, que tem uma loja (do chinês obviamente) no Martim Moniz, que sonha deixar este mundo, esta cidade e a pequena familia patriarcal (na tradição chinesa) que a trouxe para Lisboa, à procura de novas oportunidades. Talvez quem sabe o ponto de partida para outra história e outra viagem, para outros territórios culturais que vão fazendo de Lisboa, uma cidade cosmopolita, cada vez mais internacional, mas também mais violenta.
16 - There Will Be Blood
Continuando a subir na lista dos filmes a descobrir em 2007, chegamos agora a There Will Be Blood. Porque é que este título consta de lista? Primeiro, porque é realizado por Paul Thomas Anderson, um senhor que desconhece o conceito de convencional (‘Formatado’ é mesmo a primeira palavra que associamos aos seus filmes…), e que já nos deu Boogie Nights – Jogos de Prazer (1997), Magnólia (1999) e Embriagado de Amor (2001), entre outros. A segunda razão é o elenco: como protagonista, Daniel Day-Lewis; como secundários, Paul Dano (o irmão de Breslin em Uma Família à Beira de Um Ataque de Nervos), e Ciarán Hinds (o excelente César de Rome). Terceiro motivo: a história. Da última vez que Daniel Day-Lewis desempenhou o papel de um maquiavélico sem escrúpulos, não só o filme ganhou com isso, como foi o que de melhor teve.
A saber então que o filme é baseado na obra Oil, escrita por Upton Sinclair, em 1927. O livro trata sobre a corrupção de membros do estado, a classe operária, e a rivalidade internacional dentro do negócio do petróleo. A história gira em torno de um brilhante empresário que trabalha a titulo individual na extracção de petróleo. Contudo, a simpatia do seu filho junto dos trabalhadores será o ponto de partida para uma acesa discussão entre senadores, velhos magnatas, evangelistas e estrelas de Hollywood, todos eles interessados numa fatia deste rico bolo. É fácil então antever uma história de ganância e podridão humana, típica dos filmes que se apressam a derrubar a ideia do sonho americano. Mas, com Anderson atrás das câmaras, será mesmo assim?
Alvy Singer
Etiquetas: Daniel Day-Lewis, Paul Thomas Anderson, There Will Be Blood
quarta-feira, abril 25, 2007
Uma das melhores
Lá para o meio do filme, naquela que foi eleita pelo American Film Institute como a centésima obra mais romântica de sempre (uns lugares mais acima não lhe ficavam mal…), o personagem interpretado por Tom Cruise diz algo como: ‘That's more than a dress. That's an Audrey Hepburn movie’. Ora, à altura do visionamento de Jerry Maguire, não tinha tido ainda a sorte de ver qualquer filme com Audrey Hepburn, pelo que desde muito cedo esta citação ajudou a demarcar a distinta posição que esta actriz viria a ocupar no imaginário deste seu agora confesso fã. An Audrey Hepburn movie acabou por se tornar numa frase repleta de misticismo, antevendo uma personagem carismática e de classe arrebatadora, cujos filmes seriam muito provavelmente uma imagem da beleza intemporal de outrora, na era dourada de Hollywood.
Desconhecendo as opiniões daqueles que visitam o blog relativamente a esta actriz, afirmo que, depois de ver finalmente o DVD de Férias em Roma, há já muito tempo que expectativas tão altas não eram correspondidas. A história apaixonante encontra uma dupla de actores de primeira água, sendo sobretudo Hepburn, no seu primeiro grande papel em Hollywood, que surpreende pela confiança e segurança na representação. A beleza, essa, é apenas mais um atributo que torna a sua presença ainda mais especial.
O entusiasmo foi tanto que rapidamente Sabrina e Boneca de Luxo foram também adquiridos. De uma assentada estes dois foram vistos, e a dupla sessão não poderia ter corrido melhor. Num curto espaço de tempo, estes três filmes elevaram Hepburn a um patamar superior, onde poucas são aquelas que ocupam lugar. Bette Davis, Katherine Hepburn, Ingrid Bergman e Elizabeth Taylor serão talvez aquelas que poderemos incluir neste restrito grupo. Ao longo dos anos podemos encontrar diversas actrizes que ajudaram a escrever a história do cinema, contudo, os capítulos redigidos por Audrey Hepburn permanecem como uns dos mais belos e elegantes de sempre.
Este post serve sobretudo para incentivar esta descoberta a todos aqueles que tardam em confrontar-se com o talento desta actriz. Poder-se-á dizer que três filmes apenas não será uma amostra representativa da carreira de Hepburn, no entanto, quando os filmes em causa têm a qualidade que estes apresentam, pouco importará o resto. Se Férias em Roma continua a ser um dos maiores romances levados ao grande ecrã, Sabrina não deixa de ser um ícone dentro dos triângulos amorosos (a corrente humorística de Billy Wylder é notória), enquanto Boneca de Luxo afirma-se com o passar dos anos, cada vez mais, como a imagem de marca desta actriz, aquela que jamais esqueceremos, de cabelo puxado para trás, com um vestido preto e de boquilha em riste.
A elegância destes filmes não deve ser estranha à sua participação, ao mesmo tempo que a inolvidável jovialidade do seu rosto ajudava na construção de cativantes personagens, que parecem ter sido escritas propositadamente para si (Capote escreveu Breakfast at Tiffany’s a pensar em Monroe…). Aqui fica o convite à descoberta de Hepburn, e a uma das mais belas páginas da história do cinema norte-americano.
Alvy Singerterça-feira, abril 24, 2007
Once
Este é um daqueles encontrões pelos quais ficamos agradecidos. Numa visita rotineira a um site do género, deparo-me finalmente com o trailer de um filme cujo nome ficou gravado após o Festival de Sundance. Once foi um dos títulos mais aplaudidos este ano e, em conjunto com a breve sinopse que tinha tido oportunidade de ler depois da sua exibição, este filme acaba por pertencer ao grupo daqueles modestos projectos nos quais depositamos enorme esperança. Talvez venha mesmo a ser o pequeno tesouro musical que há algum tempo o cinema procura.
A verdade é o que o trailer segue à linha a receita de como abrir o apetite. Depois de visionado já por diversas vezes, é agora a deliciosa banda-sonora disponível no site oficial que desempenha o seu papel de atrair este cinéfilo para a sala de cinema. Prova superada.
Alvy Singer
segunda-feira, abril 23, 2007
Hollywood ao virar do século
Luísa Costa Gomes, romancista, dramaturga, e cronista, dizia hoje na Prova Oral, um programa de Fernando Alvim, que “… não existe nada mais formatado do que Hollywood”. O tema em debate esta tarde era o Dia do livro, mais concretamente os hábitos de leitura (ou a falta deles) que os portugueses têm. Quando a conversa recaiu sobre aquilo que distingue uma boa obra da restante mediania, pareceu existir na sala o consenso de que o que transforma uma música, um livro, um quadro, ou um filme em algo verdadeiramente excepcional é a sua capacidade de ir mais além, trazer algo de novo, e que o publico não está à espera.
Pouco depois, e resolvida esta matéria, a escritora manifestou o seu desagrado perante a prática do comentário, isto é, o acto de meramente retratar e avaliar o que já está descrito, considerando-o como “uma prática medieval”. De alguma forma, podemos encarar qualquer tipo de critica como um comentário. Se assim for, esta apreciação pode ser algo inquietante. No entanto, o juízo primeiramente descrito foi mais perturbador, e ocupa o pensamento deste cinéfilo desde então.
Será esta a visão que se têm de Hollywood no início do século XXI? Não será certamente tarefa fácil encontrar a instituição mais “formatada” de todas, contudo, afirmar com tamanha leviandade que a principal indústria cinematográfica do mundo é a excelência do modelo à imagem do molde, deve, no mínimo, fazer-nos parar para pensar se realmente será assim. Se concluirmos que não, segue-se em frente e não se fala mais nisso. Caso contrário, convém perceber que talvez Hollywood já não seja algo inquestionavelmente idolatrado. Poder-se-á afirmar que a mecânica outrora perfeita do lançamento de obras notáveis, se tenha transformado em algo como a produção em série que, assim como um restaurante fast-food, acaba por trazer sempre o mesmo resultado?
É por não partilhar esta visão pessimista, e discordar de Luísa Costa Gomes, que a discussão é transportada para este blog, com a esperança de passá-la a um nível mais aprofundado, e obter talvez o esclarecimento de alguém que pense de igual modo.
Porém, devemos admitir que perante a maioria das propostas avançadas pelos grandes multiplexes, facilmente se constrói uma visão reducionista da indústria actual. Como seria bom se assim não fosse. Sim, porque Hollywood também é Moulin Rouge, The Fountain, A Scanner Darkly, Os Tenenbaums, Sin City, e Million Dollar Baby. Se o molde destes todos é o mesmo, este deve ter mais procura do que a Arca Perdida.
O comentário, esse, por mais medieval que seja, será certamente bem recebido.
Alvy Singerdomingo, abril 22, 2007
Será este 'As Horas' de 2007?
É verdade que The Bucket List juntará Morgan Freeman e Jack Nicholson, que Lions for Lambs terá Tom Cruise, Meryl Streep e Robert Redford, e que Charlie Wilson’s War contará com Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman. Contudo, dificilmente algum filme apresentará em 2007 um elenco que imponha tanto respeito como este. Apenas juntando quatro das actrizes que marcam presença no novo filme de Lajos Koltai, obtemos o simpático número de 26 nomeações para os Óscares. E um filme com tantas senhoras de peso merece, no mínimo, o nosso antecipado interesse. A saber então que do elenco fazem parte Claire Danes, Meryl Streep, Toni Collete, Vanessa Redgrave, Patrick Wilson, Glenn Close, e Hugh Dancy.
A história de Evening centra-se na existência de Ann Grant Lord (Vanessa Redgrave), uma mulher que recorda o passado deitada na sua cama, quando vive os seus últimos dias. Ao reviver as experiências amorosas da sua juventude (Claire Danes é Ann Grant nos anos 50), a matriarca da família Lord ajuda na resolução dos problemas sentimentais do presente das duas filhas, Constance e Nina. O argumento é assinado por Michael Cunningham (autor de As Horas) e Susan Minot, que adapta o seu próprio best-seller. No meio de tantos blockbusters previstos para este ano, parece que Evening será a proposta mais sentimental para o verão.
Alvy SingerQuando Eddie Murphy era mesmo... Delirante
Em 1982, um jovem saído do Saturday Night Live dava nas vistas ao lado de Nick Nolte, no seu filme de estreia. 48 Horas (Walter Hill), assinalou o início da carreira no cinema deste rapaz que, aos 21 anos, chamava já a atenção pela sua versatilidade, imitação de vozes, pela impulsividade com que descarregava piadas instantaneamente, pela irreverência que transportava do set para a câmara, no fundo, pela capacidade de representação que manobrava em pleno com os papeis que lhe eram oferecidos.
O início dos anos oitenta marcou o seu melhor período, com títulos como Os Ricos e os Pobres (John Landis) e O Caça Polícias (Martin Brest). Três filmes consecutivos que faziam prever uma carreira brilhante. Contudo, o futuro auspicioso não se confirmou, e só em meados dos anos 90 é que Eddie Murphy voltou a cair nas graças do público, que brindou os seus filmes com enormes receitas de bilheteira. Com efeito, não será de estranhar se os trabalhos mais citados actualmente de Eddie Murphy forem talvez O Professor Chanfrado, Dr. Dolittle ou Shrek.
Porém, convém não esquecer as origens deste actor, e as competências originais que proporcionaram a ascensão meteórica de há 25 anos atrás. E é exactamente com o propósito de nos relembrar disso mesmo, que surge agora o DVD de Delirious (1983), um dos mais representativos objectos do tempo em questão, captado num memorável momento televisivo de Stand-Up Comedy. Em Delirious, Murphy oferece-nos quiçá o seu melhor material de sempre, num tour de force incrível, onde ao longo de uma hora somos impressionados pela constante energia e vigor do comediante. Neste espectáculo incluem-se dissertações sobre a sexualidade de Mr. T, a importância de um mero gelado para qualquer criança, racismo, e sobre a sua peculiar família, sobretudo o pai constantemente embriagado. Talvez o maior entrave para o lançamento deste filme tenha sido o acto de abertura, onde o actor brinca descaradamente com os homossexuais, servindo-se da recente aparição da SIDA para presentear os espectadores com algo nunca vista até então. Murphy declarou anos depois arrependimento perante algum material de Delirious, contudo, o constante adiar deste lançamento, que o próprio defendeu, apenas serviu para conferir à obra um estatuto ainda maior de relíquia histórica. Como o VHS ainda pode ser imprescindível para alguns. Diga o que Murphy disser, jamais Delirious deixará de ser aquele instante percebido por todos como a chegada de um jovem talentoso ao estrelato. Algumas piadas não são de digestão fácil, e é totalmente legitimo que Murphy sinta algum remorso por ter escrito material que 25 anos depois não tem um sentido lógico. No entanto, contextualizada, esta hora deveria ser um dos seus maiores motivos de orgulho, ao contrário de algumas das suas recentes comédias, que nos deixam tão perplexos quando olhamos para trás e vemos do que o homem é capaz.
Alvy Singer
sábado, abril 21, 2007
Heroes na TVI
Acostumado às habituais programações de fim-de-semana, onde o formato “Filme a Designar” se encontra banalizado, a motivação para ver as propostas dos canais portugueses para estes dois dias tem vindo a decrescer com o tempo. Não só as reposições abundam, como muitas das vezes a qualidade deixa muito a desejar. Talvez este sentimento seja mais generalizado do que pensávamos, e por essa razão estejamos a verificar hoje uma mudança das apostas televisivas, na medida em que cada vez mais as séries tomam conta das tardes nacionais.
Digo isto depois de confirmar esta tarde aquilo que pela primeira vez tive conhecimento no blog de uma habitual presença por estes lados, a Inêsgens. Parece então que a TVI estreou na passada semana a série Heroes, aquela que tem agarrado os espectadores norte-americanos, granjeado enorme aceitação por parte dos críticos, e que se prepara para varrer os Emmys deste ano. Confesso que a satisfação ao ver este novo panorama televisivo é enorme. Hoje temos à disposição Lost, Prison Break, Ugly Betty, Anatomia de Grey, House, Shark, Donas de Casa Desesperadas, Heroes, Brothers & Sisters, entre outros. É verdade que em alguns casos o horário não é o melhor, mas não sejamos gananciosos para já, e contentemo-nos com a qualidade da oferta. Só é pena que os blogs acabem por fazer mais publicidade a estes produtos, do que as próprias televisões. Se calhar a TVI até anunciou mesmo esta estreia, mas quem é que consegue aguentar 15 minutos de intervalo, só para ver o que pode ou não chegar de novo? A informação em rodapé faz milagres, mas ainda não é suficiente. Para já a série continua esta tarde, e parece que irá para o ar sempre aos sábados à tarde. Esperem aí… essa não é a mesma hora a que a SIC passa Ugly Betty? Coincidências…
Alvy Singersexta-feira, abril 20, 2007
GUIA PSICANALÍTICO DA HISTÓRIA DO CINEMA
Será certamente o documentário sensação e uma marca a não esquecer nesta edição do IndieLisboa 2007. Chama-se The Pervert's Guide to Cinema (de Sophie Fiennes, Grã- Bretanha / Aústria / Holanda, 2006), onde o ensaísta Slavoj Zizek (1949-…) constroi um guia pessoal pela história do cinema. Aplicando como base o pensamento lacaniano e freudiano, no inicio sobre os filmes de Alfred Hitchcock e David Lynch -— dos quais explica praticamente quase toda a obra — Zizek torna os dois cineastas protagonistas de uma história que até parece comum e de proximidade: o cinema como forma artística mais perversa de todas, isto é não nos dá o que deseja-mos, mas diz-nos como desejá-lo. Distantes na história do cinema os dois cineastas tornam-se assim nos protagonistas principais de um percurso que aborda ainda as obras dalguma forma psicológicas como as de Andrey Tarkovsky, Charlie Chaplin, Ingmar Bergman, Michael Haneke, Francis Ford Coppola e os Irmão Marx, entre outros.
Slavoj Zizek é um curioso filósofo, psicanalista, e investigador esloveno, nascido em 1949, que está efectivamente na moda, aliás como Humberto Eco, esteve na década de 80, pois é frequente encontrar também ensaios seus em jornais e revistas de referência. Actualmente Zizek vive entre Buenos Aires, Ljubjana e Nova Iorque, lecciona em universidades norte-americanas e europeias. É vivo, especulativo, provocador, sagaz, e está quase sempre em trânsito. É omnipresente nos grandes centros de discussão e move-se com grande facilidade tanto nos meios académicos, como mediáticos, apesar do seu inglês expressivo macarrónico e ‘sioso’. Se um grande atractivo da sua vida e dos seus livros, se baseia nas suas opiniões sobre os mais diversos temas da actualidade, pela sua descontração, capacidade de comunicação e o prazer de entrar nos momentos de intimidade e quotidiano, em The Pervert's Guide to Cinema o conteúdo é complementado pelo valor das formas e das ideias que cruzam o cinema e a psicánalise. Por isso é um grande guia e um lição de cinema para todos. O documentário é realizado por Sophie Fiennes (irmã de Ralph e Joseph) -— a música incidental está a cargo de Brian Eno — dura quase três horas. Está estruturada em três partes: a primeira, está dedicada a Os Pássaros e a Vertigo- A Mulher Que Viveu Duas Vezes de Alfred Hitchcock, e é sobre a diferença entre a realidade e os desejos; a segunda, é sobre o libido e a terceira é sobre a eficiência das aparências, centrada pprincipalmente na obra de Tarkovsky e Bergman. The Pervert’s Guide to Cinema, prende-nos a atenção pela simplicidade das explicações, embora Slavoj não seja propriamente uma pessoa fácil de seguir no discurso, exactamente pela energia e gestualidade que pôe nos seus diálogos, mesmo apesar da clareza das suas ideias: a propósito de Mullholland Drive, de Lynch fala em frente da cortina vermelha e do microfone de época, onde “cantava” a gloriosa Rebekah del Rio; refere-se ainda O Vigilante, de Francis Ford Copolla e fá-lo no hotel do assassínio ou sobre O Exorcista, no mesmo quarto onde vomita Regan. Sobre Psico, de Hitchcock, vemo-lo sentado na cave da casa de Norman Bates explicando que cada um dos três niveis da casa representam as distintas partes do inconsciente freudiano (id, ego e super ego). E continua mostrando um fragmento de O Grandes Aldrabões, com os Irmãos Marx: é habitual encontrármos referências à psicoanálise corporizadas nas relacões entre pessoas. Por exemplo, os três irmão Marx: Groucho, Chico e Harpo. É claro que Groucho, é o mais popular, pela sua hiperactividade nervosa, é o super ego. Chico, é sempre o tipo racional, egoista, calculista, e é o ego. E o mais estranho dos três, Harpo, o mudo, que não fala -— Freud dizia que os impulsos são silenciosos — por isso é o id. O id em toda a sua ambiguidade radical. Principalmente, o que é estranho na personagem Harpo é que ele é infantilmente inocente, só persegue o prazer, brinca com as crianças e às vezes parece possuído por uma espécie de demónio primordial, pois torna-se agressivo. É esta combinação única entre corrupção total e a inocência que representa o id. Há ainda uma cena marcante no documentário que está de alguma forma ainda relacionado com um dos seus livros: Bem-Vindo ao Deserto do Real e com o filme Matrix dos Irmãos Wachowski. Num excerto de Matrix, vê-se Morfeo a oferecer duas pílulas a um Neo atónito enquanto, o primeiro lhe explica o significado de cada uma. Sentado no mesmo cadeirão onde no excerto Neo mirava atónito - e, curiosamente, com o mesmo cenário em fundo – é Zizek que encara Morfeo dizendo-lhe e a nós, espectadores, o significado das duas pílulas: A escolha entre as duas pílulas, a azul e a vermelha não é realmente uma escolha entre a ilusão e a realidade. Partindo do princípio de que Matrix é uma máquina de ficcões, mas essas são ficcões que já estruturam a nossa realidade: se nos tiram a nossa realidade essas ficcões simbólicas que a regulam, também perderemos a realidade em si mesma. No caso de existir uma terceira pastilha, então que significa essa terceira pílula. Definitivamente não é de todo um tipo de pílula trascendental que permite uma 'falsa experiência religiosa fast food', mas antes uma pastilha que permite perceber não a realidade por detrás da ilusão mas antes a realidade dentro da própria ilusão.
O pensamento de Zizek , ultrapassa claramente a filosofia, a psicanálise, a sociologia e a política. Foi curiosamente candidato à presidência da Eslovénia nas eleiçõe de 1990. É um homem de posições claras e não tolera os relativismos pós-modernos. O seu projecto teórico como diz no documentário, faz coincidir a pulsão de morte freudiana e o idealismo alemão. Como todos os grandes filosofos considera-se um discípulo, principalmente de Lacan e é um revitalizador da obra de Freud que não se resume apenas como ele próprio diz à sexualidade.
José Vieira Mendes
Lista dos títulos (em inglês tirada do site) dos filmes abordados:
Possessed (1934)
Clarence Brown
The Matrix (1999)
Andy and Larry Wachowski
The Birds (1963)
Alfred Hitchcock
Psycho (1960)
Alfred Hitchcock
Duck Soup(1933)
Leo Mc Carey
Monkey Business(1931)
Norman Z McCleod
The Exorcist(1973)
William Friedkin
Testament of Dr Mabuse(1933)
Fritz Lang
Alien(1979)
Ridley Scott
The Great Dictator(1940)
Charles Chaplin
Mulholland Drive(2002)
David Lynch
Alice in Wonderland(1951)
Clyde Geronimi, Wilfred Jackson and Hamilton Luske
The Red Shoes(1948)
Michael Powell
Dr. Strangelove(1963)
Stanley Kubrick
Fight Club(1999)
David Fincher
Dead of Night(1945)
Alberto Cavalcanti
The Conversation(1974)
Francis Ford Coppola
Blue Velvet(1986)
David Lynch
Vertigo(1958)
Alfred Hitchcock
Psycho Theatrical Trailer(1960)
Solaris(1972)
Andrei Tarkovsky
The Piano Teacher(2001)
Michael Haneke
Wild at Heart(1990)
David Lynch
Lost Highway(1996)
David Lynch
Dune(1984)
David Lynch
Persona(1966)
Ingmar Bergman
Eyes Wide Shut(1999)
Stanley Kubrick
Blue(1993)
Krysztof Kieslowski
In the Cut(2003)
Jane Campion
The Wizard of Oz(1939)
Victor Fleming
Frankenstein(1931)
James Whale
10 Commandments(1956)
Cecil B. DeMille
Dogville(2003)
Lars Von Trier
Alien Resurrection(1997)
Jean-Pierre Jeunet
To Catch a Thief(1954)
Alfred Hitchcock
Saboteur(1942)
Alfred Hitchcock
Rear Window(1954)
Alfred Hitchcock
North by Northwest(1959)
Alfred Hitchcock
Stalker(1979)
Andrei Tarkovsky
Kubanskie Kasaki(1949)
Ivan Pyryev
Ivan the Terrible (Part Two)(1945)
Sergei Eisenstein
Pluto's Judgment Day(1935)
David Hand
City Lights(1931)
Charles Chaplin
Lista das obras de Slavoj Zizek, editadas em Portugal, pela Relágio de Água:
- Bem-Vindo ao Deserto do Real
- A Marioneta e o Anão – O Cristianismo entre Perversão e Subversão
- A Subjectividade por Vir – Ensaios Críticos sobre a Voz Obscena
- Elogio da Tolerância
- As Metástases do Gozo – Seis Ensaios sobre a Mulher e a Causalidade
DOT.COM (I) – Luís Galvão Teles
A HISTÓRIA: O sossego da povoação de Águas Altas quebra-se com a chegada de Pedro (João Tempera), um jovem engenheiro que, empenhado na construção de uma estrada para a aldeia, cria um site na Internet – www.aguasaltas.com – apelando à sua realização. No entanto é surpreendido por uma missiva de uma multinacional espanhola, que reivindica os direitos de autor do site. A disputa entre a pequena aldeia e a grande corporação estrangeira arrasta uma enorme tempestade mediática e uma intervenção directa do Primeiro-Ministro português. Está nas mãos dos aldeões gerir uma questão de identidade nacional perante a «invasão» hispânica.
Para além de João Tempera, o elenco de Dot.Com integra também os actores Maria Adanéz, Marco Delgado, Margarida Carpinteiro, Pedro Alpiarça, Adriano Luz, José Eduardo, Isabel Abreu, André Nunes e Rui Luís Brás.
A descoberta de Dornes No artigo sobre Dot.Com publicado na PREMIERE é descrita a forma como Luís Galvão Teles (na foto) descobriu o local para a rodagem do filme. Após uma busca por quase todo o país, o realizador acaba por seleccionar duas aldeias na Beira Alta – Marialva e São Cosmado. Mas, no final de Janeiro de 2006 – dois dias antes do início da rodagem –, Galvão Teles descobre a pequena vila de Dornes, situada numa península banhada pelas águas do rio Zêzere, na albufeira da barragem de Castelo de Bode. Estava encontrada a povoação ideal para a trazer à vida a fictícia aldeia de Águas Altas. O realizador recordou alguns momentos desse primeiro contacto: Vi um cafezinho, aquele que no filme é o café do Osvaldo. As portas estavam abertas, entrei por ali dentro e não vi ninguém. Perguntei: “está aí alguém?” – mas a Dona Domitília [a dona do café, podem conhecê-la aqui] estava na casa de baixo e não me ouviu. A certa altura não resisti e comecei a tirar fotografias. De repente ela aparece e exclama: “Que é que está aqui a fazer!? Quem é que lhe deu autorização para tirar fotografias!? Não me diga que vem roubar!”. Senti que o meu entusiasmo me tinha levado a cometer uma indelicadeza… Hoje temos uma amizade muito grande com a Dona Domitília. Ela abriu-nos as portas, tal como todas as pessoas de Dornes. Nós aqui sentimo-nos em casa. E não houve qualquer espécie de violentação de parte a parte: nem eles nos quiseram aproveitar, nem nós os quisemos aproveitar, pura e simplesmente partilhámos um projecto. Os habitantes de Dornes e das aldeias vizinhas integraram-se no próprio filme como figurantes, mesmo sem experiência de representação.
A personalidade dos “agualtenses” Houve quem visse em Dot.Com apenas a questão da identidade nacional, por um lado um pouco chauvinista de luta contra o estrangeiro, continua Galvão Teles. Mas não é nada disso, neste caso é uma oposição a tudo o que venha de fora e se tente impor. No fundo os habitantes de Águas Altas dizem: “eu não aceito ordens de ninguém”. Uma personagem diz mesmo a certa altura: “nós temos é de pensar pelas nossas cabeças”. É uma homenagem à personalidade própria das pessoas da aldeia, que têm a sua própria maneira de pensar. Podem-se enganar porque são sujeitas a pressões, mas acabam por encontrar a sua verdade própria. E o filme trata muito disso: a verdade própria das pessoas, que cada pessoa tem acerca de algo.
Podem saber mais sobre Dot.Com no seu site oficial e na sua página do YouTube, que contém vários vídeos, tais como o trailer, cenas de bastidores e testemunhos.
Etiquetas: Cinema Português, Dot.Com
Deliverance... Outra vez!
O filme passou na RTP2 no passado dia 10 de Março, às 00h30. Hoje, regressa na RTP, às 01h10. À hora a que este post for colocado faltam apenas trinta minutos para o filme começar, daí que o principal objectivo deste texto não seja convidar novamente os visitantes deste blog a visionarem a obra de John Boorman. Parece-me mais relevante aqui a questão da disponibilidade da estação pública de televisão em repor este filme, num intervalo de mês e meio. Aceita-se esta decisão se Paquete de Oliveira, o provedor do Telespectador, tiver recebido milhares de cartas a pedir uma nova sessão. No entanto, temos sérias dúvidas que seja esse o caso, quando verificamos que em Março o filme passou ao fim da noite de um sábado, e que agora vai para o ar a umas belas horas de quinta-feira. Ficamos a saber que ainda há quem acredite em segundas oportunidades.
Agora, o verdadeiro sentido desta discussão, fazendo fé que o dito provedor acede a este blog, e que leva verdadeiramente em consideração os anseios dos cinéfilos deste país, é colocar uma simples questão a todos aqueles que ainda se recordam do tempo em que o cinema tinha direito a horário nobre. Nos saudosos tempos da Lotação Esgotada…
Assim, imbuído no espírito de Grindhouse, a pergunta não é qual o filme que gostariam de ver nas televisões nacionais. A questão é: Quais os dois filmes que gostariam de ver, em dose dupla, na televisão. Uma espécie de Lotação Esgotada seguida de Última Sessão, para ver no conforto do lar. Dois filmes que não tenham ainda passado no nosso país, Back to Back.
Alvy Singer
quinta-feira, abril 19, 2007
60º FESTIVAL DE CANNES
O ‘maior festival de cinema do Mundo’, que terá lugar de 16 a 27 de Maio, poderá ser acompanhar neste blog a partir de 15 de Maio, com as primeiras impressões do repórter, e depois as novidades em diário. Para já o destaque vai para a participação portuguesa que embora reduzida é mesmo assim significativa e simbólica em termos de importância. Em primeiro lugar, a actriz/ realizadora Maria Medeiros, vai integrar o júri oficial da Competição. O produtor português Paulo Branco, é o responsável por Les Chansons D’Amour, de Christophe Honoré e o realizador João Pedro Rodrigues, vai estar na Selection Atelier 2007 a desenvolver o seu novo projecto Morrer Como um Homem. Eis em síntese a programação geral com excepção para as secções paralelas da Semana da Crítica e da Quinzena dos Realizadores que será anunciada em breve
FILMES EM COMPETIÇÃO
WONG Kar Wai MY BLUEBERRY NIGHTS 1h51 (filme de abertura)
Fatih AKIN AUF DER ANDEREN SEITE (De l’autre côté) 2h02
Catherine BREILLAT UNE VIEILLE MAÎTRESSE 1h50
Joel & Ethan COEN NO COUNTRY FOR OLD MEN 2h02
David FINCHER ZODIAC 2h36
James GRAY WE OWN THE NIGHT 1h45
Christophe HONORÉ LES CHANSONS D’AMOUR 1h40
Naomi KAWASE MOGARI NO MORI (La Forêt de Mogari) 1h37 KIM Ki Duk BREATH 1h20
Emir KUSTURICA PROMISE ME THIS 2h10
LEE Chang-dong SECRET SUNSHINE 2h30
Cristian MUNGIU 4 LUNI, 3 SAPTAMINI SI 2 ZILE 1h53 (4 Mois, 3 semaines et 2 jours)
Raphaël NADJARI TEHILIM 1h45
Carlos REYGADAS STELLET LICHT (Lumière silencieuse) 2h22 Marjane SATRAPI, PERSEPOLIS 1h30
Vincent PARONNAUD
Julian SCHNABEL LE SCAPHANDRE ET LE PAPILLON 1h52 Ulrich SEIDL IMPORT EXPORT 2h16
Alexander SOKOUROV ALEXANDRA 1h32
Quentin TARANTINO DEATH PROOF 1h50
Béla TARR THE MAN FROM LONDON 2h12
Gus VAN SANT PARANOID PARK 1h25
Andrey ZVYAGINTSEV IZGNANIE (The Banishment) 2h30
UN CERTAIN REGARD
Valeria BRUNI-TEDESCHI LE RÊVE DE LA NUIT D’AVANT 1h47 Carmen CASTILLO CALLE SANTA FE 1er Film 2h43 (Rue Santa Fe)
CHUNG Lee Isaac MUNYURANGABO 1er Film 1h37
Lola DOILLON ET TOI T’ES SUR QUI ? 1er Film 1h37
Enrique FERNANDEZ EL BAÑO DEL PAPA 1er Film 1h25 César CHARLONE
Eran KOLIRIN BIKUR HATIZMORET 1er Film 1h30 (La Visite de la Fanfare)
Harmony KORINE MISTER LONELY 1h51
Kadri KÕUSAAR MAGNUS 1er Film 1h26
LI Yang MANG SHAN 1h35
Daniele LUCHETTI MIO FRATELLO È FIGLIO UNICO 1h48 (Mon Frère est Fils Unique)
Cristian NEMESCU CALIFORNIA DREAMIN' (NESFARSIT) 1er Film 2h35 California Dreamin' (Sans Fin)
Jaime ROSALES LA SOLEDAD 2h13
Barbet SCHROEDER L’AVOCAT DE LA TERREUR 2h15
Céline SCIAMMA LES PIEUVRES 1er Film 1h40
Robert THALHEIM AM ENDE KOMMEN TOURISTEN 1h22
Ekachai UEKRONGTHAM KUAILE GONGCHANG 1h25
FORA DA COMPETIÇÃO:
Michael MOORE SICKO 2h
Steven SODERBERGH OCEAN’S THIRTEEN 2h01
Michael WINTERBOTTOM A MIGHTY HEART 1h40
SESSÕES DA 1/2 NOITE : Olivier ASSAYAS BOARDING GATE 1h43 Abel FERRARA GO GO TALES 1h36 Catherine OWENS U2 3D 55’ Mark PELLINGTON Séances spéciales : Leila CONNERS PETERSEN 11 TH HOUR 1er film 1h31 Nadia CONNERS (Le Dernier virage) Ken BURNS, Lynn NOVICK THE WAR 14h50 (La Guerre) Nicolas PHILIBERT RETOUR EN NORMANDIE 1h53 WANG Bing HE FENGMING 3h06 (Chronique d’une femme chinoise)
FILME DO 60º ANIVERSÁRIO: ‘Chacun son cinéma’ com segmentos de Theo Angelopoulos, Olivier Assayas, Bille August, Jane Campion, Youssef Chahine, Chen Kaige, Michael Cimino, Ethan & Joel Coen, David Cronenberg, Jean-Pierre & Luc Dardenne, Manoel De Oliveira, Raymond Depardon, Atom Egoyan, Amos Gitai, Hou Hsiao Hsien, Alejandro Gonzalez Iñarritu, Aki Kaurismaki, Abbas Kiarostami, Takeshi Kitano, Andrei Konchalovsky, Claude Lelouch, Ken Loach, Nanni Moretti, Roman Polanski, Raoul Ruiz, Walter Salles, Elia Suleiman, Tsai Ming Liang, Gus Van Sant, Lars Von Trier, Wim Wenders, Wong Kar Wai, Zhang Yimou.
HOMENAGENS DO 60º ANIVERSÁRIO : Jane BIRKIN BOXES 1h40 Claude LELOUCH ROMAN DE GARE 1h45 Ermanno OLMI CENTOCHIODI 1h30 Volker SCHLÖNDORFF ULZHAN 1h45 Cannes Classics – Documentaires sur le cinéma : Anne-Marie FAUX MAURICE PIALAT, L’AMOUR EXISTE 1h25 Jean-Pierre DEVILLERS Mimi FREEDMAN, Leslie GREIF BRANDO. 2h45 Mike KAPLAN LINDSAY ANDERSON, NEVER APOLOGIZE 1h30 Todd McCARTHY PIERRE RISSIENT 1h45
CURTAS METRAGENS EM COMPETIÇÃO Mark ALBISTON RUN Nouvelle-Zélande 15’ Tim Thaddeus CAHILL THE OATE’S VALOR Etats-Unis 14’ Antonio CAMPOS THE LAST 15 Etats-Unis 15’ Anthony CHEN AH MA Singapour 14’ (Grandma) Olivier HEMS RÉSISTANCE AUX TREMBLEMENTS France 15’ Grzegorz JONKAJTYS ARK Pologne 8’ Elisa MILLER VER LLOVER Mexique 13’ Kyros PAPAVASSILIOU TO ONOMA TOU SPOURGITIOU Chypre 15’ (Le Nom du Moineau) Erik ROSENLUND SPEGELBARN Suède 5’ (Looking Glass) Marco VAN GEFFEN HET ZUSJE Pays-Bas 9’ (My Sister) YANG Hae-hoon MY DEAR ROSSETA Corée du Sud 10’
CINÉFONDATION Mickael KUMMER ADITI SINGH 45’ Le Fresnoy, France Gonzalo TOBAL AHORA TODOS PARECEN CONTENTOS 25’ Universidad del Cine, Argentine Efrat COREM BERACHEL BITHA HAKTANA 34’ Sapir Academic College, Israël (Your Younger Daughter Rachel) Raka DUTTA CHINESE WHISPERS 28’ Satyajit Ray Film & Television Institute, Inde Joseph TUCKER FOR THE LOVE OF GOD 11’ NFTS, Royaume-Uni Joanna JUREWICZ GOYTA 16’ NYU, Etats-Unis Nicolas WACKERBARTH HALBE STUNDEN 20’ DFFB, Allemagne Pavle VUCKOVIC MINUS 16’ Fakultet Dramskih Umetnosti, Serbie Hagar BEN-ASHER MISH’OLIM 19’ Minshar School, Israël (Pathways) Alexander KUGEL NEOSTOROZHNOST 13’ VGIK, Russie (Imprudence) HONG sung-hoon A REUNION 20’ KAFA, Corée du Sud Marja MIKKONEN RONDO 8’ Finnish Academy of Fine Arts, Finlande CHEN Tao RU DAO 28’ Beijing Film Academy, Chine (Way Out) Thereza MENEZES & Gregorio GRAZIOSI SABA 15’ FAAP University, Brésil Alexander KU TRIPLE 8 PALACE 30’ NYU, Etats-Unis Luca GOVERNATORI VITA DI GIACOMO 31’ La fémis, France
terça-feira, abril 17, 2007
Mais um... Focker
Apesar de em alguns sites já se poder ler sobre ela, a noticia não deixa de ser recente. Pelo menos Alvy Singer admite que foi apanhado de surpresa esta noite, quando se deparou com a existência de um terceiro filme de Ben Stiller como Greg Focker, a caminho. O filme chamar-se-á Meet the Little Focker, e parece que um petiz será a estrela da companhia. A excelência da primeira parte continua a dar frutos.
Alvy Singer
Qual dos dois o melhor?
Com muito menos pompa e circunstância do que outros lançamentos (sem o “faltam apenas 10 dias!”), chegou esta semana às lojas o DVD de um dos melhores filmes do último ano, mas que só em Janeiro estreou nas salas nacionais. The Prestige – O Terceiro Passo é definitivamente um título a adquirir, e para todos aqueles que ainda não tiveram oportunidade de ver a última obra assinada por Christoper Nolan, não hesitem. Este é daqueles que vale mesmo cada cêntimo.
No entanto, o principal propósito deste post é alertar para outro lançamento ainda mais tímido. O filme passou um pouco lado do público português, facto a que a pobre distribuição do mesmo não é alheia. Contudo, ele chega agora numa edição simples, é verdade, mas a um preço razoavelmente atractivo. Esta é uma das maiores preciosidades do último ano, que não deve passar despercebida novamente.
Dois belos filmes que representam alguns dos mais apaixonantes elementos que o cinema tem para oferecer.
Alvy Singersegunda-feira, abril 16, 2007
17 - American Gangster
Os sinais são bons. Tem gangsters, armas, tráfico de drogas, polícias corruptos, e uma mão cheia de indivíduos que não conhecem o conceito “jogar pelo seguro”.
Baseado numa história verídica, Crowe desempenha o papel do detective Richie Roberts, o chefe de uma unidade especial cujo único objectivo é limpar as ruas de Nova Iorque, e liquidar uma nova ameaça de traficantes. Washington é Frank Lucas, o maior traficante de heroína de Harlem e um homem que abraçou o espírito empreendedor com zelo religioso.
Esta é uma perseguição gato-rato do mais alto nível. Dois homens com personalidades distintas, cujo único ponto em comum é a obsessão pela concretização dos seus propósitos. Ambos têm defeitos, e os seus mundos entrarão em conflito. Um apaixonado e violento, mas correcto polícia, e um traficante com uma vida estabilizada, família e casa, e um produto da mais refinada qualidade, capaz de matar qualquer um.
O filme teve para ser realizado por Terry George, com Don Cheadle e Joaquin Phoenix nos principais papéis. Antoine Fuqua, com Washington e Del Toro também foi uma hipótese. Mas Brian Grazer, o produtor do filme, não podia ter ficado mais contente com o resultado final: “É como ter os melhores jogadores de ténis do mundo”. Esqueceu-se foi de dizer que ter Scott como árbitro também não deve ser nada mau.
Um ano depois de The Departed – Entre Inimigos, talvez esta não seja a melhor altura para o filme surgir. Esperamos que as pegadas deixadas pela obra de Scorsese não sejam demasiado fundas, e que American Gangster não desapareça sem deixar rasto.
Alvy Singer
Etiquetas: American Gangster, Denzel Washington, Ridley Scott, Russell Crowe
O Atirador
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: Estou.
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: Estou. Quem fala?
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: Ah, então tudo bem?
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: A passear. Não, fala.
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: Estou de folga, a passear.
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: De folga.
Do outro lado:…
Espectador no meio da sala: Está bem. Telefona-me logo.
Importa reter que nunca foi feita qualquer referência ao facto de do lado de cá se estar a assistir a um filme, pelo que apenas podemos atribuir a celeridade do término da conversa aos ruidosos “Chiu!Chiu!” que a outra pessoa deve ter ouvido do outro lado. Mais, o telefonema podia ter ocorrido em qualquer altura dos cerca de 30 minutos do filme que estão destinados a tiroteios, mas não. Aconteceu precisamente durante a conversa de Bob Lee Swagger com outro importante personagem quando este lhe dá conhecer as motivações por detrás da conspiração. Perdeu-se qualquer discernimento para trazer aqui uma espécie de critica a este bom filme de acção. Resta apenas dizer que após o visionamento do filme compreendem-se as comparações com outro actor do género. Algures, já não estou certo onde, vinha escrita a frase “Wahlberg caminha para ser o próximo Bruce Willis”. Não nos confundamos. O filme é bom, mas nem O Atirador é O Assalto ao Arranha-Céus, nem Bruce Willis é Mark Whalberg.
Ah, e para que não restem dúvidas, o senhor dos óculos de sol era o mesmo que atendeu o telemóvel.
Alvy Singer
Este eles não mudam
Depois de vários exemplos da capacidade criativa por detrás das traduções dos títulos dos filmes que chegam a Portugal, eis que nos chega um com um trailer sugestivo, e uma história deveras peculiar, cujo infeliz titulo, em minha opinião, não sofre qualquer alteração.
Estou em crer que não faltaram ideias às inventivas mentes que decidiram atribuir as sentenciais expressões Sonhos Vencidos, O Amor é um Lugar Estranho, ou Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, e que, neste caso em particular, somente por alguma extrema obrigatoriedade não lhes foi possível dar largas à imaginação. Isto porque as palavras sangue e chocolate despertam emoções tão ambivalentes, que proferi-las tão próximas uma da outra pode levantar algumas dúvidas. Dificilmente as tenhamos visto já reunidas na mesma frase. Quanto mais no mesmo título dum filme.
“Lobos em Fúria”, “Alcateia Adormecida” ou “O Uivo do Amor”, tantas eram as opções. Parece que algumas regras têm de ser respeitadas, e não podemos responsabilizar os tradutores pela tradução ou não-tradução de um título. São os departamentos comerciais que determinam os nomes. E aqui estava uma óptima oportunidade para criar algo novo. Era o título ideal para mostrar serviço. Mas não. Em Portugal o filme terá mesmo o nome de… Sangue e Chocolate. Devemos sentir-nos repugnados ou com guloseima?
Alvy Singerdomingo, abril 15, 2007
Eles estão a chegar
Ao fim de dezoito anos de prime-time na televisão norte-americana, aquela que foi já definida como a família mais famosa do mundo, tem finalmente o seu The Movie. Um episódio alargado, dirão alguns. Uma nova fonte de receita, dirão outros. Entretenimento garantido, esperamos todos. São Os Simpsons, afinal de contas.
Ao longo de dezoito anos temos acarinhado este disfuncional agregado familiar, e deixado que ele entre em nossas casas para, de uma forma incrivelmente sarcástica, nos dar a conhecer as transformações que a humanidade tem sofrido desde 1989. A única coisa que permanece inalterável neste mundo em constante mutação é a pequena cidade de Springfield, e todos aqueles seres amarelos que nela habitam. A vida dos pacatos Springfieldianos perdurará sempre estável, aconteça o que acontecer, na cidade lá em baixo, no fundo daquela colina onde sobressai uma central nuclear, sempre sob um céu azul com algumas nuvens e possibilidade de aguaceiros.
Ainda não sabemos como é que o filme começará. Será um pouco estranho se o genérico habitual não o acompanhar, e se na introdução não surgir nenhuma frase escrita desta maneira.
Aqui estão todas as que o menino traquina escreveu até à oitava série. “I’m not a dentist”, “High explosives and school don’t mix”, “I will finish what I sta” e “I will not teach others to fly”, são algumas destas pérolas, cuja lista completa pode ser encontrada neste arquivo completo.
Alvy Singersexta-feira, abril 13, 2007
18 - Atonement
Uma história sobre culpa e redenção que nos chega pela mesma equipa criativa por detrás de Orgulho e Preconceito. Não chega para abrir o apetite? Muito bem. Keira Knightley desempenha o principal papel nesta adaptação do célebre romance de Ian McEwan, e o cada vez mais falado James McAvoy tem também uma parte substancial do enredo a seu cargo. Ainda não? Talvez uma pequena alusão ao conto seja o que falta para convencer os mais cépticos. Nesta história, que tem início no verão de 1935, Briony Tallis (Romola Garai), uma jovem de apenas 13 anos, observa um jogo de sedução entre um filho de um criado, Robbie (McAvoy), e a sua irmã mais velha, Cecília (Knightley). Porém, este acontecimento é mal interpretado, e as consequências que dele advém serão catastróficas. Um horrendo crime terá lugar, e todos atravessarão a II Guerra Mundial com duras feridas que tardam em sarar. O trailer traz algumas luzes.
O filme será lançado em Agosto, e desta forma poderá estar bem posicionado para fazer uma boa impressão antes dos restantes títulos que vêm lá mais para o fim do ano. A Focus (Brokeback Mountain, O Fiel Jardineiro, Despertar da Mente) habituo-nos à produção de filmes de qualidade, e após um ano de 2006 menos positivo, espera-se que em 2007 a produtora regresse em força com um ou dois filmes desenhados para os galardões cinematográficos. McAvoy tem aqui o seu segundo filme na lista dos 25. E atenção a Keira, pois da última vez que a menina participou num filme de época, recebeu uma justíssima nomeação.
Alvy Singerquinta-feira, abril 12, 2007
Shakespeare contra o Reino Unido
Curioso. Um inquérito recentemente realizado no Reino Unido demonstra que 21% do público britânico considera que Shakespeare in Love foi um injusto vencedor do Oscar para Melhor Filme. Repito, público britânico. Ao receber tantos pareceres negativos por parte daqueles que responderam ao inquérito, este foi mesmo o filme mais votado para vencedor mais impróprio. No seguimento da análise feita à obra, 28% acha que Gwyneth Paltrow não devia ter ganho o de Melhor Actriz (o seu discurso também continua a não ser muito bem visto), assim como 12% admite que o trabalho de Judi Dench não foi suficiente para merecer o de Melhor Actriz Secundária.
Confesso que nesse já longínquo ano de 1998 o meu favorito também era outro, contudo, assim de repente, lembro-me de outros vencedores talvez mais injustos. Agora, se em cada sala existir um espectador como este é mesmo impossível que os restantes espectadores gostem do filme. É que isto mata literalmente qualquer visionamento.
Alvy Singer
quarta-feira, abril 11, 2007
19 - My Blueberry Nights
Este é um filme pelo qual já se espera com alguma ansiedade. Qualquer coisa aqui diz-nos que esta poderá ser a verdadeira surpresa do ano, e que este bem poderá ser o feel-good movie que anualmente reúne os aplausos da crítica e do público.
Talvez por a estreia estar marcada para Cannes (será provavelmente exibido como filme de abertura do Festival), ainda não existe qualquer trailer disponível na net (equaciona-se seriamente uma ida a Cannes propositadamente para assistir à estreia). Contudo, sabemos que o filme tratará sobre uma jovem rapariga (Norah Jones) que parte numa viagem pela América com o objectivo de resolver algumas questões amorosas que teimam em perturba-la. Pelo caminho encontrará uma série de personagens invulgares que influenciarão o resultado que espera obter quando chegar ao destino.
Tudo aponta para que o filme seja em grande parte uma comédia romântica. Para além do mais, a cantora Norah Jones, sem qualquer trabalho como actriz no currículo, encabeça o elenco. Mas ao olharmos para o elenco (Jude Law, Ed Harris, e Rachel Weisz), algo transmite a ideia de que podemos estar perante uma obra especial. Os irmãos Weinstein estarem por trás deste projecto também deve ser algo que não devemos descurar. Porém, talvez o maior atractivo de todos seja mesmo o facto do realizador ser Kar Wai Wong (2046), que aqui se estreia num filme de língua inglesa. E se Jennifer Hudson, que o máximo que tinha conseguido era passar algumas eliminatórias de American Idol, lá ganhou um Oscar, o que esperar de Norah Jones, que vende milhões de discos em todo o mundo?
Alvy SingerA minha vida dava um filme
Era uma questão de tempo. Depois da poeira assentar, e das polémicas em torno da sua morte e do nascimento da sua última filha estarem agora em banho-maria, era mais do que esperado o anúncio de um biopic sobre Anna Nicole Smith. O filme captará o essencial da vida de Anna Nicole desde os seus 17 anos até à data da sua morte, em Fevereiro deste ano, quando contava apenas 39. A actriz já está escolhida, e será a cantora Willa Ford, cuja única experiência como actriz é um episódio da série Raising Dad, com Bob Saget… Procurando não tecer qualquer comentário sobre Anna Nicole enquanto ser humano direi apenas que, aparentemente, existe aqui muito sumo para transformar isto tudo num material interessante. No entanto, este não será um caminho fácil de percorrer, e este é claramente um daqueles projectos cuja linha que separa o enorme sucesso do falhanço completo é demasiado ténue. Talvez escolher uma desconhecida do grande público para o principal papel seja o primeiro trunfo. Alguém com uma sugestão mais original para encarnar Anna Nicole Smith?
Alvy SingerGrave Danger ou Perigo a Sete Palmos
Este é outro lançamento ao qual não podemos passar ao lado. Sim, isto é a exploração do potencial comercial de uma série, no seu melhor. Contudo, e curiosamente, isto é bem capaz de ser também a dita série no seu melhor. Falamos aqui de C.S.I., e do badalado final da quinta temporada, Grave Danger, assinado por um fã incondicional das técnicas utilizadas pela equipa de Gil Grissom, na resolução dos mais complicados casos de homicídio, na cidade de Las Vegas. Este admirador confesso é Quentin Tarantino, e aquilo que o cineasta nos dá neste duplo episódio, colocado à venda com o nome Perigo a Sete Palmos (era escusado…), e separadamente dos restantes capítulos, é uma extraordinária demonstração de afecto perante um produto televisivo, no qual investiu todos os meios à disposição, e as suas reconhecidas qualidades de realizador, para criar um dos episódios mais memoráveis de uma série que vai já na sua oitava temporada. O ranking dos melhores no csiguide.com evidencia isso mesmo, e nós concordamos. Muitos poderão dizer que isto é um exagero, e que um lançamento deste género é totalmente descabido. Até poderá ser. Mas quantas vezes é que nós vemos um realizador deste calibre atrás das câmaras num episódio de uma série com esta qualidade? O resultado é brilhante e, ainda para mais, fê-lo por duas vezes.
Alvy Singer
Caixa Russ Meyer - Vixens
Pena que o inigualável Faster, Pussycat! Kill! Kill! (em português, Rápido, Pussycat! Mata! Mata!), não esteja presente nesta caixa, o que seria ouro sobre azul. De qualquer forma, seria impensável não assinalar aqui o lançamento da Trilogia Vixens, a enigmática série do realizador Russ Meyer.
Poucas serão as colecções que permitem uma análise aprofundada da filosofia que atravessa os filmes, enquanto permitem igualmente um estudo mais superficial, onde apenas recorrendo a questões meramente estéticas podemos estabelecer um padrão. Meyer atinge este patamar quando nos oferece obras cinematográficas visualmente diferentes de tudo o que havia sido feito até então e, ao mesmo tempo, sobre uma temática vanguardista para a época, como o domínio do sexo feminino. Sem qualquer restrição no que tocava a mostrar o peito das actrizes dotadas que recrutava, o realizador assina nesta colecção Vixens um dos primeiros movimentos de afirmação feminista na história do cinema, e aquele que, sem dúvida, melhor recorreu a componentes de ordem cómica e sexual. É verdade que tudo é feito de forma muito rude, brutal, e breve, porém, a harmonia de todos os elementos que à partida podíamos considerar incompatíveis, não só resulta na perfeição, como se mantém tremendamente actual.
Alvy Singer20 - Away From Her
Sabe sempre bem saudar o regresso de um ícone da sétima arte às luzes da ribalta. Aqueles que primeiro nos fizeram vibrar em frente ao ecrã, são aqueles pelos quais guardamos as melhores recordações. Neste grupo, o daqueles que são sempre bem-vindos à tela, inclui-se obviamente o nome de Julie Christie (Doutor Jivago, A Noite Fez-se Para Amar, Aquele Inverno em Veneza).
Com Away From Her, Julie Christie perfila-se como uma série candidata a tudo o que for cerimónia de prémios, no próximo ano. É claro que isto não passa de um prognóstico prematuro, no entanto, a história de uma mulher, casada há 40 anos, e que em conjunto com o marido enfrenta a Doença de Alzheimer, parece talhada para grandes resultados.
Depois de diagnosticado e aceite o estado de doença, Fiona (Christie) é internada num lar de cuidados especializados e, pela primeira vez em 40 anos, afastada do seu marido durante um período em que as visitas não são permitidas. Quando Grant (Gordon Pinsent) finalmente visita Fiona, a desolação é total, pois não só ela não se recorda dele, como transferiu o seu afecto para um outro homem, Aubrey (Michael Murphy), também ele um paciente. À medida que a distância ente marido e mulher aumenta, Grant terá que se apoiar no sentimento outrora de união, de modo a permitir a felicidade de Fiona, apesar do manifesto auto-sacrifico.
Será esta uma agradável surpresa? Assim esperamos.
Alvy Singer